História

A criação do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e as conquistas históricas da categoria – retrospectiva das décadas de 30, 40 e 50.

As medidas políticas e policiais desencadeadas a partir do golpe de 1964, como as intervenções nos sindicatos, prisões de dirigentes e ativistas, cassações e perseguições dos que se opunham ao regime militar implantado, objetivavam, ao mesmo tempo, conter os movimentos sociais que pressionavam por mudanças no modelo de desenvolvimento dependente e abrir caminho para uma nova correlação de forças entre as frações do capital, onde o segmento ligado às finanças assumiria um papel preponderante.

O Sindicato dos Bancários do Rio foi um dos primeiros a sofrer intervenção, com seus dirigentes cassados e alguns detidos menos de um mês após o golpe militar.

A primeira Junta Governativa foi instituída pela portaria 250, de 23 de abril de 1964, nos termos do artigo 528 da CLT. Pesquisando no Livro de Atas e Termos de Posse daquele período, encontramos esta “pérola”

Aos 28 dias de abril de 1964, relata [o interventor] as condições da sede (Av. Presidente Vargas, 502, 21º e 22º andares) como sendo:

  1. Aspecto geral normal;
  2. Existem mesas abertas à chave e outras também abertas, mas revelando terem sido levemente violentadas;
  3. Apesar do bom aspecto, verifica-se certo desalinho com relação a papeis e diversas publicações;
  4. Há mesas ainda fechadas, inclusive os cofres, que se encontram lacrados pelo DOPS

Note-se que, apesar de todo o cuidado com a utilização das palavras para descrever o estado em que se encontrava a sede do Sindicato após a ocupação policial, o senhor interventor não consegue disfarçar o grau de violência empregado. Em seu curto registro, reproduz elementos do discurso, doravante dominante, que empresta um sentido nebuloso ao termo “normalidade”: o de véu que servirá para encobrir as violências e desmandos da ditadura que se instalara. E não é outro o objetivo pelo qual utiliza termos como “levemente violentadas” e “certo desalinho” para descrever as gavetas arrombadas, os papéis e publicações espalhados e destruídos e os cofres lacrados pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão de repressão que, mais tarde, entraria “pela porta dos fundos da história” como principal centro de torturas do Regime. Diante do resultado da ação policial contra diretores, funcionários e o patrimônio do Sindicato, relata como sendo o “aspecto geral normal”. E é este discurso da “normalidade” que estará, ao longo dos subsequentes vinte anos, ligado à consecução do objetivo de calar qualquer reação às medidas adotadas a partir do Golpe de Estado.

Já na primeira lista publicada de cassados pelo golpe, constam os nomes de alguns dos dirigentes bancários:

ATO Nº 1, SUSPENDE DIREITOS POLÍTICOS

O Comando Supremo da Revolução resolve, nos termos do art. 10 do Ato Institucional, de 9 de abril de 1964, suspender, pelo prazo de dez anos, os direitos políticos dos seguintes cidadãos:

1. Luiz Carlos Prestes; 2. João Belchior Marques Goulart; 3. Janio da Silva Quadros; 4.Miguel Arrais de Alencar 5. Darci Ribeiro; 6. Raul Riff; 7. Waldir Pires; 8. Gen. R/1 Luiz Gonzaga de Oliveira Leite; 9. Gen. R/1 Sampson da Nobrega Sampaio; 10. Leonel de Moura Brizola; 11. Clodsmith Riani; 12. Clodomir Moraes; 13. Hercules Correa dos Reis; 14. Dante Pelacani; 15. Oswaldo Pacheco da Silva; 16. Samuel Wainer; 17. Santos Vahlis; 18. Lincoln Cordeiro Oest; 19. Heber Maranhão; 20. José Campelo Filho; 21.Desembargador Osm Duarte Pereira; 22. Ministro José de Aguiar Dias; 23. Francisco Mangabeira; 24. Jesus Soares Pereira; 25. Hugo Regis dos Reis; 26. Jairo José Farias; 27. José Jofily; 28. Celso Furtado; 29. Marechal R/1 Osvino Ferreira Alves; 30. Josué de Castro; 31. João Pinheiro Neto; 32. Antonio Garcia Filho; 33. Djalma Maranhão; 34. Huberto Menezes Pinheiro; 35. Ubaldino Santos; 36. Raphael Martinelli; 37. Raimundo Castelo de Souza; 38. Rubens Pinho Teixeira; 39. Felipe Ramos Rodrigues; 40. Alvaro Ventura; 41. Antonio Pereira Netto; 42. João Batista Gomes; 43. Ademar Latrilha; 44. Feliciano Honorato Wanderley; 45. Othon Canedo Lopes; 46. Paulo de Santana; 47. Luiz Hugo Guimarães; 48. Luiz Viegas da Mota Lima; 49. Severino Schnaipp; 50. Meçando Rachid; 51. Newton Oliveira; 52. Demistóclides Baptista; 53. Roberto Morena; 54. Benedicto Cerqueira; 55. Humberto Melo Bastos; 56. Hermes Caíres de Brito; 57. Aluisio Palhano Pedreira Ferreira; 58. Salvador Romano Lossaco; 59. Olympio Fernandes de Mello; 60. Waldir Gomes dos Santos; 61. Amauri Silva; 62. Almino Monteiro Alvares Afonso; 63. José Guimarães Neiva Moreira; 64. Clovis Ferro Costa; 65. Silvio Leopoldo de Macambira Braga; 66. Adahil Barreto Cavalcante; 67. Abelardo de Araujo Jurema; 68. Arthur Lima Cavalcante; 69. Francisco Julião; 70. José Lamartine Távora; 71. Murilo Costa Rego; 72. Pelopidas Silveira; 73. Barros Barreto; 74. Waldemar Alves; 75. Henrique Cordeiro Oest; 76. Fernando de Sant’Ana; 77. Helio Vitor Ramos; 78. João Doria; 79. Mario Soares Lima; 80. Ramon de Oliveira Netto; 81. Luiz Fernando Bocayuva Cunha; 82. Luiz Gonzaga de Paiva Muniz; 83. Adão Pereira Nunes; 84. Eloy Angelo Coutinho Dutra; 85. Marco Antonio; 86. Max da Costa Santos; 87. Roland Cavalcante Albaquerque Corbisier; 88. Sergio Nunes de Magalhães Junior; 89. José Aparecido de Oliveira; 90. Plinio Soares de Arruda Sampaio; 91. José Antonio Rogé Ferreira; 92. Rubens Paiva; 93. Paulo de Tarso Santos; 94. Moysés Lupion; 95. Milton Garcia Dutra; 96. Ney Ortiz Borges; 97. Paulo Mincaroni; 98. Armando Temperani Pereira; 99. Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo; 100. José Anselmo dos Santos.

Rio de Janeiro, GB, 10 de abril de 1964.

Arthur da Costa e Silva, General-de-Exército

Francisco de Assis Correia de Mello, Tenente-Brigadeiro.

Augusto Hamann Rademaker Grunewald, Vice-Almirante.

Fonte: http://www.acervoditadura.rs.gov.br/legislacao_10.htm(sem grifos no original).

Mas o que representavam esses bancários que os levou a integrar a primeira lista de desafetos do Regime em companhia de figuras nacionais de peso histórico como Luiz Carlos Prestes, João Goulart, Jânio Quadros, Miguel Arrais, Leonel Brizola e outros tantos? Recuperar um pouco da história dos bancários e do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, serve como elemento fundamental para situar também um pouco da historia das lutas dos trabalhadores brasileiros.

Década de 30 – Da Fundação ao Estado Novo

Associação dos Funcionários de Bancos do Rio de Janeiro, fundada em 05 de novembro de 1929, é transformada, em 17 de janeiro de 1930, em Federação dos Bancários do Brasil, com sede na Avenida Rio Branco, 151. Na época, o Rio de Janeiro era a capital da República. O objetivo era estimular a organização da categoria em todos os estados e reunir os bancários em uma única entidade nacional. No mesmo ano surgiu também a publicação Bancário que, a partir daí, sob a forma de jornal, de revista ou apenas páginas soltas, durante intervenções (sendo, entre 1958 e 1964, o órgão nacional dos bancários), e circula até os dias atuais.

Mas é a partir da nova Lei de Sindicalização decretada pelo governo federal em março de 1931, que os bancários do Rio e de São Paulo vão solicitar o reconhecimento oficial de suas entidades associativas, sendo substituída a denominação de Federação pela de Sindicato Brasileiro de Bancários, mantendo, no entanto, o objetivo inicial de representar a categoria nacionalmente.  

As bandeiras de luta da categoria são: caixa de aposentadorias e pensões; salário mínimo profissional; jornada de 6 horas e fiscalização do trabalho. O horário de trabalho do bancário era das 7h30 às 18h30 (centro e zona urbana) e das 7h às 19h30 (zonas suburbana e rural).

No primeiro ano de existência oficial, o sindicato contava com 1480 sindicalizados, o que representava quase a metade dos trabalhadores em bancos no Rio de Janeiro. E em 1933, o jovem Sindicato Brasileiro dos Bancários, liderando uma campanha nacional pelo “horário higiênico”, desenvolve seu trabalho em três frentes: ao mesmo tempo que mobiliza a categoria nacionalmente, articula as negociações banco a banco com a pressão sobre o governo federal.

Apoiados ainda em fortes argumentos e pareceres médicos que mostravam que a categoria era vítima de várias doenças, como tuberculose e neurose, os bancários têm sua primeira vitória: pressionado pela ameaça de greve da categoria, o governo federal assina o Decreto-lei 23.322, fixando a jornada de trabalho da categoria em 6 horas diárias, com 36 horas semanais, pois o bancário trabalhava também aos sábados e a extinção do trabalho aos sábados só seria conquistada nos anos 60.  

No ano seguinte o Sindicato deflagra, a 6 de julho, a primeira greve dos bancários. A palavra de ordem era “Bancário, ocupa teu posto”. Deflagrada no dia 6 de julho de 1934, a greve dura dois dias, parando os bancários de quase todas as capitais do país. E nova vitória é conquistada: além de uma estabilidade aos dois anos de trabalho, no dia 9 de julho o governo assina o decreto 24.615 criando o IAPB - Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários. O sindicato lutou muito para garantir que bancários dirigissem o IAPB, que se tornaria um exemplo de administração de pensões, aposentadorias e assistência médica, sendo extinto em 1966 pela ditadura que se impôs após o golpe de 64.

