Terça, 06 Outubro 2020 16:31

Imagina se os bancos fossem padaria ou farmácia?

Por Gilberto Menezes Côrtes Por Gilberto Menezes Côrtes

Reproduzo carta criativa que recebi na internet. A carta foi enviada ao Banco Bradesco. Entretanto, pela criatividade com que foi escrita, deveria ser...

 

Reproduzo carta criativa que recebi na internet. A carta foi enviada ao Banco Bradesco. Entretanto, pela criatividade com que foi escrita, deveria ser direcionada a todas as instituições financeiras. Tenho que prestar reverência ao brasileiro(a) que, apesar de ser altamente explorado(a), ainda consegue manter o bom humor. Por isso a transmito aos leitores e a todos os bancos.

Carta aberta ao Bradesco (Itaú, BB, CEF, Santander etc)

Senhores diretores do Bradesco,

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia a dia.

Funcionaria assim: todo mês, os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico, costureira, farmácia, etc). Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante. Existente apenas para enriquecer os proprietários, sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade.

Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível etc.) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até um pouquinho acima. Que tal?

Pois, ontem, saí de seu banco com a certeza de que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade.

Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como todo e qualquer serviço.

Além disso, me impõe taxas. Uma 'taxa de acesso ao pãozinho', outra 'taxa por guardar pão quentinho' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro. Fazendo uma comparação que, talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo em seu banco. Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado pelo pãozinho.

Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri. Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de crédito' - equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pãozinho', que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.

Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu banco. Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de conta'. Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa 'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura da padaria', pois só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.

Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como papagaios'. Para liberar o 'papagaio', alguns gerentes inescrupulosos cobravam um 'por fora', que era devidamente embolsado. Fiquei com a impressão que o banco resolveu se antecipar aos gerentes inescrupulosos.

Agora, ao invés de um 'por fora', temos muitos 'por dentro'.

- Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00.

- Olhando o extrato, descobri uma outra taxa, de R$ 7,90, 'para a manutenção da conta', semelhante àquela 'taxa pela existência da padaria na esquina da rua'.

- A surpresa não acabou: descobri outra taxa, de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial, vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo!

- Semelhante àquela 'taxa por guardar o pão quentinho'.

- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária, que me atendeu, me entregou um caderninho, onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer movimentação que eu fizer.

Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei, enquanto estive nas instalações de seu banco. Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora, não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma!

Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.

Sei disso. Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados. Sei que são legais. Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam garantidas em lei, vocês concordam o quanto são abusivas?

O goleiro Manga e o gerente do Banco Nacional

Realmente, algumas taxas cobradas pelos bancos são incompreensíveis. Vejam o caso do o ex-goleiro Manga. Ele defendeu o Botafogo nos anos 60, disputou a Copa do Mundo na Inglaterra, em 1966, depois foi campeão brasileiro pelo Internacional e ainda jogou no Uruguai e no Equador, onde estava vivendo até ser resgatado no início do ano por uma equipe de TV, para vir morar no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá (RJ). Manga jamais entendeu o mecanismo das taxas de desconto, aplicada aos “papagaios” bancários.

Quando era o paredão das traves do alvinegro, então na General Severiano, Manga precisava de dez mil cruzeiros (moeda da época). Era diretor do Banco Nacional e cartola do glorioso, o banqueiro José Luiz Magalhães Lins. Com sua recomendação, Manga foi procurar o gerente da agência centro no Rio, na Avenida Rio Branco, 125, que ficava em frente, ao 110, sede do velho Jornal do Brasil (onde comecei em 1972).

O dinheiro caiu imediatamente na conta. Mas Manga jamais entendeu uma taxa de desconto (a cobrança dos juros às avessas, com desconto prévio no montante) que o fez pagar juros sobre 10 mil, mas só receber 8 mil cruzeiros na conta. Toda semana, quando tinha oportunidade de passar em frente ao banco, Manguinha, como era carinhosamente chamado pela torcida, abria a porta da agência e gritava: “Ladrão!”

Com quase dois metros (alto para a época), o goleirão metia medo em muitos valentões. Certa vez, após acusar Manguinha de ter feito corpo mole em uma derrota do Botafogo, na véspera, o jornalista João Saldanha, pulou o muro da antiga sede do Mourisco, ao saber que o goleiro estava armado.

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