EXPEDIENTE DO SITE
Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Com informações da Contraf-CUT
A delegação de bancários do Santander participou nesta sexta-feira (22) do Encontro Nacional dos Funcionários do banco, realizado em São Paulo.
O encontro teve como pauta a análise da conjuntura econômica, a avaliação dos dados e do desempenho do banco, e o balanço das negociações que resultaram no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) específico, com validade até 31 de agosto de 2026.
“É importante relembrar e destacar as conquistas sociais e econômicas obtidas na Campanha Nacional 2024, que constam no ACT específico do Santander e garantem direitos a todos os trabalhadores do banco até o próximo ano”, destacou Wanessa de Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander.
O diretor do Sindicato dos Bancários do Rio e também representante da COE, Marcos Vicente, reforçou a importância da mobilização:
“No encontro, debatemos as ações de mobilização já realizadas nas bases das federações e as que ainda precisam ser construídas. Enfrentar as mudanças do mundo do trabalho com as novas tecnologias é um grande desafio, e só teremos êxito se os bancários se associarem ao sindicato e participarem das atividades”, afirmou.
O primeiro painel contou com a presença da economista Vivian Machado, técnica do Dieese, que fez uma análise econômica a partir dos dados do próprio banco.
Na conjuntura nacional, destacou o crescimento do PIB brasileiro em 3,4% em 2024 e a melhoria nos indicadores de emprego, com a menor taxa de desocupação e o maior rendimento médio da série histórica.
Apesar dos bons indicadores, Vivian chamou atenção para a taxa de juros (Selic), que chegou a 15%, mesmo com uma inflação acumulada de 5,35% em 12 meses (junho de 2025). “Com isso, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de juros reais, atingindo o maior nível desde 2006”, alertou.
O cenário de juros elevados também contribuiu para o crescimento do endividamento: 78,4% das famílias brasileiras estavam endividadas em junho de 2025.
O Santander registrou, no primeiro semestre de 2025, o maior lucro trimestral e semestral de sua história, com ganhos de 6,8 bilhões de euros no mundo. A unidade brasileira é a segunda maior responsável por esse resultado, atrás apenas da matriz na Espanha. O Brasil gerou 996 milhões de euros em lucro, equivalente a 14,6% do total global.
No entanto, o número de agências físicas continua a cair. Em 2025, o banco reduziu suas unidades globais de 2.446 para 1.888. No Brasil, o fechamento foi mais agressivo: 558 agências encerradas, contra 109 na Espanha.
O lucro no Brasil também foi expressivo: R$ 7,52 bilhões no primeiro semestre, um crescimento de 18,4% em relação ao mesmo período de 2024. A margem financeira com clientes subiu 11,3%, impulsionando os resultados.
Vivian destacou que a digitalização foi um dos principais motores desse crescimento. “As interações com o chatbot aumentaram 2,4 vezes, o que elevou as vendas em lojas em 33% e reduziu os gastos em 24% nessas mesmas unidades”, explicou.
Com isso, o banco alcançou o melhor índice de eficiência entre os bancos privados, de 36,8%.
Ela apontou ainda a mudança de modelo: “O Santander passou de banco para loja; o gerente virou especialista; e a receita, comissão”.
Apesar do aumento no número de trabalhadores (de 47.819 em 2019 para 55.646 em 2024, um crescimento de 16,4%), os gastos com pessoal caíram 4,1%, e a despesa média por trabalhador recuou 17,6%.
A economista explicou: “A ampliação do número de empregados ocorre fora das agências e da categoria bancária tradicional. O Santander está transferindo seus trabalhadores para empresas coligadas e controladas.” Atualmente, o banco participa de 20 empresas, todas fora do ramo financeiro. Só no primeiro semestre de 2025, essas empresas geraram R$ 3,7 bilhões em lucros.
A transferência de trabalhadores para empresas terceirizadas ou coligadas tem graves impactos, segundo Vivian: Para os trabalhadores gerou precarização, menor remuneração, fragmentação da categoria e práticas antissindicais. Para a sociedade trouxe menor arrecadação de tributos (IR, FGTS, INSS), impacto negativo no consumo local e enfraquecimento da economia.
O segundo painel contou com a presença do cientista político e professor da Faculdade 28 de Agosto, Moisés Marques, que fez uma análise da conjuntura internacional e dos impactos da IA no sistema financeiro. Entre os pontos destacados por ele estão: mudança do papel da China no mundo; estagflação nos EUA; crise das instituições globais pós-Segunda Guerra; transição demográfica e mudanças climáticas; avanço acelerado da Inteligência Artificial e riscos com uma possível nova gestão Trump nos EUA
No cenário nacional, Marques avaliou que o país vive um bom momento, com crescimento acima do esperado e melhora nos índices de aprovação do governo.
“Temos a melhor taxa de emprego dos últimos anos, mas seguimos com juros altos e com uma Câmara que dificulta avanços importantes para o País”, afirmou.
Crescimento das fintechs
Ele também destacou a redução drástica no número de bancos e o crescimento das fintechs. “Hoje são 1.481 instituições com cerca de 100 mil funcionários. São empresas que atuam como bancos, mas sem ser. Altamente tecnológicas e com poucos trabalhadores.”
O professor apresentou pesquisas que apontam os objetivos dos bancos com a IA: reestruturação dos serviços; redução de custos; otimização da gestão de riscos e substituição de postos de trabalho
“Precisamos refletir sobre os riscos e as questões éticas do uso da IA nos bancos”, alertou.
Moisés Marques sugeriu ações para o movimento sindical, tais como: atentar-se às conexões entre crises globais e impactos domésticos; conscientizar a sociedade sobre os efeitos da transformação digital no setor bancário; observar o perfil dos profissionais contratados e os modelos de contratação; promover capacitação para lidar com IA e novas tecnologias; denunciar práticas abusivas e conluios do mercado e participar das consultas públicas sobre regulação do sistema financeiro
“É papel do movimento sindical ser pedagógico com a população e os clientes. O banco do futuro já chegou, e precisamos lutar para que ele não destrua empregos e direitos”, concluiu.