Pois, além das campanhas de caráter corporativo, o Sindicato atua nas lutas pela unidade e participação dos trabalhadores nos rumos do país, organizando a Confederação Sindical Unitária do Brasil, que foi dirigida pelo bancário Spenser Bittencourt. Com todas as dificuldades do momento, a Confederação lidera a luta pela instituição do Salário Mínimo, negociando com o governo, pressionando os políticos, organizando atos e paralisações por todo o país.

A partir de 1935, aumentou a repressão policial sobre os trabalhadores. Intervenções em sindicatos, prisões e espancamento de trabalhadores, deportações e até assassinato de lideranças se tornam parte do dia-a dia. Em julho daquele ano, nosso sindicato foi invadido pela polícia e todos foram presos.

Destaca-se neste episódio a participação de uma bancária, Maria Francisca Moura, a primeira mulher diretora do sindicato, que se apresentou para ir presa em troca da liberação dos funcionários detidos.

Aproveitando o clima de terror implantado pelo governo, alguns bancários ligados ao movimento Integralista, versão brasileira do fascismo em ascensão na Europa, que haviam perdido a eleição para direção do sindicato no ano anterior, formam uma junta governativa para o sindicato. Recebem imediatamente apoio do governo e dos banqueiros, que elogiam a junta e apoiam sua atuação.

Com um discurso anticomunista, que pregava a despolitização do sindicato e o incremento do assistencialismo, em apenas um ano de gestão o número de sindicalizados passou de 2.597 sócios, em 1935, para 1.882, em 1936. Uma queda de quase 28%.

Na primeira eleição, em 1937, a oposição formada por bancários de esquerda, comunistas e independentes, vence por esmagadora maioria, retomando o sindicato para a categoria. São retomadas as bandeiras de luta da categoria, mas a conjuntura ainda não era favorável e, em novembro daquele ano, Getúlio Vargas, com um golpe de estado, implantou o que seria conhecido como o Estado Novo.

Ainda em 4 de abril de 1935, como resposta ao avanço da oposição. capitaneada pela Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) (na clandestinidade entre 1930 e 1935), foi aprovada a lei de segurança nacional, ue dava legalidade à perseguição política. Em 1 de março do mesmo ano, foi fundada a Aliança Nacional Libertadora (ALN) e Prestes foi o presidente de honra. O clima tenso e de grande mobilização se radicalizou após o levante de 35. O Sindicato dos Bancários participava dessa conjuntura.

Uma nova constituição foi decretada, abolindo os partidos políticos e fechando o Congresso Nacional. A oposição foi duramente perseguida e a repressão sobre os trabalhadores intensificada, com as reuniões sindicais dependendo de autorização da polícia política, que coloca agentes dentro das entidades.

Em 1939, nova lei regulamentando os sindicatos coloca mais restrições à ação sindical. A direção do sindicato, mesmo sob as novas condições restritivas impostas, procurou manter o sindicato aberto à categoria, que respondeu retomando o nível de sindicalização, que passou dos 1.882 para 2.409 associados em 1939. Lutou também por manter a representação dos bancários do Banco do Brasil (BB) que, de acordo com o artigo 50 da nova lei, perderiam o direito de sindicalização. Esta luta também foi vitoriosa, consolidando em 1941, no novo estatuto de enquadramento, a manutenção da representação dos bancários do BB pelo sindicato.

Década de 40 – O sindicato e as mobilizações da sociedade civil

O nome do sindicato mudaria novamente, desta vez por força de outra legislação sindical federal, em 8 de maio de 1941, quando o Sindicato Brasileiro de Bancários passa a se chamar Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Distrito Federal.

Pressionado por manifestações da população, revoltada com o torpedeamento de navios brasileiros, e pelo governo dos Estados Unidos, em 1942 Getúlio Vargas rompe relações com as nações do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e liquida os bancos “Germânico”, “Alemão Transatlântico” e “Francês e Italiano para a América do Sul”. O Sindicato intervém em defesa do emprego dos bancários dos chamados "bancos do Eixo". Justificando tratar-se de trabalhadores, propõe a garantia do emprego. Através de comissão criada no Sindicato, é feita, por sorteio, a distribuição dos funcionários daquelas instituições para bancos e empresas que oferecem vagas.

O Brasil declara guerra aos países do Eixo em 1943. Por pressão popular é criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), à qual se incorporam muitos bancários. O Sindicato cria a Comissão de Ajuda ao Bancário Convocado, para recolher contribuições (agasalhos, comestíveis, cigarros) destinadas aos pracinhas bancários. Torna-se muito importante a figura do "padrinho" ou "madrinha", que "adota" um bancário expedicionário e mantém com ele correspondência, além do compromisso de apoiá-lo caso retorne da guerra com seqüelas.

Com a relativa abertura democrática, é eleita nova diretoria do Sindicato. Tem início a campanha por salário profissional e quadros de carreira, antiga reivindicação desde a década de 30, agora tendo como paradigma o funcionalismo do Banco do Brasil, embora em valores mais modestos. Pela primeira vez, é introduzida nas campanhas reivindicatórias a apresentação de dados estatísticos (salários e lucros) elaborados pelo Sindicato.

A época é de intensa mobilização da sociedade civil. São lançadas as campanhas pela anistia política e pela convocação de Assembleia Nacional Constituinte. O Sindicato participa de ambas, organizando grandes assembleias.

Após prolongadas negociações com os banqueiros, mediadas pelo Ministério do Trabalho, em 1946 os bancários deflagram em todo o país greve por salário profissional e quadro de carreira. São 19 dias de paralisação total, com intensa atividade de rua e grande apoio da classe trabalhadora, da sociedade e da Assembleia Constituinte. A categoria constitui um fundo de greve: as bancárias se reúnem na frente do Sindicato com vasilhas de leite para recolher as contribuições. E os bancários fazem a coleta "vestidos" de cartazes com palavras de ordem. São os "homens-sanduíche", conjugando divulgação da luta e arrecadação de dinheiro.

É negociado o fim da greve com garantia no emprego e pagamento dos dias parados, aumento geral de 300 cruzeiros (para a maioria dos bancários de bancos particulares representou até 100% de reajuste) e o compromisso do governo de convocar uma comissão paritária para prosseguir os estudos sobre salário profissional e quadro de carreira.

Em 1939, nova lei regulamentando os sindicatos coloca mais restrições à ação sindical. A direção do sindicato, mesmo sob as novas condições restritivas impostas, procurou manter o sindicato aberto à categoria, que respondeu retomando o nível de sindicalização, que passou dos 1.882 para 2.409 associados em 1939. Lutou também por manter a representação dos bancários do Banco do Brasil (BB) que, de acordo com o artigo 50 da nova lei, perderiam o direito de sindicalização. Esta luta também foi vitoriosa, consolidando em 1941, no novo estatuto de enquadramento, a manutenção da representação dos bancários do BB pelo sindicato.

O presidente da república, General Eurico Gaspar Dutra, desencadeia uma das mais fortes repressões ao movimento sindical. Dissolve com extrema violência a greve dos trabalhadores do grupo Light (luz, gás, telefone, esgoto e carris urbanos). Intervém no Sindicato dos Bancários e na quase totalidade dos sindicatos de trabalhadores em todo o país. Dirigentes sindicais e lideranças nos diversos bancos são presos e demitidos. O presidente do Sindicato, Antonio Luciano Bacellar Couto, e o secretário-geral, Olympio Fernandes Mello, funcionários do Banco do Brasil, são transferidos, respectivamente para Maceió e Penedo. O Estado de Alagoas é governado por Silvestre Péricles de Góes Monteiro. Truculento e arbitrário, Góes Monteiro anuncia sua intenção de matar todos os comunistas.

Dezenas de bancários assinam um manifesto em solidariedade aos dois sindicalistas. Todos são presos.

Com os recursos de um dia do aumento do acordo salarial, é adquirida na planta, a sede social da Avenida Presidente Vargas, 502 - 21º e 22º andares.

No período entre 1947 e 49, sucedem-se as intervenções no Sindicato, com juntas integradas por bancários ou por funcionários do Ministério do Trabalho.

Década de 50 – a afirmação de uma hegemonia

O V Congresso Nacional dos Bancários, reunido em 1953 na cidade de São Paulo, aprovou a constituição da Comissão Permanente Nacional dos Bancários, sob a presidência do Sindicato do Rio de Janeiro. É o embrião da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (Contec). A diretoria do Sindicato do Rio, em virtude de portaria do Ministério do Trabalho, resolveu dissolver a Comissão. O Congresso aprovou o Dia Nacional do Bancário, em 28 de agosto, como homenagem à heroica greve paulista de 69 dias.

O presidente da República, Getúlio Vargas, suicida-se em agosto de 1954.

Realiza-se eleição no Sindicato e a oposição vence. O Ministério do Trabalho retarda a homologação da eleição e não autoriza a posse da chapa vencedora.

Findo o mandato e diante da ameaça de intervenção, foi convocada assembleia geral, que elege uma Junta Governativa Provisória, com a missão de dar posse à diretoria eleita. A junta foi constituída por um representante de cada chapa que havia concorrido às eleições, sob a presidência de Aluízio Palhano, da Unidade Democrática.

A nova diretoria foi empossada em 1955. O Sindicato viveu um período de ampla mobilização. Inicia-se uma campanha de sindicalização, que dobra o número de sindicalizados, atingindo cerca de 80% da categoria.

A campanha salarial atraiu milhares de bancários às assembleias. A pauta de reivindicações da campanha salarial inclui o restabelecimento, através de projeto de lei, da aposentadoria ordinária (tempo de serviço) que fora suspensa; a extinção do trabalho aos sábados; e a redução na jornada de trabalho do pessoal de portaria para seis horas.

É adquirida a sede campestre de Jacarepaguá (em 10 de novembro de 1956), inaugurada em 17 de fevereiro de 1957.

Em cumprimento às deliberações do VI Congresso, são organizadas várias federações de bancários, entre as quais a Federação dos Bancários do Distrito Federal e dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, que foi oficialmente reconhecida em 21 de maio de 1958 e teve como primeiro presidente Luiz Viégas da Motta Lima.

A Câmara dos Deputados regulamenta o direito de greve, considerando "lícitas as de natureza econômica, incluindo-se as simbólicas e as de solidariedade". Impõe, entretanto, aviso prévio de 48 horas à empresa.

De 21 a 27 de abril do mesmo ano de 1958 foi realizado, em Belo Horizonte, o VII Congresso Nacional dos Bancários. O vice-presidente da República, João Goulart, compareceu à sessão de encerramento.

Vitórias do VII Congresso: reconquista da aposentadoria ordinária (tempo de serviço) pela Lei 3.322; nomeação dos delegados regionais do IAPB eleitos pelos bancários; ganhos no IAPB, inclusive com aplicação exclusiva de seu patrimônio no interesse da classe; e reemprego para os bancários de bancos liquidados extrajudicialmente.

