Sábado, 21 Mai 2022 10:21
TECNOLOGIA E EMPREGO BANCÁRIO

Economista aponta desafio da representação sindical para trabalhadores de novos modelos do trabalho

Gustavo Cavarzan, técnico do Dieese, destaca a fragmentação do setor financeiro e os desafios do movimento sindical com as novas formas de trabalho impactadas pela tecnologia
O economista Gustavo Cavarzan (ao fundo, em participação virtual) falou dos impactos das novas tecnologias no trabalho bancário e os desafios de representação do movimento sindical O economista Gustavo Cavarzan (ao fundo, em participação virtual) falou dos impactos das novas tecnologias no trabalho bancário e os desafios de representação do movimento sindical Foto: Nando Neves

O economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Gustavo Cavarzan, abriu os debates no segundo dia da 2ª Conferência Estadual RJ das Bancárias e Bancários, na manhã deste sábado (21), com o tema dos impactos das novas tecnologias sobre o trabalho no setor financeiro e do trabalho intermitente e novas regras aprovadas pela reforma trabalhista no Brasil. Cavarzan disse que o Brasil perdeu 2,8 milhões de trabalhadores com carteira assinada, em oito anos, revelando o crescimento da informalidade e de brasileiros que trabalham por conta própria. O painel foi apresentado logo após a aprovação do regimento interno do encontro. 

"Tem crescido no país a geração de empregos sem proteção trabalhista e mais precarizado. No setor financeiro, cresce o número de trabalhadores periféricos, do setor financeiro, como os agentes de negócios de plataformas, os PJs com formalização muito precária e os correspondentes bancários", explicou, lembrando que a categoria está enfrentando uma grande tendência de cortes dos trabalhadores mais identificados com a representação sindical.  

"A redução de emprego é generalizada e o maior impacto desta conjuntura é sobre os bancários que estão nas agências, que são os mais ligados aos sindicatos. E há um alargamento daqueles que trabalham em home office e em plataformas digitais. É um desafio para o movimento sindical representar e dialogar com estes trabalhadores", acrescentou. 

Os impasses do teletrabalho

Cavarzan falou ainda dos problemas dos bancários que estão no sistema home office, como o crescimento de despesas pessoais, custos com energia elétrica, falta de equipamentos necessários para o trabalho e de ajuda do banco, em casos de dúvidas e dificuldades, bem como a ausência de visibilidade do empregado para a empresa. 

"Apesar de todos os problemas, a maioria dos bancários que estão no teletrabalho disseram em nossas enquetes que preferem continuar trabalhando em casa", afirmou. 

"Há uma ampliação no número de trabalhadores no ramo financeiro, mas também uma redução do bancário típico, em função do fechamento das agências físicas pelos bancos. No entanto é preciso destacar que estes trabalhadores dos novos modelos de trabalho no setor sofrem um trabalho mais precarizado". 

Novos modelos de trabalho

O economista lembrou que os serviços que não interessam mais ao banco, como o atendimento ao cliente e usuário mais popular, estão sendo transferidos para os correspondentes bancários e ressaltou a respeito da dificuldade de representação sindical destes trabalhadores.

"A Crefisa tem como proprietário, José Roberto Lamacchia, marido da presidenta do clube paulista de futebol, Palmeiras", apontando a fragmentação do setor por empresários que têm váRios outros empreendimentos e investimentos além de financeiras. 

Disse ainda que cresce também 160% o número de trabalhadores de plataformas, que trabalham por conta prórpia e vendem produtos para grandes bancos, como Itaú, Bradesco e Santander, entre 2014 e 2020. 

"Há ainda bancos digitais criados pelos próprios bancos, que contratam funcionários sem jornada definida e sem os direitos da Convenção Coletiva da categoria", explicou. 

Fintechs sem regulação do BC

Lembrou que menos de 10% das fintechs que estão funcionado no Brasil, empregando cerca de 60 mil trabalhadores, são reguladas pelo Banco Central. 

"Estas empresas se definem como 'plataformas", uma espécie de 'uberização' que chega ao setor financeiro. Permitem que bancários demitidos se cadastrem nas plataformas, exigindo experiência mínima de cinco anos em bancos. Para se cadastrar o trabalhador cria uma MEI e paga um valor para poder vender os produtos oferecidos na plataforma. Estes produtos são de grandes bancos, como Itaú e Bradesco, pois estas empresas digitais não têm autorização para vender diretamente produtos do sistema financeiro", explica, revelando a fragmentação do setor. 

"A consequência mais imediata desta fragmentação sobre a representação da categoria é a redução de trabalhadores sindicalizados. Houve uma queda de 45% para 19,5% no número de associados aos sindicatos da categoria, de 2014 ao começo anos dois mil", revelou. 

Cavarzan concluiu sua participação destacando que a Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e sindicatos filiados estão no caminho certo de buscar a sindicalização por ramo, porque as empresas do setor já estão fazendo isso na forma de contratação. 

 

 

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