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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Com informações da Contraf-CUT
Durante a 27ª Conferência Nacional dos Bancários, realizada neste domingo, 24 de agosto, em São Paulo, as secretarias de Cultura e Formação da Contraf-CUT promoveram uma encenação histórica para celebrar os 40 anos da greve nacional dos bancários, ocorrida nos dias 11 e 12 de setembro de 1985. O movimento mobilizou, na ápoca, mais de 500 mil trabalhadores em todo o país e teve como principais reivindicações melhores condições de trabalho, reajuste salarial e respeito aos direitos da categoria.
A greve aconteceu em um contexto político sensível, logo após a frustração da população brasileira com a rejeição da emenda das Diretas Já no Congresso Nacional apesar dos comícios massivos realizados no Rio de Janeiro, em São Paulo e em várias outras cidades do Brasil com a participação de milhões de brasileiros.
A mobilização de 1985 também foi um marco na construção da unidade nacional da categoria bancária e no surgimento de importantes lideranças sindicais, como Beto von der Osten (o Betão), Adozinda de Almeida e Sérgio Takemoto, que participaram da encenação e compartilharam memórias daquele período.
“Passamos a noite anterior à greve pintando faixas e dormimos nos carros, em frente às agências, para evitar que os gerentes colocassem empregados para dormir dentro dos locais de trabalho”, relembrou Betão após a apresentação teatral. “A ditadura havia destruído tudo o que tínhamos, principalmente a nossa autoestima. Vivíamos com medo, medo de fazer greve, de participar de assembleias", disse Betão.
Adozinda de Almeida também compartilhou lembranças da luta. Segundo ela, os bancários já haviam tentado uma paralisação nacional em 1979. “Naquele ano, um ministro apareceu em rede nacional de televisão para ameaçar toda a categoria, dizendo que prenderia quem aderisse à greve”, contou. “Embora não tenha dado certo, essa tentativa nos preparou para o sucesso de 1985.”
Ela destacou ainda o papel do diálogo dos grevistas com a sociedade. “Conseguimos explicar à população por que estávamos parando, e fomos compreendidos. Mas outro fator fundamental foi percebermos que o patrão era um só em todo o Brasil. Todos nós enfrentávamos os mesmos problemas, o que fortaleceu nossa unidade”, ressaltou.
Sérgio Takemoto, à época economiário da Caixa Federal, reforçou a importância da consciência de classe nas conquistas de 1985. “Logo entendemos que, sem greve, não haveria avanços. Depois, tivemos que decidir se seguiríamos como categoria própria, dos economiários, ou se nos uniríamos aos bancários. Graças à consciência de classe, percebemos que todos somos trabalhadores e nos tornamos bancários”, afirmou.
Betão encerrou com uma reflexão sobre o legado da mobilização: “Naquele tempo, não tínhamos a real dimensão do que estávamos construindo. O que havia era muita vontade de lutar. E o resultado é o que conqyistamosmos: a unidade nacional e a estrutura sindical.", completou.
Além da jornada diária de seis horas para os empregados e empregadas da Caixa e da unificação da data-base, a greve de 1985 também garantiu um reajuste salarial de 90,78%, com antecipação de 25%, em um contexto de inflação acelerada, que corroía o poder de compra dos trabalhadores em cerca de 10% ao mês.