Em julho foi criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (Contec), que passou a dirigir as lutas nacionais da categoria. Foi a primeira confederação organizada por trabalhadores e não por decreto governamental. Tanto a Federação DF/RJ/ES quanto a Contec funcionaram em salas cedidas pelo Sindicato do Rio, até a regularização do processo de financiamento das duas instituições.

Em dezembro foi eleita a nova diretoria do Sindicato, encabeçada por Aluízio Palhano. Em 17 de agosto, solenidade comemora o reconhecimento da Contec, com a presença do vice-presidente João Goulart.

A ação sindical na década de 1960 – tensão social e repressão política

O início da década de 1960 será fortemente marcado pelo crescimento das lutas de massas e por uma consequente politização destas lutas. Com inflação ascendente e salários comprimidos, os trabalhadores entraram em cena disputando também mudanças no modelo de desenvolvimento, que se materializavam na luta pelas Reformas de Base. Em seu depoimento, Edmílson Martins, bancário católico militante que teve atuação de destaque nos anos 60 e 70, destaca como os elementos culturais e conjunturais influenciaram na formação de várias lideranças daquele período.

Os bancários, que vinham organizando suas entidades regionais (Federações) e nacional (Contec) desde o final da década de 1950, acumularam grande respeito entre os demais trabalhadores e na sociedade, por suas ações políticas e de solidariedade. Várias lideranças bancárias participavam das organizações intersindicais regionais e nacionais, assim como de fóruns tripartite, com destacada atuação dos bancários cariocas que, além dessa atuação de cunho mais político, se empenhavam em fortalecer o Sindicato junto à categoria, construindo uma organização de base, centrada nas comissões por banco, e investindo numa estrutura que aproximasse o Sindicato dos locais de trabalho e moradia. Dentro dessa diretriz, o Sindicato de Bancários, em 23 de fevereiro de 1960, inaugurou sua 1ª delegacia, no bairro de Madureira (a segunda será a de Campo Grande, em 24 de março de 1962), ao mesmo tempo em que participou da organização da I Convenção Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito, de 24 a 28 de março do mesmo ano, que contou com a participação das entidades sindicais dos bancários e dos securitários de todo o país.

A organização das mulheres também requeria a atenção do Sindicato, que investia em vários cursos voltados para as bancárias e para as esposas e filhas dos bancários, segundo o jornal Bancário desse período.

As atividades eram coordenadas pelo Departamento Feminino, que tinha como bandeira de luta exigir dos bancos a criação de creches regionais. Já no início de 1961, articuladas com outros sindicatos de trabalhadores, as bancárias organizaram uma grande passeata e ocuparam a Avenida Rio Branco, com seus filhos em carrinhos de bebês. Os bancários, como destaca o Bancário de março daquele ano, se uniram a elas na mobilização.

Nos anos 60, as bancárias tiveram expressiva atuação também nas greves, como na de 1961, quando organizam piquetes só de mulheres, distribuem refeições aos grevistas, discutem com a sociedade as reivindicações e participam das passeatas. Na assembleia que decidiu o fim da greve, as bancárias receberam flores de seus colegas, em reconhecimento pela firmeza, simpatia e apoio.

Com a transferência da capital para Brasília, o antigo Distrito Federal torna-se Estado da Guanabara As consequências políticas, econômicas e sociais dessa mudança também serão sentidas ao logo da década, a até posteriormente, pelo esvaziamento relativo do papel que a cidade representava no contexto nacional.

Mas a dimensão da importância política do Sindicato pode ser comprovada em situações como a da realização, de 8 a 13 de Maio, da II Convenção Nacional de Bancários e Securitários, no Rio de Janeiro, que se encerrou com um almoço no Saps (Serviço de Alimentação da Previdência Social) da Praça da Bandeira, ao qual compareceram várias autoridades, dentre elas o vice-presidente João Goulart.

A II Convenção Nacional definiu uma campanha centrada nos seguintes eixos: fim do trabalho aos sábados, estabilidade aos dois anos de serviço e repúdio à possibilidade de retorno da jornada de oito horas de trabalho, cogitada pelos banqueiros. O ano de 1961 seria marcado pela crise política devido à renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961. Setores da direita tentam impedir a posse do vice-presidente João Goulart, que só se viabilizaria em setembro. O Sindicato participou ativamente da organização da resistência ao golpe liderado por setores conservadores que já se articulavam por uma solução de força como resposta à crescente mobilização política do movimento de massas.

É neste contexto que será organizada a greve nacional de nove dias, de 18 a 26 de outubro, por reajuste de salários, considerada a maior e mais importante paralisação da categoria desde a fundação do Sindicato até aquela data.

Num quadro de inflação ascendente, que se agravara desde o final da década anterior, a questão salarial seria central. Dados do jornal Bancário dão conta de que a grande maioria da categoria recebia, em termos líquidos, menos de um salário mínimo da época. Como o salário de um trocador de ônibus era de quinze mil cruzeiros, o que correspondia à remuneração de um chefe de seção dos bancos, o Bancário publicou uma foto onde um grupo de bancários mostra, ironicamente, um cartaz com a palavra de ordem pela “Paridade com os Trocadores de Ônibus”.

No Rio, cerca de 15 mil bancários participam de assembleia de 17 de outubro, no salão do Automóvel Clube do Brasil.

Decretam a greve e fazem passeata na Avenida Rio Branco, desde a Rua do Passeio até a sede do Sindicato.

A paralisação se alastrou pelo país ganhando, dia-a-dia, a adesão de toda a categoria. Registrou-se, também, a solidariedade de outros trabalhadores brasileiros e de bancários da Venezuela, do Paraguai e dos Estados Unidos. Ganhou também o apoio dos sindicatos de marítimos, estivadores, portuários, ferroviários, aeronautas e aeroviários. É histórica a participação dos ferroviários da Leopoldina, que aderiram à passeata dos bancários carregando uma faixa que resume a união dos trabalhadores: “Aviso dos ferroviários da Leopoldina: que ninguém toque nos bancários”.

Quanto ao comando da greve, que era constituído pela direção do Sindicato, da Federação e da Contec, dirigia o movimento, encaminhava as negociações e elaborava os comunicados. Todos os dias eram realizadas reuniões de avaliação com os comandantes de piquetes, as Comissões de Salários e as Comissões Sindicais, que analisavam a situação, preparavam as assembleias e demais atividades da greve. A própria preparação anterior à greve foi amplamente debatida com as Comissões Sindicais, de forma que, antes da eclosão do movimento, já se tinha uma avaliação realista de quais bancos e em que percentual se processaria a adesão da categoria.

As três grandes greves da categoria realizadas entre 1961 e 1963, que resultaram em conquistas históricas como o salário profissional, o anuênio e as comissões de função, por seu caráter geral e nacional, seguiam uma lógica que exigia também um comando com capacidade de organização e articulação nacionais.

Segundo vários depoimentos que coletamos, os piquetes funcionavam também como espaço de discussão política entre os bancários e a própria população, não só das questões eminentemente sindicais, mas serviam também para o trabalho de arregimentação de novas lideranças.

A greve foi vitoriosa e os bancários atingiram o maior índice de sindicalização do país: 90% da categoria.

Entre as conquistas estão o anuênio, aumento geral de 40% com mínimo de 7 mil cruzeiros, salário profissional, gratificação de função, pagamento integral dos dias parados e instituição da data-base em 1º de setembro - um marco na história dos trabalhadores, abrindo caminho para outras categorias conquistarem sua data base. É também aprovada em assembleia a contribuição de um dia de salário para pagamento das despesas da campanha e realização da Festa da Vitória.

Neste mesmo ano, surge a Comissão Permanente da Organização Sindical, que reúne bancários, têxteis, gráficos e marceneiros. Um exemplo para os outros estados na busca pela unificação dos trabalhadores de várias categorias.

Depois de muita pressão, em 19 de dezembro, a portaria 67/61 do Tribunal de Justiça extingue o trabalho aos sábados, com compensação de meia hora nos demais dias da semana. Mas a luta pela extinção do trabalho aos sábados continua, pois nem todos os bancos respeitam a portaria. E em 21 de agosto de 1962, um acordo com os banqueiros extingue o trabalho aos sábados.

Em 30 de janeiro, o presidente João Goulart autoriza o IAPB a comprar o Hospital dos Bancários - que seria inaugurado em 15 de dezembro de 1962 – que é hoje o Hospital da Lagoa.

A 6 de dezembro é deflagrada greve nacional dos bancários, por 24 horas, contra o projeto de reforma bancária conservadora; pelo pagamento do 13º salário e pela equiparação dos bancos oficiais mineiros ao BB. Na Guanabara, a greve parou todos os bancos.

A Contec lança o decálogo de princípios da reforma bancária progressista, que norteou o projeto de lei apresentado na Câmara pelo deputado federal Salvador Romano Lossaco, sindicalista bancário de São Paulo, um dos incluídos na primeira lista de cassações em 1964. É tão avançado que, 20 anos depois, foi utilizado pela Confederação Nacional dos Bancários (CNB) no projeto de reforma do sistema financeiro.

A partir das lições tiradas das greves de 1961 e 1962, em 1963 são instituídas as "grevilhas", ou “greve bossa nova”, que eram paralisações sequenciais de 24 horas por grupos de bancos. Na pauta, reajuste salarial, pagamento do 13º salário e cumprimento da extinção do trabalho aos sábados, que alguns bancos ainda insistiam em ignorar. Esta tática levava em conta a absorção dos processos de paralisação geral da categoria por parte dos bancos que, inclusive, barganhavam compensações do governo após as greves.

A tática das “grevilhas” só era possível pela articulação de um comando central com visão estratégica nacional e uma organização de base, as comissões sindicais por banco, com grande capilaridade e fortemente enraizadas. Exemplo disso, após uma semana de movimento os banqueiros cederam, o reajuste foi efetivado e as demais cláusulas atendidas e os bancários organizaram um fundo para pagar os dias de greve que seriam descontados dos funcionários do Banco Mercantil de São Paulo, numa demonstração de unidade e solidariedade.

Inicia o ano de 1964. Os bancários junto com outras categorias, através da Comissão Permanente de Organização Sindical (CPOS), organizam o histórico comício de 13 de março de 1964, na Central do Brasil, para acelerar as reformas de base do presidente João Goulart. Cerca de 200 mil pessoas comparecem.

