Segunda, 08 Fevereiro 2021 16:56

Bolsonaro governa para os bancos, ilhas de prosperidade em meio ao caos econômico

Concentração da riqueza aumenta a miséria no Brasil Concentração da riqueza aumenta a miséria no Brasil

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

A quantia é astronômica e não encontra semelhança em outro qualquer setor da economia. Enquanto o país mergulhava na falência de empresas aos milhares e chegava a 14 milhões de desempregados, os três maiores bancos privados (Bradesco, Itaú e Santander) lucravam em 2020 a fantástica quantia de R$ 51,8 bilhões, lucro líquido, em meio à pandemia do novo coronavírus.

Mas, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida Pública, o lucro foi ainda maior. Os bancos se utilizaram de uma manobra contábil para reduzir este valor que já é uma afronta aos brasileiros que enfrentam enormes dificuldades para se manter vivos. Segundo a lei, os bancos podem contingenciar uma quantia, definida segundo critérios próprios, ‘para se precaver’ do não pagamento de empréstimos concedidos. É a chamada provisão para devedores duvidosos (PDD).

Os valores da PDD nos balanços, reduziram o lucro bilionário dos três maiores bancos em R$ 18 bilhões, valor 44% maior do que o de 2019. Com isto, o lucro do Itaú, a maior queda, passou de R$ 28,36 bilhões para R$ 18,91 bilhões; o do Bradesco caiu de 25,89 bilhões para R$ 19,46 bilhões; e, no Santander, passou de R$ 14,55 bilhões para R$ 13, 85 bilhões. Resultado, os bancos vão pagar menor impostos e uma menor participação nos lucros aos bancários e menos lucros e dividendos aos acionistas.

O mais estranho é que o PDD foi gigantesco mesmo os bancos tendo recebido uma doação de R$ 1,2 trilhão do governo Bolsonaro, segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ‘para ajudá-los a atravessar a pandemia’. Como se precisassem de ajuda. Outro argumento utilizado à época, foi o de que seria um ‘incentivo’ à concessão de empréstimos. Mas não houve contrapartida exigida em contrato, ou qualquer fiscalização, tendo o dinheiro público ajudado apenas a engordar o lucro do sistema financeiro.

O contrário aconteceu com o auxílio-emergencial e os recursos para o combate ao novo coronavírus. Bolsonaro e Guedes reclamaram, mas chegaram a propor ridículos R$ 200 por família para prestar um auxílio aos que ficaram sem sustento. Por iniciativa dos partidos de oposição foi aprovado o valor, ainda insuficiente, de R$ 600 por pessoa. Já a quantia para que fossem tomadas medidas de prevenção contra a pandemia ficou por conta de decisões e demandas feitas por prefeitos e governadores e por decisões do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). O governo federal achou que tudo não passava de uma gripezinha e que não valia a pena gastar dinheiro com coisa de maricas.

Já Paulo Guedes foi flagrado defendendo recursos apenas para os ‘nossos’. “Temos que dar dinheiro para os grandes que vão nos dar retorno. Os pequenos vão nos dar prejuízo”, disse a Bolsonaro, na reunião ministerial, cujas imagens foram vazadas em abril.

Mesmo com os lucros astronômicos, os bancos continuaram a demitir e a fechar agências, mesmo em plena pandemia, prejudicando os bancários e a população, obrigada a ficar mais tempo nas filas. Só como exemplo, o Bradesco fechou 7.754 postos de trabalho e 1.083 agências em 2020, e o Santander 3.220 postos de trabalho e 175 agências.

Em contrapartida aos lucros, 39,9 milhões de pessoas vivem na extrema pobreza no Brasil, segundo dados do Ministério da Cidadania. Essas famílias vivem com renda per capita de até R$ 89 por mês.

Bancos comandam o governo

Com um representante seu no Ministério da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, os bancos ditam a política econômica que tem no corte de recursos do setor público e nas privatizações das estatais, dois dos pilares mais importantes do chamado ajuste fiscal, garantindo que o Tesouro Nacional tenha recursos suficientes para pagar a dívida pública que o governo tem com os bancos. Esta dívida, que nunca foi auditada para se saber que parte é legítima, consome 43% do Orçamento da União.

Toda a política do governo é voltada para atender os bancos, para enriquecer os banqueiros, pouco se importando se vai estagnar a economia, ao cortar investimentos públicos, desempregar milhões ou deixar quem vive abaixo da linha da pobreza sem assistência do Estado. Ou se vai diminuir o dinheiro circulante na economia ao dificultar a obtenção da aposentadoria e reduzir seu valor, através da reforma da Previdência; ou fazer o mesmo, diminuindo os salários como consequência do corte de direitos da reforma trabalhista.

O que importa para o governo Bolsonaro é que com a reforma da Previdência, além de destinar mais recursos para o pagamento de juros e amortização da dívida pública, ainda incentiva os brasileiros que podem, a pagar uma previdência privada que pertence aos bancos. A reforma trabalhista tem o objetivo de cortar custos com a mão de obra, esta, para beneficiar os bancos, mas também os demais empregadores.

Reforma administrativa

Neste ano, o governo Bolsonaro tem como principal objetivo aprovar a reforma administrativa que corta mais recursos do setor público, seja pela extinção de direitos dos servidores (federais, dos estados e prefeituras), redução de seus salários e demissões em massa. Prevê ainda a privatização de empresas estatais e a extinção de autarquias. Tudo, segundo explica Paulo Guedes, ‘para economizar recursos da máquina pública, que está inchada, de modo a fazer o país voltar a crescer’.

Um discurso surrado que, incrivelmente, continua a dar certo com a população, apesar de ter sido usado por seguidos governos: mais recentemente, por Michel Temer, para aprovar a reforma trabalhista, tende gerado mais desemprego, arrocho salarial e aprofundamento da recessão. Bolsonaro também repetiu o discurso, para aprovar a reforma da previdência e uma nova reforma trabalhista aprofundando a recessão e aumentando o desemprego, em 2019, portanto, antes da pandemia.

 

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