Terça, 11 Novembro 2025 17:02
BASTA DE DISCRIMINAÇÃO

Mulheres recebem 21% menos que homens e bancárias também são discriminadas

Números oficiais do Relatório de Transparência Salarial confirmam desigualdade de gênero e racial no mercado de trabalho brasileiro

 

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Com informações da Contraf-CUT

As mulheres recebem no Brasil 21,2% menos que homens no Brasil. Em cargos mais elevados, como de dirigentes e gerentes, a diferença chega a 27,1%. Os dados são do 4º Relatório de Transparência Salarial. Os números foram divulgados na última semana, em Brasília, pelos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE) e das Mulheres.

O resultado é fruto de informações de 54.041 empresas, com 100 ou mais empregados, registradas pelos próprios estabelecimentos na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) – totalizando a análise de 19.423.144 vínculos trabalhistas, sendo 30% de mulheres e 70% de homens.

Diferença salarial

Em termos de valores médios, nos cerca de 54 mil estabelecimentos estudados, a remuneração média das mulheres foi de R$ 3.908,76, contra R$ 4.958,43 dos homens - uma diferença de R$ 1.049,67 (21,2%) a menos que os colegas do sexo masculino.

Negras mais discriminadas

As trabalhadoras negras são ainda mais discriminadas no mercado de trabalho do que as mulheres brancas em relação aos homens. As negras recebem cerca de 53,4% menos que homens não negros.

Participação das empresas

Desde a divulgação do 1º Relatório de Transparência Salarial, em março de 2024, até o mais recente, de novembro de 2025, é possível perceber um aumento da desigualdade de remuneração entre homens e mulheres de 1,8 ponto percentual.

"Ao longo desse período de coleta de dados, de seis em seis meses, como manda a legislação, também houve aumento do número de empresas que responderam ao questionário e, portanto, de vínculos trabalhistas analisados. Então, com uma base de dados maior, é possível chegar a um cenário mais fiel à realidade, sobre o nível de desigualdade salarial entre homens e mulheres no Brasil", disse Vivian Machado, economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Mais desigualdades

Os números mostram ainda uma piora em relação à diferença salarial entre mulheres negras e homens não negros, e entre mulheres e homens nos cargos mais elevados. No primeiro relatório, as mulheres negras recebiam em média 32% menos que homens não negros. Já no relatório mais recente, elas recebiam 53,4% menos que os colegas do sexo masculino não negros. Nos 2º e 3º relatórios, a redução salarial para as mulheres negras em relação aos homens não negros foram de 47,5% e 52,5%, respectivamente.

Em comparação ao 3º Relatório, publicado no semestre passado, o 4º Relatório apresentou os seguintes resultados positivos, como o aumento de 21,1% no número de estabelecimentos com pelo menos 10% de mulheres negras: de 29 mil para 35 mil; aumento de 6,4% no número de estabelecimentos com diferença salarial de até 5% entre mulheres e homens: de 16,7 mil para 17,8 mil; redução da diferença salarial das mulheres em relação aos homens, nos cargos de dirigentes e gerentes: em abril de 2025 elas ganhavam 70,2% dos salários dos homens; em novembro de 2025, esse percentual passou para 72,9%.

Conquista da classe trabalhadora

O Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios foi estabelecido em 2023, por meio da Lei de Igualdade Salarial (nº 14.611), de autoria do governo federal é uma conquista da classe trabalhadora. A medida obriga que empresas com 100 ou mais empregados divulgue, semestralmente, informações sobre salários e distribuição de cargos, segmentados por gênero e raça. Estabelece ainda que as empresas apresentem planos de ações quando forem identificadas diferenças salariais não justificadas. 
Segundo o MTE, em 2025, as equipes de fiscalização realizaram 787 ações de combate à desigualdade salarial, atingindo cerca de um milhão de trabalhadores. Dessas ações, 319 foram concluídas e 468 seguem em andamento, resultando na emissão de 154 autos de infração.

Na categoria bancária

Já as mulheres bancárias recebem salário 18,6% menor que os dos homens, na categoria bancária, segundo levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em 2024, com base na RAIS Relação Anual de Informações Sociais). Naquele mesmo ano, as mulheres pretas bancárias recebiam em média 37,7% menos que a remuneração média de homens não negros. Já nos cargos de liderança, a remuneração média das mulheres bancárias era 25% inferior à remuneração dos colegas bancários.

“É inaceitável que, em pleno século XXI ainda temos essas distorções salariais e de oportunidades nas empresas discriminando as mulheres, especialmente as negras. Temos que mudar essa situação na categoria bancária e em toda a sociedade”, disse a vice-presidenta do Sindicato do Rio de Janeiro, Kátia Branco. 

 

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