Quarta, 29 Julho 2020 13:21
REFORMA TRIBUTÁRIA DOS BANCOS

A retomada econômica que nunca vem

Mídia volta a disseminar ideia de sinais de recuperação econômica, mas perda de 1,2 milhão de vagas e a queda na competitividade confirmam a recessão
NA CONTRAMÃO DO MUNDO - O ministro Paulo Guedes, com apoio da maioria do Congresso Nacional, tenta aprovar uma reforma tributária que privilegia os bancos em detrimento do setor produtivo e que aumenta a taxação sobre o consumo, prejudicando os mais pobres NA CONTRAMÃO DO MUNDO - O ministro Paulo Guedes, com apoio da maioria do Congresso Nacional, tenta aprovar uma reforma tributária que privilegia os bancos em detrimento do setor produtivo e que aumenta a taxação sobre o consumo, prejudicando os mais pobres Edu Andrade/Ministério da Economia

 

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Sempre que a pauta das reformas neoliberais está para ser votada no Congresso Nacional, a grande imprensa massifica a ideia “de sinais de recuperação econômica” e de que “é preciso aprovar os projetos do governo federal para consolidar a retomada de desenvolvimento do país”. Assim foi durante a votação da Reforma Trabalhista no Governo Temer e da Reforma da Previdência no Governo Bolsonaro, com promessas renovadas de geração de empregos que, é claro, não vieram. Como a reforma tributária é a bola da vez, o discurso otimista volta ao noticiário.

Mais desemprego

As alterações trabalhista e previdenciária vieram, retirando direitos dos trabalhadores, tornando o sonho da aposentadoria mais difícil e os benefícios achatados pelos novos cálculos do INSS. Mas as oportunidades de novos empregos prometidas não chegaram. O Brasil perdeu 1,2 milhão de empregos com carteira assinada no primeiro semestre de 2020.

E olha que a recessão veio antes da pandemia. Em 2019, o Governo Bolsonaro estreou com o pior desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) dos últimos três anos, pior do que o pífio desempenho da gestão Temer. 

Auxílio emergencial 

Em junho, a queda foi menor, certamente proporcionada pelo aquecimento proporcionado pela injeção de cerca de R$300 bilhões na economia promovido pelo auxílio emergencial de R$600, aprovado pelo Congresso Nacional em função da necessária paralisia das atividades econômicas causada pela pandemia do novo coronavírus. É sempre bom lembrar que Paulo Guedes e Bolsonaro queriam pagar apenas R$200.

Em relação a maio, o mês de junho teve queda de 16% nas demissões (906 mil) e aumento de 24% nas contratações (895 mil). O discurso da grande imprensa para defender a política neoliberal de Paulo Guedes é de lascar: a mídia, financiada pelo grande capital diz que a queda menor é fruto da Medida Provisória 936/2020, que permitiu suspensão de contrato e redução de jornada e de salário dos trabalhadores. Como pode a economia ter sinais de melhora com menos renda das famílias para consumir? Não precisa ser economista para saber que foi o auxílio emergencial e não as medidas recessivas de Guedes é que reduziu os impactos da crise sobre o emprego em junho. Amenizou, mas não impediu a recessão.

Queda de competitividade

Outro dado que desmitifica o discurso das classes dominantes na imprensa é a queda do Brasil no índice de competitividade, um parâmetro do mercado que os próprios tecnocratas neoliberais adoram citar como exemplo do sintoma da economia. O país ficou em penúltimo lugar no ranking.

Reforma privilegia bancos

O Jornal O Globo publicou nesta quarta-feira (29) a versão da CNI (Confederação Nacional da Indústria) de que a queda do país no ranking de competitividade deve-se a carga tributária, querendo convencer a opinião pública de que o parlamento brasileiro precisa aprovar a reforma tributária do Governo Bolsonaro. Só que a proposta de Guedes eleva os impostos pagos pelos mais pobres, aumentando os encargos sobre o consumo e os setores produtivos e reduzindo a taxação sobre os bancos, o setor mais lucrativo do Brasil nos últimos 40 anos. O projeto fortalece a lógica rentista e especulativa que domina a economia brasileira e está na contramão da tributação progressiva dos países mais desenvolvidos, inclusive de economias liberais, como a Alemanha e até os EUA, onde são taxados lucros e dividendos, grandes heranças e grandes fortunas, ou seja, quem ganha mais, paga mais. No Brasil a classe média e os trabalhadores mais pobres é que pagam a conta da crise e dos rombos fiscais. Um bom exemplo dessa anomalia tributária que aprofunda as desigualdades sociais no país é o cidadão que paga anualmente o IPVA de seu fusquinha e o banqueiro e grande empresário que não paga nada por seu jatinho executivo, helicóptero ou iate.

Governo agrava crise

Os números não mentem. A política neoliberal e a proposta de reforma tributária do ministro banqueiro Paulo Guedes aprofundam ainda mais a crise que afeta o país desde 2016, aumentando o desemprego, o trabalho precário da informalidade e a miséria. Para completar, a absoluta falta de uma política nacional eficiente de prevenção à Covid-19 por conta de um governo que nega a ciência e faz pouco caso da vida e a falta de uma testagem em massa da população, prolongam a paralisia econômica.

Em nome da pauta neoliberal que massacra o povo brasileiro, aprofunda as desigualdades sociais e agrava a crise para manter os privilégios do sistema financeiro, a grande mídia tenta, mas não consegue tapar o sol com a peneira: a vaca está indo, de vez, para o brejo.

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