Em 1º de abril, os militares depõem o governo João Goulart, impondo o fechamento dos sindicatos, prisão, destituição e demissão das principais lideranças em todo o país. O Sindicato é invadido pelos militares e interventores assumem a diretoria e tentam convocar uma assembleia, no auditório do Automóvel Clube, para aprovar a proposta salarial dos banqueiros. Os bancários compareceram em massa e Humberto Campbel, presidente cassado do Sindicato, propôs a destituição dos interventores da direção dos trabalhos. Os interventores recorreram à ação policial e um choque da Polícia Militar invadiu o Automóvel Clube e dispersou a assembleia.

A violência do golpe de 64 afastou do movimento sindical várias lideranças importantes. Dentre os bancários cariocas, todas as lideranças históricas da categoria foram impedidas de atuar no Sindicato. Mas, mesmo sob a repressão, o movimento continuou sendo encaminhado, agora com pesadas restrições, pelas lideranças intermediárias formadas na ação sindical, nas comissões sindicais por banco, nos piquetes e nos grupos políticos.

Entre as primeiras medidas tomadas pelo novo regime estavam a Reforma Bancária, a Reforma do Mercado de Capitais e pelo Programa de Ação Econômica do Governo – PAEG (1964/66), que se constituiriam nas bases para o desenvolvimento do sistema financeiro nacional como conhecemos hoje.

Com o aumento do controle das instituições financeiras públicas e privadas pelo Estado, os governos militares passaram a desenvolver políticas de estímulo à poupança interna, com a institucionalização da correção monetária na remuneração de aplicações, a criação do mercado de títulos públicos federais e a captação de poupança pública como base do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), além de criar uma série de regulamentações e normas que estimularam a concentração e oligopolização dos bancos, favorecendo francamente a fração de classe ligada ao setor financeiro.

Para desenvolver sua política de combate à inflação via arrocho salarial, implantaram os reajustes salariais por decreto e a repressão e intervenção nas entidades de classe. Entre 1966 e 1969 houve uma série de manifestações e ações contra o regime, como o protesto dos intelectuais contra a Lei de Imprensa, em São Paulo, e a Passeata dos Cem Mil, organizada pelo movimento estudantil no Rio. Apesar de todas as restrições impostas pela ditadura, em 1967 o Sindicato retoma sua trajetória. Funda a Cooperativa Habitacional dos Bancários, participa ativamente da II Conferência Nacional de Dirigentes Sindicais contra as leis de arrocho salarial e integra-se à campanha contra o arrocho salarial, que ganha o nome de Movimento Intersindical Antiarrocho (MIA), e vai às ruas coletar assinaturas de apoio.

Quanto às greves, a repressão e a legislação restritiva reduziram muito a utilização desse recurso pelos trabalhadores. Somaram-se a esses fatores a obrigatoriedade da adoção dos índices oficiais de reajustes salariais e a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em substituição ao regime que garantia, ao trabalhador que completasse dez anos numa mesma empresa, uma relativa estabilidade no emprego.

Para os bancários, particularmente, a criação do FGTS significou a perda de uma de suas conquistas mais caras, o IAPB. Fruto da vitoriosa primeira greve da categoria, realizada em 1934, o IAPB, além da garantia de serviços de alta qualidade, tinha um significado político e cultural, de afirmação e pertencimento. O fim da estabilidade relativa funcionou também como fator facilitador da política de alta rotatividade amplamente utilizada pelos bancos, reduzindo os custos com a força de trabalho e ampliando a concentração de renda no setor, além de ser mais um dificultador da manutenção das comissões sindicais por empresa.

Assim, greves como a dos metalúrgicos de Osasco, que foi duramente reprimida pelo governo, e as paralisações dos bancários de Belo Horizonte, Curitiba e Fortaleza, todas no ano de 1968, vieram confirmar esta desalentadora regra. Os bancários do Rio não paralisariam naquele ano, com exceção dos funcionários do Credireal que fizeram uma greve de 24 horas em repúdio à atitude da direção do banco, que levou um bancário endividado a suicidar-se dentro do gabinete do diretor que lhe negou um pedido de empréstimo.

Neste mesmo ano, o jornal Bancário publica a Declaração de São Paulo, redigida no Encontro Nacional de Bancários, que é um libelo contra a política econômico da ditadura. E o Departamento Feminino do Sindicato organiza o I Encontro da Mulher Bancária, em Friburgo, com a participação de bancárias dos estados da Guanabara, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Em dezembro de 1968, o presidente da República, General Arthur da Costa e Silva, promulga o Ato Institucional nº 5, que extingue direitos e liberdades da sociedade civil.

A partir da decretação do AI5, dezenas de bancários são presos, muitos no próprio local de trabalho. Cem dirigentes sindicais, entre os quais três bancários, são cassados. O sindicalista José Toledo de Oliveira é preso durante o expediente de trabalho no Credireal. Submetido a torturas, passa dois anos na prisão da Ilha das Flores, enquanto responde a processo na Justiça Militar. É absolvido, deixa o banco e parte para o Araguaia, onde se une à guerrilha rural e é morto pelos militares.

No final dos anos 60, o repasse para a rede bancária dos serviços de arrecadação de impostos e taxas e de cobranças para empresas públicas e privadas, crescem a quantidade de serviços prestados à população e as operações realizadas nas agências. As mudanças no processo de trabalho bancário e no perfil dos bancos, que reforçam o atendimento nas agências, onde grande parte dos funcionários passa a especializar-se na venda de papéis e serviços diversos, é acompanhada pelo crescimento do número de mulheres na categoria, alocadas principalmente no atendimento ao público.

A concentração do capital financeiro e a ampliação do papel das instituições financeiras, parte integrante das políticas adotadas pelo modelo econômico do pós-64, contribuíram para o chamado “milagre econômico”, fortemente lastreado no endividamento externo e na política de investimentos do Estado em grandes obras, o que gerou os elevados índices de crescimento da economia registrados no início da década de 1970.

A partir da constituição dos Centros de Processamentos de Dados (CPDs), em meados dos anos 60, o processo de automação ganhou nova dimensão, possibilitando novas formas de organização e controle do trabalho bancário e criando condições para a introdução das novas tecnologias de automação dos serviços. Várias tarefas antes realizadas nas próprias agências passaram a ser centralizadas, possibilitando a concentração do poder decisório de todo o conglomerado e, ao mesmo tempo, criando novos espaços de concentração de trabalhadores, fator que, na década seguinte, alteraria as condições de mobilização e organização da categoria.

3.3) O apogeu e a crise da ditadura militar na década de 70 – as perdas e a retomada das lutas sindicais.

Este período é fortemente marcado pelo recrudescimento da repressão aos movimentos sociais e às organizações políticas que optaram pela luta armada contra o regime. Em 1971, Aluízio Palhano, duas vezes presidente do Sindicato (1959-1961 e 1961-1963); presidente da Contec (1963-1964) e primeiro vice-presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), é morto sob tortura no Doi-Codi de São Paulo. Cassado pelo golpe de 1964 e demitido do Banco do Brasil, exilou-se no México e em Cuba, de onde, em 1970, retornou clandestinamente ao país. Preso em 1971 pela acusação de participação na luta armada, seu corpo nunca foi encontrado, constando seu nome entre os presos políticos “desaparecidos” durante o regime militar. Em carta enviada à família antes de seu regresso ao Brasil, Palhano escreve que sua atuação “por humilde e insignificante que seja, ajudou a construir o amanhã de milhões de pessoas”. E conclui: “E os meus filhos receberão com esse exemplo a melhor herança que se pode desejar”.

Recentemente, a ossada de Palhano, encontrada misturada a dezenas de outras numa vala comum do cemitério de Perus, em São Paulo, foi finalmente identificada. A família pode, enfim, enterra-lo junto aos seus.

Apesar da repressão e das dificuldades impostas pelo afastamento de vários dirigentes, as lideranças bancárias continuaram se articulando eos bancários elegeram, com ampla maioria, a chapa liderada por Edmilson Martins de Oliveira para o mandato de 1971 a 1974. A nova diretoria é empossada em dezembro, mas vários diretores são impugnados pelo Ministério do Trabalho.

Quatro meses depois, em 17 de abril de 1972, a diretoria eleita é destituída e processada. O Sindicato é invadido por policiais e sofre nova intervenção. O presidente e vários diretores são presos e ficam 46 dias na prisão.

Após o período de expansão registrado entre 1967 – 1973, a economia nacional entra num novo período de desaceleração. Além dos problemas relativos ao modelo de desenvolvimento adotado internamente, as condições apresentadas pela economia mundial afetaram negativamente a economia brasileira, que perdeu seu dinamismo, marcando assim o fim do período do chamado “milagre econômico”.

O final da década de 1970 traria elementos que, ao se desenvolverem, marcariam a década seguinte. Na base destes elementos está a crise do modelo econômico implantado com o golpe de 64, que se agrava com o fim do chamado “milagre econômico”, gerando divisões no bloco dominante e a tentativa, por parte do governo militar, de operar um processo de abertura do regime de forma ‘lenta e gradual’. Dentro desta perspectiva e premida pelo novo ascenso do movimento de massas, que tem como centro as lutas contra a ditadura e a política salarial de arrocho implementada pelo governo, entre os anos de 1978 e 1979, são decretados o fim do AI5, a Anistia Política e a reorganização dos partidos políticos.

Entram em cena também novas lideranças que traçarão um novo quadro de disputas e alianças em torno de projetos políticos distintos, resgatando elementos da cultura sindical pré-1964 e, ao mesmo tempo, estabelecendo rupturas com esse passado, dado os novos elementos de ordem política, econômica e social.

A campanha pelo auxílio refeição, que ficou conhecida como campanha pelo “Panelão”, em 1978, pode ser considerada como um marco no sentido de demarcar este novo contexto. Pressionada por uma conjuntura em que vários setores da sociedade se rearticulavam, com o partido de oposição, o MDB, alcançando votações expressivas, o movimento das associações de bairros e favelas se estruturando, o movimento estudantil se reorganizando, assim como as lutas pela anistia, que se realizaria, de forma ainda que parcial, em 1979, a direção do Sindicato dos Bancários, formada ainda por elementos comprometidos com a intervenção do início da década, iniciou mais uma campanha salarial dentro dos padrões da formalidade que marcou as campanhas daquele período.

Mas, logo nas primeiras assembleias, que passaram a ser mais concorridas, com a oposição disputando encaminhamentos, acompanhando as negociações com os banqueiros e interferindo na linha dos boletins do Sindicato, a diretoria percebeu que essa campanha não seria como as outras. As disputas nas assembleias da “Campanha do Panelão” vão marcar definitivamente a nova faze do Sindicato dos bancários. O resultado da campanha é superior ao esperado pela diretoria do Sindicato, sobretudo pelo reajuste no anuênio e pela conquista do auxílio alimentação que, por uma manobra dos banqueiros, que “interpretaram” a redação da cláusula e reduziram o valor do benefício, passou a ser chamado pela categoria como “auxílio cafezinho”, só mais tarde sendo efetivamente corrigido.

