Quarta, 30 Julho 2025 23:21
NÃO FAZ SENTIDO

BC mantém juros de 15% ao ano, os maiores do mundo

Decisão é criticada por economistas e sindicalistas, que apontam impacto negativo sobre o consumo, os investimentos e a recuperação econômica do país
Juros altos não contribuem para queda da inflação,  elevam o endividamento das famílias e retraem os investimentos públicos e das empresas, comprometendo a retomada do desenvolvimento do país Juros altos não contribuem para queda da inflação, elevam o endividamento das famílias e retraem os investimentos públicos e das empresas, comprometendo a retomada do desenvolvimento do país Foto: Divulgação

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira, 30 de julho, manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano. Embora já esperada pelo mercado financeiro, a decisão gerou forte indignação entre trabalhadores e economistas.

Maiores que a Rússia em guerra

O Brasil pratica hoje juros maiores do que a Rússia  que está em guerra, sofre pesadas sanções econômicas dos EUA e da União Europeia em função da invasão à Ucrânia e que teve seus ativos tomados por bancos ocidentais. 

Para o movimento sindical, há espaço para uma redução significativa dos juros no Brasil. Isso porque, segundo rankings internacionais, o país mantém a maior taxa de juro real do mundo, o que compromete a recuperação da economia, desestimula o consumo das famílias e inibe os investimentos nos setores produtivos.

Segundo economistas desenvolvimentistas e lideranças sindicais, manter a Selic nesse patamar elevado não contribui para a redução da inflação, que, atualmente, não decorre de uma economia superaquecida, mas sim de outros fatores estruturais.

Endividamento das famílias

Uma pesquisa divulgada em julho pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que o endividamento das famílias brasileiras subiu para 78,2%. O resultado agrava ainda mais a exclusão financeira, com milhões de brasileiros negativados nos serviços de proteção ao crédito, como SPC e Serasa.

Opinião de especialistas

Economistas ouvidos pela equipe de jornalistas da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) avaliam que é possível reduzir a taxa de juros mesmo diante das incertezas provocadas por fatores externos, como o recente tarifaço de até 50% sobre exportações brasileiras aos EUA.

O economista e professor titular da PUC-SP, Ladislau Dowbor, afirmou que a Selic não tem relação direta com o atual perfil inflacionário do país.

“Não há dúvidas de que é possível reduzir a Selic. A inflação no Brasil hoje não é causada por excesso de demanda, e sim pelo aumento de preços promovido por oligopólios — o que chamamos de profit inflation (inflação por lucros). Manter os juros nas alturas só gera lucros para os mais ricos, que investem em títulos da dívida pública e ganham 15% ao ano sem produzir nada”, criticou Dowbor.

“Grande parte do Congresso tem dinheiro aplicado nesses papéis e, por isso, apoia essa política do Banco Central. No Japão, por exemplo, os juros variaram de 0,25% para 0,5%. Aqui, 15% é um absurdo — é apropriação indébita de recursos públicos. Reduzir a Selic permitiria redirecionar recursos para investimentos produtivos, o que o país realmente precisa.”

Já o economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Gustavo Cavarzan, lembra que os níveis de inflação desde o início do terceiro mandato do presidente Lula estão entre os mais baixos das últimas duas décadas.

“Com a inflação em um dos patamares mais baixos dos últimos anos, não há justificativa técnica para manter a Selic nesse nível altíssimo”, avaliou.

“Claro que a inflação tem impacto direto na vida do trabalhador. Tivemos, por exemplo, alta nos preços dos alimentos no governo Bolsonaro. E, mesmo quando a inflação arrefece, os preços não voltam ao patamar anterior. Isso pesa no bolso do povo.”

Cavarzan também criticou a atual meta de inflação:

“Hoje o IPCA gira em torno de 5%, o que está dentro dos padrões históricos brasileiros. Mas o problema é que a meta vem sendo reduzida continuamente. De 4,5% com tolerância de 2 pontos, caiu para 3%, com margem de apenas 1,5%. Isso é praticamente impossível de cumprir em um país periférico e vulnerável a choques externos, como o câmbio”, explicou.

Sindicalistas protestam

A presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT Nacional, Juvandia Moreira, reforçou que a inflação atual não justifica a manutenção da Selic elevada.

“O Banco Central insiste que os juros altos são necessários para controlar a inflação, mas isso não se aplica ao Brasil. A Selic não resolve os problemas de preço que temos aqui. O que faz é manter o país no topo do ranking mundial dos juros, penalizando a população, encarecendo o crédito e reduzindo o consumo.”

O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, José Ferreira, também se manifestou contra a decisão do Copom e destacou a importância da mobilização popular.

"Essa decisão merece o protesto de todos os setores produtivos da sociedade e do conjunto dos trabalhadores, pois retira dinheiro da economia que gera emprego e distribui renda e o transfere para o segmento que especula e concentra renda com o ganho de juros", disse Ferreira.

Clique no link abaixo e confira o ranking mundial de juros

https://clubedospoupadores.com/ranking-juros-reais

Mídia