Sábado, 14 Agosto 2021 18:32
ANÁLISE DE CONJUNTURA

Unidade e mobilização dos trabalhadores: a saída para a crise econômica e sanitária no país

Conferência Estadual dos Bancários do Rio de Janeiro defende fortalecimento de manifestações para derrotar Bolsonaro
Lindbergh Farias fez um avaliação da atual conjuntura e disse sentir que há uma mudança vindo das camadas populares, que sofre com a crise Lindbergh Farias fez um avaliação da atual conjuntura e disse sentir que há uma mudança vindo das camadas populares, que sofre com a crise Foto: Nano Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Na análise de conjuntura feita durante a Conferência Estadual dos Bancários do Rio de Janeiro, neste sábado (14) o vereador Reymont (PT) destacou o papel fundamental do movimento sindical não apenas na defesa dos direitos da categoria, mas para derrotar a política recessiva e de retirada de direitos do governo Bolsonaro, além dos impactos das novas trecnologias no mundo do trabalho.

 “Além da luta para preservar as conquistas históricas da categoria, esta conferência tem o desafio de buscar estratégias para o enfrentamento das novas tecnologias e garantir os postos de trabalho. Há um novo mundo do trabalho em função das novas tecnologias que impactam no mundo do trabalho. É preciso também defender a democracia e derrotar Bolsonaro para reconstruir o tecido social e o país”, disse o parlamentar, que também é bancário aposentado do Banco do Brasil.

Reymont se disse otimista com os últimos acontecimentos políticos, apesar da dura conjuntura. “Quando as condenações de Lula foram anuladas e ele aparece com possibilidades de vitória eleitoral novamente, é como se uma luz entrasse num quarto escuro. Outra realidade brasileira é possível”,  disse.

Criticou a política desastrosa e o negacionismo do governo “fascista que flerta com o autoritarismo com relação à pandemia. Não podemos esquecer nunca esse desastre por aqueles que tombaram por falta de vacina e cujas mortes poderiam ser evitadas, não podemos apagar isso da memória, como da ditadura militar, que levou ao aniquilamento da democracia”, afirma.

O parlamentar considera que a situação difícil vivida pela categoria e demais trabalhadores reflete o fortalecimento do capital e o aniquilamento do trabalho, que “no governo Bolsonaro se dágua de forma ainda mais sofisticada”.

“Eles tentam vender uma ideia de que não pode haver mais cliente de uma agência, mas agora de todo um sistema financeiro, da mesma forma quando prometiam empregos com a reforma trabalhista e a possibilidade de o empregado fazer uma negociação individual com o patrão.

As operações financeiras oferecidas pelos bancos podem ser feita por qualquer ramo, um supermercado, uma lotérica, uma loja e nós é que temos que cuidar dos empregos e direitos. Temos uma grande responsabilidade para vencer o modo de operação bolsonarista, que é a negação do outro, de aniquilamento de quem pensa diferente. É preciso reconstruir o processo democrático e deixar claro que acreditamos na democracia e temos nojo da ditadura”, esclarece.  

Na avaliação do petista, a história ensinou que não basta ganhar o governo, mas é preciso conquistar a governabilidade. “Não basta eleger Lula, mas é preciso  dar governabilidade, elegendo deputados e senadores . Um outro Brasil é preciso e é possível de ser construído.

Transição no mundo

Uirtz Sérvulo, coordenador do Diretório Estadual do PCdoB, começou sua participação no encontro, falando do contexto e transformações do capitalismo global.

“Cada vez mais temos uma tendência de interferência internacional nos planos econômicos nacionais e a subordinação do governo Bolsonaro ao capital estrangeiro é vergonhosa, inclusive enlameando tudo de bom que foi construído  pela  diplomacia brasileira e pelos governos progressistas e democráticos deste país”, criticou.

O dirigente disse que “o mundo vive um processo de transição pós-unilateralismo que era capitaneado pelos EUA e que após a guerra fria tentou impor um pensamento único, implantando no mundo o ideário neoliberal que tantos males causaram aos países e aos trabaljadores”.

“Este mundo está mudando, todos os analistas são unânimes em dizer que a centralidade do desenvolvimento econômico migrou para a Ásia, inaugurandp uma multipolarização. Este cenário que pode criar melhores condições de desenvolvimento para os chamados países periféricos, que ainda são dominados pelos países ricos. Essa transição merece nossa atenção. O  maior parceiro econômico do Brasil é a China e não mais os EUA. Ocorre também a quarta revolução tecnológica e científica, alterando os modos de produção e as condições de vida e de trabalho”, avalia.

Sérvulo disse que hoje os métodos de exploração são mais intensos.

“Deve fazer parte da nossa análise a quarta revolução tecnológica, que no Brasil se apresenta atrasada, mas este tipo de relações de trabalho começa a se impor no mundo do trabalho. A nossa categoria é uma das que mais sofre com essas mudanças”, alertou.

Lembrou que “na conjuntura mundial há um protagonismo da extrema direita que promoveu a eleição de Bolsonaro e ocorre em todo o mundo, com vitórias eleitorais, mas também com golpes”, mas que “há uma retomada da resistência a essas forças”, disse cotando os avanços na Bolívia, Peru, Argentina e México, com a vitória da esquerda.

“Há uma nova tendência de acentuação das forças progressivas. Os trabalhadores não estão passivos nessa ofensiva do capital. Nesse contexto a pandemia veio apenas acentuar este avanço das novas formas de trabalho, como um fator de agravamento social e, no Brasil de maneira trágica com relação à situação sanitária e social. Uma lição nós podemos tirar destes fatos recentes em relação à persistência da crise mundial: o capitalismo não consegue retomar o nível de crescimento que experimentou até 2006, com seguida e permanente estagnação, fato confirmado por órgãos como o FMI (Fundo Monetário Internacional)”.

“Começamos a respirar bons momentos de nossa luta histórica, e os exemplos das vitórias na America latina nos estimulam, mas temos que buscar o nosso próprio caminho. Há uma tendência de enfraquecimento do governo Bolsonaro e a criação de um movimento de frente ampla de caráter democrático precisa se efetivar”, afirma. Lembrou que a “a volta da mobilização popular e sindical poderá reeditar um novo cenário para o país”.

A hora da virada

O ex-senador e ex-prefeito Nova Iguaçu, atual vereador do PT, Lindbergh Farias, lembrou que foi a mobilização popular que organizou o fora Collor, ajudou a eleger Lula, primeiro operário a ocupar a presidência da República.

“Darcy Ribeiro fala do caráter das elites brasileiras, que tem uma cabeça escravocrata e antidemocrática. A historia do país é de golpes contra Vargas, que com a eleição 1950, criou a Petrobras, o BNDES, a Eletrobrás. João Goulart como ministro do Trabalho dobrou o valor do salário mínimo e, em 1954, houve um golpe que levou Vargas ao suicídio. Essa mesma elite deu o golpe no impeachment da Dilma e teve a ousadia de prender o presidente Lula que liderava todas as pesquisas de opinião. Esse golpe que ainda estamos enfrentando tinha a intenção de desmoralizar o projeto popular da esquerda”, relata. Lembrou que “Lula, mesmo preso, teve a coragem, o senso e a responsabilidade histórica, de não aceitar acordo, em momento algum, até conquistar a sua liberdade.

“Nós sabíamos que aquele processo todo era uma fraude. Mas agora, acredito que estamos vivendo um momento muito particular de virada. Eu não imaginava que aconteceria tão rapidamente, cinco anos após o impeachment da Dilma, os ataques ao movimento sindical e popular. Vivemos um período histórico. O Data Folha diz que Lula tem 46% da preferência dos eleitores e, entre quem ganha até dois salários mínimos, quase 60%”, disse.

Lindbergh afirma que o neoliberalismo trouxe fome, desemprego e a renda das classes D  e E caiu 17% em um ano.

“Subiram os preços dos alimentos, ninguém compra mais carne, estão caros o arroz, feijão óleo de cozinha. Precisamos politizar mais o contexto’, disse, considerando que o povo já começa a ter a percepção da piora nas condições

Na avaliação do ex-parlamentar, há mudanças no mundo capitalismo que podem favorecer um futuro governo progressista: mesmo governo liberais como o de Biden nos EUA, perceberam com  a pandemia, a importância da presença do estado para o desenvolvimento da economia.

“O Plano Biden é uma virada, em função da competição com a China, e os americanos voltam a uma política keynesiana, uma reedição do New Deal do presidente Roosevelt, que no pós guerra levou as políticas de estado para o desenvolvimento do país.

“Se Lula ganhar, não podemos cometer os mesmos erros, de ter Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. Sou muito desconfiado do ideário fiscalista destes economistas”, avalia. Disse ainda que os bancários são fundamentais nas lutas para derrotar Bolsonaro e para o povo resgatar a esperança no desenvolvimento e no bem estar social. “O que está em jogo é um projeto de país e a vida desse povo. Temos a oportunidade de virar esse jogo, eleger Lula presidente e construir outro ciclo de desenvolvimento para o Brasil”, concluiu.  

Compromisso com o Brasil 

Juvândia Moreira, presidenta da Contraf-CUT lembrou que a eleição é em 2022, mas que o processo já começou.

“Essa conferência, com mais de 200 delegados e a Conferência Nacional, precisam ter a preocupação com o país e a classe trabalhadora e defender um Brasil sem desigualdades. “Hoje temos quase 15 milhões de desempregados, mais os subempregados e desalentados. Um grande número de pessoas vivem de bicos, trabalho intermitente e quase 20 milhões estão na miséria absoluta, dependendo da solidariedade e de políticas compensatórias. Dia 18 agora vamos às ruas contra o desmonte do estado e a política entreguista de Bolsonaro, o presidente que não tem sequer empatia com a dor das pessoas”, criticou.

As resoluções da Conferência Estadual serão levadas para a 23ª Conferência Nacional dos Bancários, que será realizada dias 3 e 4 de setembro.

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