Quarta, 25 Março 2020 16:18
NOTA DO SINDICATO EM DEFESA DA VIDA

Repúdio aos pronunciamentos de Bolsonaro e suas ações contra os trabalhadores e o Brasil

Nós, do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, cientes de nossas responsabilidades com a categoria e com a necessidade de união nacional e dos esforços de toda a sociedade no combate ao novo coronavírus e em defesa da vida, da saúde e dos empregos, repudiamos veementemente as insistentes declarações do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.

Como se não bastassem as afirmações insanas de que o Covid-19 não passa de uma “gripezinha”, de que é uma “fantasia” e “histeria criada pela mídia”, o pronunciamento do Presidente na última terça-feira, dia 24 de março, passaram de todos os limites toleráveis. Bolsonaro voltou a minimizar a rápida proliferação do Covid-19 no Brasil e defendeu “o retorno à normalidade” e o “fim do confinamento em massa”, contrariando todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), de médicos e sanitaristas, inclusive do próprio Ministério da Saúde, que alertam para a necessidade do isolamento social radical, item que foi fundamental para o êxito da China e da Coreia do Sul no combate à pandemia.

O pronunciamento, como não poderia deixar de ser gerou perplexidade e indignação em toda a sociedade, governadores e prefeitos, sindicatos, trabalhadores, instituições e setores responsáveis do empresariado e repercutiu negativamente no mundo inteiro.

O governo brasileiro comete os mesmos erros do poder público da Itália que em fevereiro criticou o que chamou de “alarmismo” e pediu para que “os turistas não deixassem de visitar àquele país”. Em nosso caso, o Presidente defende a frouxidão das medidas de forma ainda mais veemente, colocando em risco a vida de milhares de brasileiros.

É lamentável que em vez de tomar as decisões urgentes e necessárias para enfrentar a pandemia e proteger a economia do país de uma inevitável depressão econômica mundial, Bolsonaro insiste na estratégia política de insuflar sua base eleitoral mais radical, brigando com os governadores e se opondo ao esforço nacional e desesperado de todos contra esta pandemia.

Primeiro é preciso proteger a vida e a saúde de todos os brasileiros e brasileiras. É bem verdade que conjuntamente é necessário resguardar a economia, o que as medidas do Ministro da Economia Paulo Guedes não têm feito. Na contramão do mundo inteiro, o governo brasileiro prioriza socorrer os bancos e grandes empresas, deixando os trabalhadores e os mais pobres à deriva. A Medida Provisória perversa e desastrada que permite a suspensão dos contratos de trabalho e desobriga o empregador de pagar os salários dos funcionários foi mais uma demonstração de que este governo está levando o Brasil a mais profunda depressão econômica da história. A preocupação de Guedes e Bolsonaro é quase que exclusivamente a de proteger e bajular o baronato brasileiro que acumulou bilhões de reais ao longo da história e jogar sobre os ombros dos trabalhadores, mais uma vez, a conta da crise.

Lembramos que a economia do país tombou antes mesmo da calamidade do coronavírus. O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) foi o pior dos últimos três anos. Todas as medidas do governo - desde a reforma da Previdência, assim como a Trabalhista na gestão de Temer - vão na direção errada de cortar direitos e renda do povo brasileiro, com o velho conto do vigário de que são ações “para gerar mais empregos”, que não vieram e não virão com a atual política econômica.

O socorro aos bancos, através do Banco Central (BC), somam mais de US$ 31 bilhões (R$ 161 bilhões), valor 11 vezes maior do que as medidas do governo federal para socorrer os mais pobres em plena calamidade do novo coronavírus (R$15 bilhões). Como explicar a decisão de torrar bilhões de reais para ajudar o setor que mais acumula dinheiro no país há pelo menos quatro décadas quando países do mundo inteiro, até vizinhos mais pobres, socorrem os trabalhadores bancando os salários e garantindo os empregos? A posição do Palácio do Planalto, além de perversa é suicida para a economia e o futuro do país.

Por fim, lamentamos a subserviência deste governo à ganância sem limites dos bancos e grandes empresas que nem neste momento de calamidade e comoção mundial deixam em segundo plano o acúmulo de riqueza e se omitem na missão de todos de salvar vidas, proteger pessoas e contribuir para resguardar a economia e garantir o futuro.

Um exemplo cabal desta inversão de prioridade e insensibilidade é a situação dos bancários. O Sindicato tem feito todos os esforços possíveis para fechar as agências, garantir os empregos, suspender as metas e descomissionamentos, mas os poderes públicos federal, e como é o caso também dos governos estadual e municipal do Rio de Janeiro se vergam ao poder econômico da Fenaban e mantém bancári@s, terceirizados, clientes e usuários aos riscos do coronavírus.

O Presidente do Brasil precisa, urgentemente, deixar de lado seus projetos pessoais e eleitorais e começar a governar. Sua postura e ações estão levando a nação a uma previsível tragédia social em que milhares de vidas estão em perigo e suas ações erradas e atrapalhadas, irresponsáveis e omissas podem destruir quaisquer esperanças de um futuro melhor para o nosso país, impedindo o sonho de um Brasil livre da pandemia, da miséria e da injustiça social.

A desigualdade, que este governo faz agravar, é uma barreira no combate à esta calamidade global que avança a passos largos em todo o nosso território nacional. As consequências do coronavírus nas favelas, palafitas e grotões de miséria, onde as pessoas não têm esgoto tratado, água potável de qualidade e as crianças brincam nos lixões, poderão ser as mais graves, sem precedentes e que mancharão de sangue a história de nosso país.

Desça do palanque e comece a governar, Presidente Bolsonaro.

 

A responsabilidade é de todos.

 

Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro

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