Mas essa campanha teve como desdobramento o lançamento de um forte movimento de oposição, com o surgimento de lideranças que protagonizarão os acontecimentos desta nova fase.

Em 1978, duas eleições seguidas são anuladas. Na primeira, concorrem duas chapas, sendo uma formada basicamente pela direção do sindicato, composta por elementos ligados ao Delegado do Trabalho, Luís Carlos de Brito, e outra apoiada por todos os grupos políticos da oposição e encabeçada por Ivan Pinheiro. A oposição denunciou várias irregularidades no processo eleitoral e recorreu à Justiça Federal que, numa decisão que já prenunciava as contradições no aparelho de Estado numa conjuntura de transição, anulou o pleito e mandou convocar novas eleições.

Nesta segunda eleição, um setor da oposição, , rompe com a chapa encabeçada por Ivan Pinheiro e lança uma terceira chapa. Como fosse claro o predomínio da oposição durante a campanha eleitoral, que se confirmou nas urnas com a vitória da chapa encabeçada por Ivan Pinheiro, esta segunda eleição, sob alegação de irregularidades, é também anulada pela DRT, demonstrando como ainda eram tênues os marcos que limitavam o processo de transição.

Pela terceira vez, já em 1979, repete-se o processo eleitoral, mantendo as três chapas a mesma formação do pleito anterior. De um total de 16 mil votantes (o quórum exigido era de 13 mil), a chapa número 2, encabeçada por Pinheiro, alcançou 8.412 votos, ficando em segundo lugar a também oposicionista chapa 3.

A vitória de uma chapa de oposição no Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro teve uma repercussão nacional, sinalizando que o controle exercido pelo regime militar sobre os sindicatos estava esbarrando em limites cada vez mais estreitos. A posse da diretoria eleita se constituiu num ato de significado político nacional, com a presença de dirigentes sindicais de várias categorias de trabalhadores de todo o país, além de políticos de oposição ao regime e um relativo destaque na imprensa.

O significado político da posse de 1979 era também por representar uma retomada da trajetória histórica da categoria interrompida com o golpe de 1964.

Neste mesmo momento, no bojo da reforma partidária, surgiram outros partidos de esquerda com forte militância no movimento sindical, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT), que sob a liderança de Leonel Brizola, teria importante peso no Rio de Janeiro.

Logo após a retomada do Sindicato, os bancários enfrentam sua primeira campanha salarial num quadro de greves que se generalizavam nacionalmente. Apesar de a Lei de Segurança Nacional proibir a realização de greves, as assembleias contam com a participação de milhares de bancários e a direção do movimento trabalha no sentido de preparar a paralisação. Na assembleia de deflagração da greve por reajuste de 50% mais CR$3 mil, a categoria lota a Galeria dos Empregados do Comércio. A Avenida Rio Branco fica tomada de bancários, que acompanham a assembléia através de caixas de som instaladas nas janelas.

Apesar do desgaste do modelo econômico e das dissensões cada vez mais acentuadas no bloco dominante, com setores pressionando por mudanças nas diretrizes implantadas a partir de 1964 e por abertura no campo político, o aparato repressivo ainda agia na perspectiva de garantir a manutenção do controle sobre os movimentos sociais, agora numa conjuntura menos favorável para o regime, que se via obrigado a repactuar um processo de distensão que viabilizasse uma transição pelo alto. Neste quadro, algumas frações da burguesia ainda mantinham fortes vínculos com o governo militar, articulando suas ações por dentro das agências do Estado.

Aprovada a paralisação, o Sindicato, seguindo o exemplo dos professores, organiza comandos regionais de greve. No segundo dia, os bancários sofrem repressão violenta da polícia onde, mais uma vez, a polícia reprime com violência e prende dezenas de grevistas. O Sindicato sofre intervenção e toda a diretoria é afastada e processada, reassumindo três meses depois, após intensa luta de resistência, que contou com o apoio da sociedade civil.

3.4) DÉCADA DE 1980 – QUANDO A MULTIDÃO VOLTOU ÀS PRAÇAS
Após a intervenção, a diretoria do sindicato dos bancários reassumiu suas funções e buscou resgatar, no discurso e na prática diária do sindicato, a tradição histórica da categoria interrompida a partir do golpe de 64 e das sucessivas intervenções. No início da década de 1980, o jornal Bancário passou a publicar uma série de matérias resgatando a trajetória das antigas lideranças da categoria e teve início um trabalho de organização de comissões sindicais por banco, com o estímulo a elaboração de jornais por empresa, como o Malote, do Banerj; o Toledo, do Credireal; o Comando, do BEMGE, o Sombrinha, do Banco Nacional e o Espelho, do Banco do Brasil, entre outros, todos elaborados a partir das discussões das comissões por banco. Destacam-se também a campanha de sindicalização, período em que se associaram 20 mil bancários e a aquisição de dois andares na sede da Av. Presidente Vargas.

Questões culturais também ganharam espaço no sindicato, como a organização do “Botequim dos Bancários”, onde se apresentaram músicos populares, como Clementina de Jesus, Cristina Buarque de Holanda, Banda de Pífanos de Caruarú e Nelson Sargento, entre outros. Foram formados também um grupo de teatro, um coral e um cineclube, todos organizados por ativistas do sindicato e contando com a participação de vários bancários e bancárias em suas atividades.

Formou-se assim uma militância jovem, que se aproximou das atividades sindicais através de uma gama de interesses variados.

Este foi também um período de reorganização do movimento sindical e dos partidos recém fundados. Os debates sobre conjuntura e as disputas de posição entre os setores que aturam no movimento sindical repercutiram fortemente no Sindicato, que contou com uma grande quantidade de militantes ligados às mais variadas tendências. O Sindicato havia participado, em 1979, da organização do Encontro Nacional de Dirigentes Sindicais, realizado em Gragoatá, Niterói, que preparou as bases para o I Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras (I CONCLAT) de Praia Grande, em São Paulo, em 1981, onde foi criada a Comissão Nacional Pró-CUT.

Em 1983, em São Bernardo, foi fundada a Central Única dos Trabalhadores (CUT) A fundação da CUT servira como um marco para todo o movimento sindical brasileiro. O Sindicato se filia à Central Única de Trabalhadores (CUT) em 1986

As Campanhas

A primeira metade da década de 1980 foi também marcada por várias lutas e campanhas contra a política econômica do governo. Neste quadro, Sindicato articulou, em 1981, a campanha contra o pacote das estatais, que retirava direitos dos funcionários dessas empresas. A primeira manifestação foi convocada pelos bancários do Banco do Brasil. O movimento se espalha pelo país. Cria-se o Comitê de Defesa das Estatais, que promove manifestação de mais de 50 mil pessoas no Centro do Rio. Os trabalhadores conseguem derrubar o pacote.

A unificação das datas-base em 1982 foi um passo importante para o fortalecimento do movimento sindical bancário. A partir de então, os sindicatos, através de um comando nacional, passaram a reivindicar a unificação da negociação coletiva, que ocorria setorialmente para os bancários de uma dada região, o que implicava na assinatura de Acordos setoriais.

Em 1983, foi lançada a campanha por 100% do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), com uma greve iniciada no Rio pelos funcionários do Banco do Brasil. A conquista se estendeu aos demais trabalhadores.

No Rio de Janeiro, foi o Sindicato dos Bancários que, em 1984, liderou o início da campanha pelas “Diretas já”. Apesar de intensa mobilização em todo o país, a eleição direta para presidente da República é rejeitada pela Câmara dos Deputados.

Neste mesmo período, vários bancos e financeiras são liquidados pelo Banco Central, ampliando a concentração no setor financeiro nacional ao mesmo tempo em que cresce a participação dos bancos estrangeiros neste mercado.

O Sindicato passa a organizar os trabalhadores das empresas liquidadas, que formam comissões de negociação e divulgação de seus movimentos. Destas campanhas, merecem destaque a luta pela absorção de todos os empregados da Delfim, em 1983, que será vitoriosa e todos os funcionários incorporados aos quadros da Caixa Econômica Federal (CEF), e a dos funcionários do Banco Sul Brasileiro, que sofre intervenção em fevereiro de 1985, que, em agosto do mesmo ano, conquistam sua transformação de banco privado em estatal, o Banco Meridional, com a garantia de emprego a todos os funcionários. Muitos destes bancários passam a participar ativamente das atividades da entidade e várias lideranças que se formaram nestas lutas se tornaram dirigentes do Sindicato.

Merece registro também, no mesmo ano de 1985, a greve dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), que reivindicam redução da jornada de trabalho para seis horas (atendida em janeiro de 1987) e sindicalização aos sindicatos de bancários. Com a conquista, deixam de ser considerados “economiários” e passam a ser enquadrados como bancários, o que ampliará o perfil da categoria na composição do ramo de atividade, assim como o espectro de instituições financeiras estatais nela representados.

A automação no setor bancário

Com o objetivo de embasar as novas lideranças que passam a atuar no sindicato, são organizados, no sindicato, vários debates com temática variada, abordando questões culturais, econômicas, políticas, etc. Surgem também as primeiras preocupações acerca dos impactos causados pelas mudanças tecnológicas sobre a categoria.

Mas os impactos da introdução das novas tecnologias sobre o nível de emprego no setor bancário só serão sentidos a partir da segunda metade dos anos oitenta. Após a implantação do Plano Cruzado (1986) e seus complementares – Cruzado 2, Bresser (1987) e Verão (1989) – os bancos, principalmente os da rede privada, desencadeiam um processo de reestruturação “enxugando” suas estruturas operacionais através de demissões em massa, automação do atendimento e da prestação de serviços e terceirização.

Com o aumento da competição no setor, o desempenho das instituições passa a ser condicionado pelos ganhos de produtividade. Nesta relação, as instituições ampliam seus investimentos nas áreas de automação e informática, aumentando a importância da questão tecnológica.

Só no ano de 1986 foram demitidos quase 110 mil trabalhadores, representando uma redução de 11.2% no nível de emprego no setor bancário. Em dezembro de 1985 havia 978 mil bancários, número que descerá para 815 mil no final de 1989. Paralelamente à redução do nível de emprego, a estrutura física do setor também foi bastante afetada, com o fechamento de várias agências, como no exemplo do Bradesco, que até o Plano Cruzado (1986) contava com 2.090 agências e, até 1990, reduziu este número para 1.702 agências, significando um corte da ordem de 23%.

