Sexta, 16 Mai 2025 14:51
CONTRIBUINDO COM O ESVAZIAMENTO

Fechamento de agências bancárias no Rio repercute na grande imprensa

Denúncias do Sindicato do Rio de Janeiro levam jornal O Globo a publicar matéria tratando a extinção de unidades físicas dos bancos como fator de esvaziamento do centro financeiro e comercial da capital fluminense
O SINDICATO TEM RAZÃO - Matéria do Jornal O Globo confirma denúncias dos sindicatos: fechamento de agências bancárias contribui para o esvaziamento das áreas comerciais nos grandes centros e também nos bairros  O SINDICATO TEM RAZÃO - Matéria do Jornal O Globo confirma denúncias dos sindicatos: fechamento de agências bancárias contribui para o esvaziamento das áreas comerciais nos grandes centros e também nos bairros Foto: Fabiano Rocha/O Globo

 

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

O Centro do Rio de Janeiro vive um esvaziamento com dezenas de lojas fechadas, situação agravada desde a pandemia da covid-19. Vários aspectos contribuíram para esta decadência, como o aumento da violência e da miséria, venda de drogas à luz do dia e a concorrência com o e-comerce e varejo em plataformas digitais. No entanto, um dos fatores para o abandono de grandes lojas e departamentos na região vem sendo denunciado pelo Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e repercutiu na grande imprensa. Matéria no Jornal O Globo, publicada na terça-feira (5), mostra já no título que a extinção de agências bancárias contribui fortemente para o esvaziamento do Centro financeiro da Cidade Maravilhosa: Nos últimos 4 anos, mais da metade das agências bancárias e postos de atendimento no Centro do Rio fecharam as portas, deixando imóveis vazios.

Na contramão da revitalização

De uns anos para cá, a Prefeitura do Rio vem promovendo uma revitalização da região portuária e do centro financeiro da Cidade Maravilhosa, com a construção de diversos condomínios residenciais. Tal iniciativa certamente deverá criar uma nova demanda de estabelecimentos comerciais, como padarias, supermercados e papelarias na região. Mas esta revitalização contrasta com grandes lojas fechadas, muitas em função do fechamento de agências por parte dos bancos.

A matéria do Globo mostra que “boa parte desses grandes imóveis era ocupada por instituições financeiras que encerraram suas atividades recentemente" e reproduz o levantamento do Sindicato dos Bancários do Rio indicando que, de 2021 a abril deste ano, das 294 agências e Postos de Atendimento Bancário (PABs) existentes no Centro, 163 fecharam as portas. Restam 131, o equivalente a 44%.

“Pelo cálculo do Sindicato, entre mil e 1,2 mil vagas de trabalho — só de bancários, sem contar demais funções necessárias para o funcionamento das agências — foram perdidas, o que significa também menos gente circulando e consumindo na região”, acrescenta o texto dos jornalistas Carmélio Dias e Geraldo Ribeiro.  .

“O processo de esvaziamento das agências bancárias no Centro do Rio começou nos anos 1990, especialmente a partir da privatização do Banerj, em 1997. Atualmente a situação tem se agravado com o fechamento de agências físicas pelos bancos privados, que tem resultado em demissões em massa na categoria e prejudicado os mais pobres, especialmente os idosos, que têm dificuldade em manusear as plataformas digitais”, denunciou a vice-presidenta do Sindicato, no exercício da presidência, Kátia Branco.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) foi procurada pela equipe do jornal carioca, mas apenas informou, por nota, “que não tem levantamento sobre o número de agências fechadas no Centro do Rio e essa decisão faz parte da ