Segunda, 11 Mai 2020 22:34

13 de maio: a liberdade que ainda não veio

Almir Aguiar Secretário de Combate  ao Racismo da Contraf-CUT Almir Aguiar Secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT

O Brasil, sempre com seu processo civilizatório tardio, foi o último país da America Latina a abolir a escravidão de negros, mesmo com toda a campanha da Inglaterra, que após a Revolução Industrial pressionou para que em todo o continente fosse abolida a mão-de-obra escrava para a criação de novos mercados consumidores. Mas é explícito na sociedade brasileira que a visão escravocrata e o racismo de grande parte da burguesia são um ranço histórico que insiste em permanecer em nossos dias, em pleno século XXI. Basta olhar a pirâmide social, em todos os aspectos, seja de emprego, renda, acesso à ocupações de chefia em bancos e empresas privados, condições de moradia, saúde, saneamento básico e oportunidades e no número de mortos pela violência policial. Os negros e negras estão, em sua esmagadora maioria, na base da pirâmide social brasileira, cerca de 78% formada por negros e pardos. A desigualdade no Brasil tem cor, isto é fato já confirmado por todos os estudos sociológicos e pelos próprios dados oficiais do IBGE.

A exposição ainda maior das desigualdades sociais e raciais provocadas pelo pandemia do novo coronavírus é confirmada nos números oficiais que apontam que negros e negras são as maiores vítimas da expansão do Covid-19 no Brasil, agravada pela política e postura genocida do presidente Jair Bolsonaro.
Em São Paulo, epicentro do Covid-19 em nosso país, estudos mostram que o risco de mortes entre negros é 62% maior do que em relação aos brancos, por motivos óbvios de uma realidade de falta de saneamento básico, crianças brincando em lixões, parafitas e barracos minúsculos com 7 e até 12 pessoas vivendo juntas e falta de acesso a bens de consumo, como é o caso do alccol gel neste momento, vendidos a preços proibitivos por comerciantes e das medicações pela máfia das indústrias farmacêuticas.

No Brasil, o número de negros por coronavírus é cinco vezes maior do que o de brancos. Claro, lutamos para que o governo tome medidas e providências que protejam a vida de todos os brasileiros, independentemente de sua raça. Mas é preciso denunciar que, na política genocida de Bolsonaro, as maiores vítimas são os negros, maior parte dentre os mais pobres.
Em duas semanas, a quantidade de pessoas negras que morrem por Covid-19 no Brasil quintuplicou. De 11 a 26 de abril, mortes de pacientes negros confirmadas pelo Governo Federal foram de pouco mais de 180 para mais de 930. Além disso, a quantidade de brasileiros negros hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por coronavírus aumentou para 5,5 vezes.

A explosão de casos de negros que são hospitalizados ou morrem por Covid-19 só escancara à olhos vistos e confirmam as denúncias dos movimentos sociais sobre as desigualdades raciais no Brasil: entre negros, há uma morte a cada três hospitalizados por SRAG causada pelo coronavírus; já entre brancos, há uma morte a cada 4,4 hospitalizações. Estes números oficiais do próprio governo federal não podem ser deixados passar sem que haja uma indignação nacional contra o racismo e a dívida histórica da sociedade brasileira com as comunidades negras, em especial num contexto tão dramático e violento que temos visto contra comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas.

Lamentavelmente todas as ações, medidas e projetos do ministro banqueiro Paulo Guedes do Governo Bolsonaro, sem falar na panaceia do genocida do Presidente brasileiro, vão na contramão desta reflexão social e política que a dor e as mortes da pandemia estão trazendo a governos e sociedades do mundo inteiro. Por aqui, o governo só aprofunda a miséria e a desigualdade
Nós sabemos que os mais vulneráveis afetados pela política econômica mais perversa da história deste país, em sua maioria, são os negros e negras, inclusive nos contágios e mortes pelo Covid-19.
Por isso, esse 13 de maio nos convoca a todos, a uma reflexão profunda sobre que Brasil nós queremos após esta pandemia. E certamente, independentemente de posições partidárias e ideológicas, este Brasil pós-Covid-19, não está nas políticas elitistas, racistas e genocidas do atual governo

Certo também que não podemos mais admitir um país tão desigual e injusto e que a necessidade de políticas afirmativas mais consistentes para garantir condições de vida dignas e igualdade de oportunidades para negros e negras não pode ser apenas uma política do futuro governo, mas tem de ser um compromisso e uma política de estado. Basta de racismo.

Almir Aguiar
Secretário de Combate
ao Racismo da Contraf-CUT

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