E em abril de 1981, bancários aposentados fundam o Departamento de Aposentados do Sindicato. Nele se reaglutinaram importantes lideranças da categoria do período pré-1964, como Luiz Viégas da Motta Lima, Maria Emília Barbosa, Humberto Campbel, José Raymundo, Jurandyr Leão, entre outros, com larga experiência política e participação em direções sindicais.

Estes quadros, atuaram, em conjunto com as novas lideranças (e exercendo forte influência sobre estas), na formulação das linhas de atuação do Sindicato, propiciando um resgate da memória e da história dos períodos anteriores, fato facilmente perceptível na leitura das publicações do Sindicato.

Desenvolveram um trabalho de organização e apoio aos antigos militantes; participaram da fundação de entidades de trabalhadores aposentados no Rio de Janeiro e nacionalmente; contribuíram, sobretudo a partir de suas experiências com o IAPB, nas discussões e campanhas em defesa da previdência social; além da organização de atividades recreativas e culturais e da participação ativa nas campanhas da categoria.

O apogeu e a crise da ditadura militar na década de 70 – as perdas e a retomada das lutas sindicais.

Este período é fortemente marcado pelo recrudescimento da repressão aos movimentos sociais e às organizações políticas que optaram pela luta armada contra o regime. Em 1971, Aluízio Palhano, duas vezes presidente do Sindicato (1959-1961 e 1961-1963); presidente da Contec (1963-1964) e primeiro vice-presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), é morto sob tortura no Doi-Codi de São Paulo. Cassado pelo golpe de 1964 e demitido do Banco do Brasil, exilou-se no México e em Cuba, de onde, em 1970, retornou clandestinamente ao país. Preso em 1971 pela acusação de participação na luta armada, seu corpo nunca foi encontrado, constando seu nome entre os presos políticos “desaparecidos” durante o regime militar. Em carta enviada à família antes de seu regresso ao Brasil, Palhano escreve que sua atuação “por humilde e insignificante que seja, ajudou a construir o amanhã de milhões de pessoas”. E conclui: “E os meus filhos receberão com esse exemplo a melhor herança que se pode desejar”.

Recentemente, a ossada de Palhano, encontrada misturada a dezenas de outras numa vala comum do cemitério de Perus, em São Paulo, foi finalmente identificada. A família pode, enfim, enterra-lo junto aos seus.

Apesar da repressão e das dificuldades impostas pelo afastamento de vários dirigentes, as lideranças bancárias continuaram se articulando eos bancários elegeram, com ampla maioria, a chapa liderada por Edmilson Martins de Oliveira para o mandato de 1971 a 1974. A nova diretoria é empossada em dezembro, mas vários diretores são impugnados pelo Ministério do Trabalho.

Quatro meses depois, em 17 de abril de 1972, a diretoria eleita é destituída e processada. O Sindicato é invadido por policiais e sofre nova intervenção. O presidente e vários diretores são presos e ficam 46 dias na prisão.

Após o período de expansão registrado entre 1967 – 1973, a economia nacional entra num novo período de desaceleração. Além dos problemas relativos ao modelo de desenvolvimento adotado internamente, as condições apresentadas pela economia mundial afetaram negativamente a economia brasileira, que perdeu seu dinamismo, marcando assim o fim do período do chamado “milagre econômico”.

O final da década de 1970 traria elementos que, ao se desenvolverem, marcariam a década seguinte. Na base destes elementos está a crise do modelo econômico implantado com o golpe de 64, que se agrava com o fim do chamado “milagre econômico”, gerando divisões no bloco dominante e a tentativa, por parte do governo militar, de operar um processo de abertura do regime de forma ‘lenta e gradual’. Dentro desta perspectiva e premida pelo novo ascenso do movimento de massas, que tem como centro as lutas contra a ditadura e a política salarial de arrocho implementada pelo governo, entre os anos de 1978 e 1979, são decretados o fim do AI5, a Anistia Política e a reorganização dos partidos políticos.

Entram em cena também novas lideranças que traçarão um novo quadro de disputas e alianças em torno de projetos políticos distintos, resgatando elementos da cultura sindical pré-1964 e, ao mesmo tempo, estabelecendo rupturas com esse passado, dado os novos elementos de ordem política, econômica e social.

A campanha pelo auxílio refeição, que ficou conhecida como campanha pelo “Panelão”, em 1978, pode ser considerada como um marco no sentido de demarcar este novo contexto. Pressionada por uma conjuntura em que vários setores da sociedade se rearticulavam, com o partido de oposição, o MDB, alcançando votações expressivas, o movimento das associações de bairros e favelas se estruturando, o movimento estudantil se reorganizando, assim como as lutas pela anistia, que se realizaria, de forma ainda que parcial, em 1979, a direção do Sindicato dos Bancários, formada ainda por elementos comprometidos com a intervenção do início da década, iniciou mais uma campanha salarial dentro dos padrões da formalidade que marcou as campanhas daquele período.

Mas, logo nas primeiras assembleias, que passaram a ser mais concorridas, com a oposição disputando encaminhamentos, acompanhando as negociações com os banqueiros e interferindo na linha dos boletins do Sindicato, a diretoria percebeu que essa campanha não seria como as outras. As disputas nas assembleias da “Campanha do Panelão” vão marcar definitivamente a nova faze do Sindicato dos bancários. O resultado da campanha é superior ao esperado pela diretoria do Sindicato, sobretudo pelo reajuste no anuênio e pela conquista do auxílio alimentação que, por uma manobra dos banqueiros, que “interpretaram” a redação da cláusula e reduziram o valor do benefício, passou a ser chamado pela categoria como “auxílio cafezinho”, só mais tarde sendo efetivamente corrigido.

Mas essa campanha teve como desdobramento o lançamento de um forte movimento de oposição, com o surgimento de lideranças que protagonizarão os acontecimentos desta nova fase.

Em 1978, duas eleições seguidas são anuladas. Na primeira, concorrem duas chapas, sendo uma formada basicamente pela direção do sindicato, composta por elementos ligados ao Delegado do Trabalho, Luís Carlos de Brito, e outra apoiada por todos os grupos políticos da oposição e encabeçada por Ivan Pinheiro. A oposição denunciou várias irregularidades no processo eleitoral e recorreu à Justiça Federal que, numa decisão que já prenunciava as contradições no aparelho de Estado numa conjuntura de transição, anulou o pleito e mandou convocar novas eleições.

Nesta segunda eleição, um setor da oposição, , rompe com a chapa encabeçada por Ivan Pinheiro e lança uma terceira chapa. Como fosse claro o predomínio da oposição durante a campanha eleitoral, que se confirmou nas urnas com a vitória da chapa encabeçada por Ivan Pinheiro, esta segunda eleição, sob alegação de irregularidades, é também anulada pela DRT, demonstrando como ainda eram tênues os marcos que limitavam o processo de transição.

Pela terceira vez, já em 1979, repete-se o processo eleitoral, mantendo as três chapas a mesma formação do pleito anterior. De um total de 16 mil votantes (o quórum exigido era de 13 mil), a chapa número 2, encabeçada por Pinheiro, alcançou 8.412 votos, ficando em segundo lugar a também oposicionista chapa 3.

A vitória de uma chapa de oposição no Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro teve uma repercussão nacional, sinalizando que o controle exercido pelo regime militar sobre os sindicatos estava esbarrando em limites cada vez mais estreitos. A posse da diretoria eleita se constituiu num ato de significado político nacional, com a presença de dirigentes sindicais de várias categorias de trabalhadores de todo o país, além de políticos de oposição ao regime e um relativo destaque na imprensa.

O significado político da posse de 1979 era também por representar uma retomada da trajetória histórica da categoria interrompida com o golpe de 1964.

Neste mesmo momento, no bojo da reforma partidária, surgiram outros partidos de esquerda com forte militância no movimento sindical, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT), que sob a liderança de Leonel Brizola, teria importante peso no Rio de Janeiro.

Logo após a retomada do Sindicato, os bancários enfrentam sua primeira campanha salarial num quadro de greves que se generalizavam nacionalmente. Apesar de a Lei de Segurança Nacional proibir a realização de greves, as assembleias contam com a participação de milhares de bancários e a direção do movimento trabalha no sentido de preparar a paralisação. Na assembleia de deflagração da greve por reajuste de 50% mais CR$3 mil, a categoria lota a Galeria dos Empregados do Comércio. A Avenida Rio Branco fica tomada de bancários, que acompanham a assembléia através de caixas de som instaladas nas janelas.

Apesar do desgaste do modelo econômico e das dissensões cada vez mais acentuadas no bloco dominante, com setores pressionando por mudanças nas diretrizes implantadas a partir de 1964 e por abertura no campo político, o aparato repressivo ainda agia na perspectiva de garantir a manutenção do controle sobre os movimentos sociais, agora numa conjuntura menos favorável para o regime, que se via obrigado a repactuar um processo de distensão que viabilizasse uma transição pelo alto. Neste quadro, algumas frações da burguesia ainda mantinham fortes vínculos com o governo militar, articulando suas ações por dentro das agências do Estado.

Aprovada a paralisação, o Sindicato, seguindo o exemplo dos professores, organiza comandos regionais de greve. No segundo dia, os bancários sofrem repressão violenta da polícia onde, mais uma vez, a polícia reprime com violência e prende dezenas de grevistas. O Sindicato sofre intervenção e toda a diretoria é afastada e processada, reassumindo três meses depois, após intensa luta de resistência, que contou com o apoio da sociedade civil.

 

Década de 1980 – Quando a multidão voltou às praças

Após a intervenção, a diretoria do sindicato dos bancários reassumiu suas funções e buscou resgatar, no discurso e na prática diária do sindicato, a tradição histórica da categoria interrompida a partir do golpe de 64 e das sucessivas intervenções. No início da década de 1980, o jornal Bancário passou a publicar uma série de matérias resgatando a trajetória das antigas lideranças da categoria e teve início um trabalho de organização de comissões sindicais por banco, com o estímulo a elaboração de jornais por empresa, como o Malote, do Banerj; o Toledo, do Credireal; o Comando, do BEMGE, o Sombrinha, do Banco Nacional e o Espelho, do Banco do Brasil, entre outros, todos elaborados a partir das discussões das comissões por banco. Destacam-se também a campanha de sindicalização, período em que se associaram 20 mil bancários e a aquisição de dois andares na sede da Av. Presidente Vargas.

