Sexta, 20 Novembro 2020 22:36

Sim, vidas negras importam

RACISMO MATA - João Alberto, negro e pobre, em seus últimos instantes de vida, agredido e asfixiado por seguranças até a sua morte, no Carrefour, em Porto Alegre até a morte RACISMO MATA - João Alberto, negro e pobre, em seus últimos instantes de vida, agredido e asfixiado por seguranças até a sua morte, no Carrefour, em Porto Alegre até a morte

 

Nada é capaz justificar o assassinato de João Alberto Silveira Freitas , violentamente agredido e asfixiado por seguranças até a morte num supermercado Carrefour, em Porto Alegre (RS). Não é um acaso o fato de a vítima ser negra e pobre. Alguém tem dúvida de que se fora um jovem branco, rico ou de classe média, de que a reação e o tratamento teria sido outro, na base da conversa e, no máximo, se fosse o caso, com um pedido para ele se retirar do recinto?

O racismo está incrustado na sociedade brasileira, especialmente nas classes mais abastardas. E não se trata de um caso isolado. Dados do Atlas da Violência de 2020 reafirmam a gravidade do preconceito racial no país, que é estrutural. Os números não mentem. No Brasil, em 2018, 75% das vítimas de homicídio eram negras. Em dez anos (2008 a 2018) as taxas de homicídios apresentaram um aumento de 11,5% para os negros, enquanto para os brancos houve diminuição de 12,9%.

Mas há uma luz no fim do túnel. A reação popular foi imediata com atos em várias regiões do país contra a morte de mais um afrodescendente, sem direito de defesa, exatamente no Dia da Consciência Negra. As eleições municipais também vieram como resposta, com várias mulheres, trans e homens da comunidade negra eleitos vereadores, uma reação ao racismo que saiu do armário e se expressa nas forças reacionárias que estão no Palácio do Planalto, explícita na frase do vice-presidente, o general Mourão, descendente de índios, que voltou a repetir a ladainha de que “no Brasil não existe racismo”.

O racismo sempre existiu e faz parte do processo civilizatório brasileiro. A miscigenação foi fruto da violência e do estupro de brancos europeus contra mulheres negras e índias. A discriminação está presente no dia a dia, com casos na literatura consagrada, no mercado de trabalho, na média salarial, na falta de condições mínimas de vida das populações negras marginalizadas das favelas e periferias. Não é discurso de palanque. É fato. A sociedade não pode mais tolerar o racismo. E não basta “não ser racista”. É preciso ser antirracista. Porque vidas negras importam.

 

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