Sexta, 04 Julho 2025 07:46
CRIMES DO CAPITALISMO

Empresas e bancos globais lucram com o genocídio em Gaza

Francesca Albanese, relatora da ONU, defende que empresas da indústria bélica, de tecnologia, montadoras, bancos e fundos de investimentos sejam processadas judicialmente
Francesca Albenese, em seu relatório da ONU, denúncia empresas, bancos e fundos de investimentos de financiarem a guerra e o genocídio em Gaza Francesca Albenese, em seu relatório da ONU, denúncia empresas, bancos e fundos de investimentos de financiarem a guerra e o genocídio em Gaza Foto: Marie Odgaard/Reuters

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Uma das maiores tragédias humanitárias da história, o genocídio em Gaza pelas forças militares de Israel não tem apenas como motivo a reação do governo do primeiro ministro Benjamin Netanyahu ao sequestro e assassinato de israelenses pelo grupo armado palestino Hammas no ousado ataque de 7 de outubro de 2023. 

Empresas estrangeiras de tecnologia militar, fábrcantes e montadoras de veículos pesados, bancos e fundos de investimentos estão fazendo da guerra um meio de faturar milhões de dólares com o conflito que resulta no genocídio do povo palestino. 

A empresa de tecnologia norte-americana Palantir é alvo de críticas no relatório de Francesca Albanese, relatora da ONU, por sua estreita parceria com as Forças de Defesa de Israel (IDF): "haveria uma parceria estratégica para que a Palantir, cujo software permite a tomada de decisões automatizadas no campo de batalha, em missões relacionadas à guerra", diz o relatório, segundo matéria publicada no jornal britânico The Guardian. 

Representantes da Palantir negam qualquer envolvimento nos programas Lavender ou Gospel da IDF para identificação de alvos em Gaza.

Volvo estaria envolvida 

O relatório da Albanese também critica outras grandes empresas transnacionais, como a sueca fabricante de equipamentos pesados Volvo, por supostamente fornecer maquinário pesado usado em demolições em massa de casas, mesquitas e infraestrutura em Gaza e na Cisjordânia.

“Essas empresas continuaram abastecendo o mercado israelense, apesar das abundantes evidências do uso criminoso desse maquinário por Israel e dos repetidos apelos de grupos de direitos humanos para romper os laços”, afirma Albanese no relatório.

"Fornecedores passivos tornam-se contribuintes deliberados para um sistema de deslocamento", acrescenta o texto. 

A Volvo afirmou que "grande parte dos equipamentos utilizados foi adquirida no mercado de usados, sobre o qual não tinha influência". A empresa sueca tem um acordo com a empresa israelense, a MerkavimTransportation Technologie, fabricante de ônibus israelense, para montar ônibus com chassis Volvo.

Um porta-voz da Volvo afirmou que o acordo incluía a exigência de que "a Merkavim cumpra as leis e regulamentações aplicáveis ​​e o código de conduta dos parceiros fornecedores do Grupo Volvo, que inclui requisitos específicos de direitos humanos".

A fabricante israelense consta em um banco de dados da ONU de empresas que operam na Cisjordânia.

"Portanto, a devida diligência imposta à Volvo é a de se retirar imediatamente da parceria que mantém com as empresas que constam no banco de dados e com Israel", disse ela.

O relatório observa que Israel ajudou a financiar a guerra e os consequentes déficits orçamentários profundos vendendo títulos do Tesouro. Ao comprá-los, argumenta o relatório, estas empresas transnacionais teriam ajudado a manter a guerra em andamento.

Bancos financiam a guerra 

Segundo a denúncia da ONU, "alguns dos maiores bancos do mundo, como o francês BNP Paribas e o britânico Barclays, intervieram para aumentar a confiança do mercado ao subscrever esses títulos do Tesouro nacionais e internacionais, permitindo que Israel contivesse a taxa de juros, apesar do rebaixamento do crédito”. 

No sistema financeiro internacional, empresas de gestão de ativos, incluindo a Pimco (de propriedade da empresa de serviços financeiros alemã Allianz) e a norte-americana Vanguard, seriam as principais compradoras de títulos do Tesouro israelense.

A Pimco não quis comentar. Um porta-voz da Vanguard afirmou que a empresa "mantém políticas e procedimentos robustos para garantir a conformidade com todas as leis, regulamentos e sanções aplicáveis ​​nas diversas jurisdições em que operamos. Isso inclui o cumprimento de leis que podem exigir restrições específicas de investimento em empresas sancionadas por violações de direitos humanos".

O relatório também destaca o grupo  norueguês Norwegian Government Pension Fund Global (GPFG), o maior fundo soberano do mundo, conhecido como Fundo do Petróleo, gerido pelo Norges Bank Investment Management (NBIM), sob a supervisão do Ministério das Finanças da Noruega, que também estaria financiando o aparato de guerra de Israel e a destruição em Gaza. O Fundo teria aumentado seus investimentos em empresas israelenses em 32% desde outubro de 2023.

Depois das denúncias, o maior fundo de pensão da Noruega, o KLP, anunciou que não faria mais negócios com duas empresas – a Oshkosh Corporation, nos EUA, e a ThyssenKrupp, na Alemanha – porque elas vendem equipamentos para o exército israelense que poderiam estar sendo usados ​​em Gaza, embora estas duas empresas não estejam, até então, no relatório da ONU. 

A Oshkosh não respondeu a um pedido de comentário. Um porta-voz da ThyssenKrupp disse que a empresa "realiza suas entregas exclusivamente com base em autorizações legais e em estrita conformidade com as diretrizes de política externa e de segurança da República Federal da Alemanha. 

Segundo a matéria do The Guardian, "o governo alemão estaria envolvido no processo desde o início. 

Envolvimento histórico 

O Envolvimento de gigantes do capitalismo internacional, indústrias e bancos, com guerras, barbáries, ditaduras, regimes nazifascistas e genocídios não é um fato novo.

O relatório de Albanese aponta precedentes na responsabilização legal de empresas envolvidas em açoes de abusos de direitos humanos por governos e países, como o financiamento da máquina nazista de Adolf Hitler, incluindo o processo contra importantes industriais alemães no Tribunal de Nuremberg após a Segunda Guerra Mundial, no que ficou conhecido como o julgamento da IG Farben.

Outro exemplo citado é a Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul, que responsabilizou grandes empresas do país pelo seu envolvimento no apartheid.

EEm suas recomendações, Albanese pede sanções e um embargo de armas a Israel e insta o tribunal penal internacional "e os tribunais nacionais a investigarem e processarem executivos e/ou entidades corporativas por sua participação na prática de crimes internacionais e na lavagem de dinheiro proveniente desses crimes".

Lavagem de dinheiro 

Em seu relatório conclusivo, Albanese pede sanções e um embargo de armas a Israel e insta o tribunal penal internacional "e os tribunais nacionais a investigarem e processarem executivos e entidades corporativas por sua participação na prática de crimes internacionais e na lavagem de dinheiro proveniente desses crimes.

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