Questões culturais também ganharam espaço no sindicato, como a organização do “Botequim dos Bancários”, onde se apresentaram músicos populares, como Clementina de Jesus, Cristina Buarque de Holanda, Banda de Pífanos de Caruarú e Nelson Sargento, entre outros. Foram formados também um grupo de teatro, um coral e um cineclube, todos organizados por ativistas do sindicato e contando com a participação de vários bancários e bancárias em suas atividades.

Formou-se assim uma militância jovem, que se aproximou das atividades sindicais através de uma gama de interesses variados.

Este foi também um período de reorganização do movimento sindical e dos partidos recém fundados. Os debates sobre conjuntura e as disputas de posição entre os setores que aturam no movimento sindical repercutiram fortemente no Sindicato, que contou com uma grande quantidade de militantes ligados às mais variadas tendências. O Sindicato havia participado, em 1979, da organização do Encontro Nacional de Dirigentes Sindicais, realizado em Gragoatá, Niterói, que preparou as bases para o I Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras (I CONCLAT) de Praia Grande, em São Paulo, em 1981, onde foi criada a Comissão Nacional Pró-CUT.

Em 1983, em São Bernardo, foi fundada a Central Única dos Trabalhadores (CUT) A fundação da CUT servira como um marco para todo o movimento sindical brasileiro. O Sindicato se filia à Central Única de Trabalhadores (CUT) em 1986

As Campanhas

A primeira metade da década de 1980 foi também marcada por várias lutas e campanhas contra a política econômica do governo. Neste quadro, Sindicato articulou, em 1981, a campanha contra o pacote das estatais, que retirava direitos dos funcionários dessas empresas. A primeira manifestação foi convocada pelos bancários do Banco do Brasil. O movimento se espalha pelo país. Cria-se o Comitê de Defesa das Estatais, que promove manifestação de mais de 50 mil pessoas no Centro do Rio. Os trabalhadores conseguem derrubar o pacote.

A unificação das datas-base em 1982 foi um passo importante para o fortalecimento do movimento sindical bancário. A partir de então, os sindicatos, através de um comando nacional, passaram a reivindicar a unificação da negociação coletiva, que ocorria setorialmente para os bancários de uma dada região, o que implicava na assinatura de Acordos setoriais.

Em 1983, foi lançada a campanha por 100% do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), com uma greve iniciada no Rio pelos funcionários do Banco do Brasil. A conquista se estendeu aos demais trabalhadores.

No Rio de Janeiro, foi o Sindicato dos Bancários que, em 1984, liderou o início da campanha pelas “Diretas já”. Apesar de intensa mobilização em todo o país, a eleição direta para presidente da República é rejeitada pela Câmara dos Deputados.

Neste mesmo período, vários bancos e financeiras são liquidados pelo Banco Central, ampliando a concentração no setor financeiro nacional ao mesmo tempo em que cresce a participação dos bancos estrangeiros neste mercado.

O Sindicato passa a organizar os trabalhadores das empresas liquidadas, que formam comissões de negociação e divulgação de seus movimentos. Destas campanhas, merecem destaque a luta pela absorção de todos os empregados da Delfim, em 1983, que será vitoriosa e todos os funcionários incorporados aos quadros da Caixa Econômica Federal (CEF), e a dos funcionários do Banco Sul Brasileiro, que sofre intervenção em fevereiro de 1985, que, em agosto do mesmo ano, conquistam sua transformação de banco privado em estatal, o Banco Meridional, com a garantia de emprego a todos os funcionários. Muitos destes bancários passam a participar ativamente das atividades da entidade e várias lideranças que se formaram nestas lutas se tornaram dirigentes do Sindicato.

Merece registro também, no mesmo ano de 1985, a greve dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), que reivindicam redução da jornada de trabalho para seis horas (atendida em janeiro de 1987) e sindicalização aos sindicatos de bancários. Com a conquista, deixam de ser considerados “economiários” e passam a ser enquadrados como bancários, o que ampliará o perfil da categoria na composição do ramo de atividade, assim como o espectro de instituições financeiras estatais nela representados.

A automação no setor bancário

Com o objetivo de embasar as novas lideranças que passam a atuar no sindicato, são organizados, no sindicato, vários debates com temática variada, abordando questões culturais, econômicas, políticas, etc. Surgem também as primeiras preocupações acerca dos impactos causados pelas mudanças tecnológicas sobre a categoria.

Mas os impactos da introdução das novas tecnologias sobre o nível de emprego no setor bancário só serão sentidos a partir da segunda metade dos anos oitenta. Após a implantação do Plano Cruzado (1986) e seus complementares – Cruzado 2, Bresser (1987) e Verão (1989) – os bancos, principalmente os da rede privada, desencadeiam um processo de reestruturação “enxugando” suas estruturas operacionais através de demissões em massa, automação do atendimento e da prestação de serviços e terceirização.

Com o aumento da competição no setor, o desempenho das instituições passa a ser condicionado pelos ganhos de produtividade. Nesta relação, as instituições ampliam seus investimentos nas áreas de automação e informática, aumentando a importância da questão tecnológica.

Só no ano de 1986 foram demitidos quase 110 mil trabalhadores, representando uma redução de 11.2% no nível de emprego no setor bancário. Em dezembro de 1985 havia 978 mil bancários, número que descerá para 815 mil no final de 1989. Paralelamente à redução do nível de emprego, a estrutura física do setor também foi bastante afetada, com o fechamento de várias agências, como no exemplo do Bradesco, que até o Plano Cruzado (1986) contava com 2.090 agências e, até 1990, reduziu este número para 1.702 agências, significando um corte da ordem de 23%.

E em abril de 1981, bancários aposentados fundam o Departamento de Aposentados do Sindicato. Nele se reaglutinaram importantes lideranças da categoria do período pré-1964, como Luiz Viégas da Motta Lima, Maria Emília Barbosa, Humberto Campbel, José Raymundo, Jurandyr Leão, entre outros, com larga experiência política e participação em direções sindicais.

Estes quadros, atuaram, em conjunto com as novas lideranças (e exercendo forte influência sobre estas), na formulação das linhas de atuação do Sindicato, propiciando um resgate da memória e da história dos períodos anteriores, fato facilmente perceptível na leitura das publicações do Sindicato.

Desenvolveram um trabalho de organização e apoio aos antigos militantes; participaram da fundação de entidades de trabalhadores aposentados no Rio de Janeiro e nacionalmente; contribuíram, sobretudo a partir de suas experiências com o IAPB, nas discussões e campanhas em defesa da previdência social; além da organização de atividades recreativas e culturais e da participação ativa nas campanhas da categoria.

As greves

Na segunda metade da década de 80, ocorreu um novo surto de greves. Caracterizadas pelo grande contingente de trabalhadores do setor privado e estatal que delas participam, essas paralisações, que continuaram sendo consideradas ilegais, no que pese suas reivindicações básicas serem de caráter econômico, são fortemente influenciadas pela conjuntura política nacional e local.

As lutas com grande participação popular pelo fim dos governos militares, que teve na campanha pelas diretas seu ponto culminante; a entrada em cena dos novos partidos políticos, que, em termos de Rio de Janeiro, coloca a novidade do “brizolismo”, nome pelo qual ficaram conhecidos os seguidores de Leonel de Moura Brizola, que se elegeu governador do estado pelo PDT com expressiva votação; e mais as mudanças no campo sindical, com a fundação da CUT e a vitória de uma diretoria cutista no sindicato dos bancários do Rio, vão conformar o pano de fundo onde se desenvolveu a campanha salarial da categoria no ano de 1985.

Apesar das negociações salariais dos bancários serem, ainda neste período, regionais, a campanha ganha amplitude nacional com a realização, nos dias 8 e 9 de julho no Rio de Janeiro, do Encontro Nacional dos Bancários. Organizado pela Comissão Nacional de Negociação, instância nacional unitária da categoria, o Encontro, que reuniu 1.600 bancários de todo o país, aprovou, além da pauta a ser encaminhada aos banqueiros, uma pauta política onde constavam o congelamento dos preços dos produtos de primeira necessidade, a redução dos juros e o fim da especulação financeira.

No dia 31 de agosto, o indicativo de greve nacional foi aprovado, por unanimidade, no Encontro Nacional de Campinas, São Paulo, que contou com a participação de 10 mil bancários (representando 113 sindicatos dos 162 existentes) e encerrou com uma passeata gigantesca pelo centro daquela cidade, tendo a frente sindicalistas de todos os grupos com atuação no movimento sindical bancário nacional.

As negociações com os banqueiros não avançam e o presidente da república José Sarney dá declaração advertindo para o “[...] perigo que representa para o processo inflacionário a concessão generalizada de reajustes trimestrais de salário”. Em Junho, o governo lança um anteprojeto proibindo greves no setor de compensação de cheques.

No Rio, cerca de 20 mil bancários participam da assembleia do dia 10 de setembro. Com todos os espaços do Maracanãzinho, local da assembleia, tomados pelos bancários, a greve foi aprovada.

Depois do golpe militar de 1964, esta foi a maior paralisação de bancários (800 mil trabalhadores) ocorrida no país. Pela primeira vez foi formado um Comando Nacional. Com os setores de compensação paralisados, no primeiro dia do movimento paredista, o Ministro do Trabalho Almir Pazzianotto reconheceu o Estado de Greve e o movimento foi duramente reprimido.

Ao final de três dias, os bancários conquistam reajuste de 89,55%, antecipação de 25% em janeiro e fevereiro e elevação do piso salarial em 93,77% (965 mil cruzeiros). O acordo previa também que a categoria não sofreria desconto nem punição pelos dias parados. Analisando o desenvolvimento da greve dos bancários de 1985, observamos que o movimento foi organizado nacionalmente, a partir da construção de uma unidade nacional ampla entre forças políticas com visões e projetos diferenciados.

1980 – a década não foi perdida

No ano de 1988 ocorrem dois fatos políticos da maior relevância que marcarão o final da década: a promulgação da nova Constituinte, que institucionalizou o fim da transição democrática do período autoritário implantado a partir do golpe de 1964; e a disputa para a presidência da república entre Luiz Inácio Lula da Silva, liderança construída a partir das lutas operárias do final dos anos 70, e Fernando Collor de Melo, que venceria o pleito e, como presidente, começaria a criar as condições para a implantação do projeto neoliberal no Brasil.

Simbolicamente, a década de 1980 será encerrada pela greve geral de 1989, quando Bancários se unem a outros sindicatos de trabalhadores na Organização do movimento que, durante dois dias, paralisou o país.

Década de 1990 – Do provisório definitivo ao definitivamente provisório

A década de 1990 iniciou sob o impacto do confisco dos ativos financeiros pelo Plano Collor I, em março de 1990. Em fevereiro de 1991 o governo edita o Plano Collor II. Nesta fase, como ocorreu após o Plano Cruzado, os bancos iniciaram seus ajustes a partir de uma nova onda de demissões que marcaria toda a década.

Paralelamente, com o aprofundamento do processo de reestruturação produtiva no setor, os bancos buscaram uma maior “flexibilização” para operarem a transição da configuração baseada nos grandes bancos de varejo lastreados nas altas taxas de inflação e na massificação do atendimento, redefinindo o próprio conceito de atividade bancária. Enquanto em 1989 os bancos empregavam, em média, 815 mil trabalhadores, em junho de 1994 este número caiu para 649 mil, ao mesmo tempo que os investimentos do setor em automação saltaram de US$ 1,8 bilhão, em 91, para US$ 3,0 bilhões, em 93, com grande concentração de aportes no auto-atendimento.

Mesmo com o grande número de demissões no setor, a categoria consegue manter suas conquistas históricas e participa ativamente das grandes lutas nacionais. Em 1991, Bancários, petroleiros, petroquímicos, organizam campanhas conjuntas e, com outras categorias, realizam atos e passeatas contra o arrocho salarial e o governo Collor. Os bancários do Banco do Brasil fazem duas grandes greves e ficam paralisados 40 dias para pressionar a direção da instituição a assinar um acordo salarial.

No Rio, o Sindicato lidera a campanha nacional que culminou com o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, por envolvimento em esquema de corrupção no governo. O vice de Collor, Itamar Franco, assume a presidência e indica o sociólogo paulista Fernando Henrique Cardoso para Ministro da Fazenda.

No mesmo ano de 1992, após seis anos, o Sindicato reabriu a subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos) e, em 1993, inaugurou a Bangraf, maior gráfica sindical do Rio, que será negociada com a CUT-RJ na primeira década de 2000.

O Sindicato criou o projeto "Sindicato Cidadão" e se engajou, em 1993, na Ação da Cidadania contra a Fome e pela Vida, movimento idealizado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. A mobilização dos bancários se intensificou com os funcionários do Banco do Brasil, que criaram vários Comitês contra a Fome e chegam a arrecadar 12 toneladas de alimentos.

Neste mesmo período, o Sindicato liderou, no Rio, o Movimento pela Ética na Política, contra a corrupção na Comissão de Orçamento do Congresso (o "Escândalo dos Anões do Orçamento") e participou do protesto da sociedade civil contra a violência que paralisa o Centro do Rio. Vestidos de branco, como todos os manifestantes pela paz, concentram-se na Candelária e no Largo dos Bancários. Após dois minutos de silêncio, a população faz um “buzinaço”, enquanto as igrejas tocam seus sinos.

Nos processos de negociação coletiva, a proposta dos bancários apresentada na mesa de negociação em 1991, defendia como “regra do jogo” da negociação coletiva a não intervenção da Justiça do Trabalho em suas negociações.

Em 1992, o Departamento Nacional de Bancários da CUT se constitui na Confederação Nacional dos Bancários (CNB), representando mais de dois terços dos bancários do país, em contraponto à Contec. Além de integrar a estrutura orgânica da central, a Confederação é filiada à Federação Internacional de Empregados e Técnicos (FIET).

Neste mesmo ano, foi assinada a primeira Convenção Coletiva Nacional, que teve como signatários 120 sindicatos, sete federações e a Confederação Nacional do Bancários – CNB-CUT.

Diante das mudanças na estrutura e na forma de operação e gerenciamento dos bancos, intensifica-se o processo de trabalho e os bancários passam a ser submetidos a um alto nível de cobranças por resultados. A informatização dos serviços, que simplifica as atividades e tarefas inerentes ao trabalho bancário, é acompanhada pela introdução dos processos de gestão pela “Qualidade Total”, estabelecimento de metas e terceirização de vários setores.

Num ambiente de desemprego crescente, o bancário se vê submetido a uma série de exigências, que vão da capacitação pessoal para assumir várias tarefas que antes eram divididas entre vários trabalhadores (multifuncionalidade), ao cumprimento das metas, cada vez mais elevadas, das quais depende crescentemente a remuneração destes trabalhadores. Todo esse processo de pressão acaba elevando o nível de adoecimento na categoria, o que levará os sindicatos a priorizarem em suas pautas questões relativas à proteção da saúde, além dos critérios para o pagamento das metas e a participação nos lucros e resultados (PLR).

A discussão sobre a proteção da saúde do trabalhador bancário entra na pauta nacional e as primeiras reivindicações são apresentadas à Federação Nacional dos Bancos. A questão da saúde passou a fazer parte do Acordo Coletivo de 1994 e, no ano seguinte, foi formada uma Comissão Paritária de Saúde, para discutir soluções para os problemas de saúde dos bancários. Na convenção de 1995, os Bancários conquistaram, pela primeira vez, o direito à participação nos lucros e resultados (PLR).

Em 1994 Lula é novamente candidato à presidência da república. As forças conservadoras apóiam o candidato Fernando Henrique Cardoso que, embalado pelo sucesso do Plano Real em seu objetivo de conter a escalada inflacionária, ganha as eleições.

Após a implantação do Plano Real, em 1994, uma nova onda de centralização dos bancos e instituições financeiras marcou a segunda metade dos anos 90. Sob a coordenação do Banco Central, instituição regulatória e fiscalizadora, operou-se uma série de "ajustes" no sistema bancário através da decretação de falências, fusões, incorporações e privatizações de empresas.

A influência dos grupos financeiros sobre o Estado se consolidou, intensificando a aplicação do receituário do chamado neoliberalismo no setor financeiro, com o desmonte do Banco do Brasil, demissões e fechamento de agências e dependências do banco. O número de Bancos Múltiplos Nacionais com controle estrangeiro passou de 18, em janeiro de 1994, para 42 no mesmo mês de 1999, com concentração da expansão entre 1997 e 1998, totalizando com um crescimento no período de 70 para 82 bancos comerciais e múltiplos com participação e controle estrangeiro.

Quarenta bancos sofreram intervenção por parte do Banco Central, a partir da estabilização da moeda decretada no Plano Real. Os maiores bancos que sofreram intervenção foram o Econômico, o Bamerindus e o Nacional. Os ajustes envolveram também bancos médios e pequenos, considerados "vulneráveis" e cuja situação "explodiu" após o Plano Real, posto que tanto a lucratividade que auferiam como os dados que ocultavam em balanços financeiros, os tornaram inviáveis econômica e financeiramente.

A partir da criação do PROER, o processo de liquidações, e privatizações se acelerou de forma avassaladora. O Sindicato organiza os bancários dos bancos atingidos para resistirem ao processo, mas, diante da correlação de forças, essa resistência não foi suficiente para barrar o avanço da reestruturação do setor.

Ainda em 1993, o I Seminário Nacional dos Funcionários do Banerj aprovou uma proposta de reestruturação do banco, dentro do conceito de ampliar o perfil da instituição para o atendimento das demandas da população e como fomentador do desenvolvimento econômico e social do Estado Rio de Janeiro. Com base nesta resolução, o Projeto para o Banco Público, apresentado à Assembleia Legislativa do Rio, se tornou modelo para o movimento sindical dos demais bancos públicos.

Com a intervenção do Banco Central no Banerj e no Banespa em 1995, as manifestações em defesa dos bancos públicos foram intensificadas.

Por pressão do Sindicato, a Assembleia Legislativa (ALERJ) instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as administrações do Banerj. O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou artigos da Constituição do Estado do Rio de Janeiro que impediam a venda do banco.

O ano se encerrou com uma grande manifestação de protesto contra a aprovação do Programa Estadual de Desestatização (PED) pela Assembleia Legislativa, autorizando o governo estadual a privatizar todas as empresas públicas do Estado. A maioria dos manifestantes, reprimidos com extrema violência pela Polícia Militar, era de bancários. Em 1996 o Banco Bozano, Simonsen assumiu a administração do Banerj. É o início do desmonte do banco, com demissões em massa e fechamento de agências, para a privatização. Crescem as mobilizações dos bancários.

Neste mesmo ano, o Banco Central financiou a compra do Banco Econômico para o Banco Excel.

Aliado a outras categorias e instituições da sociedade, em 1997 o Sindicato participa de manifestações contra a política de privatizações do patrimônio público durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e o desemprego em massa de trabalhadores.

O Sindicato trava intensa luta em defesa dos direitos dos aposentados e ativos, em virtude da liquidação a Previ/Banerj. O Banco Bozano Simonsen corta as aposentadorias incentivadas, que voltam a ser pagas após sete meses de luta, que incluiu a ocupação da agência Central do Banerj e recurso à Justiça.

O governador Marcello Alencar, do PSDB, anuncia o leilão do Banerj. Sucedem-se as manifestações de protesto e greves durante um mês. No dia 26 de junho de 1997 o Banerj é vendido ao Itaú. Tem início novo processo de demissões em massa.

São fechadas 34 agências do Meridional no país e inicia-se o processo de privatização do banco, comprado no final deste ano pelo Banco Bozano Simonsen.

O Bamerindus é comprado pelo banco inglês HSBC, resultando em novo processo de demissões. O Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge), também incluído na lista de privatizações inicia o desmonte de suas agências no Estado do Rio.

Em 1998, o Banco Itaú fecha todas as agências do Banerj fora do Estado do Rio de Janeiro e demite seus funcionários. A mobilização do Sindicato leva a Assembleia Legislativa do Rio a constituir CPI para investigar irregularidades na privatização do Banerj.

Neste mesmo ano, o Sindicato dos Bancários se engaja na luta contra a reforma da Previdência, proposta pelo governo Fernando Henrique, com graves prejuízos e perda de direitos adquiridos, atingindo todos os trabalhadores de empresas privadas.

Paralisação do Centro bancário do Rio, em 1999, durante 24 horas, por reajuste salarial e manutenção dos direitos conquistados no passado. A paralisação faz parte do calendário nacional e centenas de bancários de outros estados convergem para o Rio fortalecendo a campanha unificada.

Sindicato envia caravanas para a Marcha dos 100 mil em Brasília, em protesto contra o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Funcionários do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal do Rio fazem paralisação em busca de um acordo salarial digno.

Os trabalhadores do BNDES, diante do impasse nas negociações com a direção do banco, fazem duas greves. Com a vitória do movimento, conquistam reposição salarial, abono e participação nos lucros.

O ano se encerra com dados alarmantes sobre o Banco do Brasil, resultado do desmonte iniciado em 1994. Em cinco anos, 49.943 funcionários são demitidos.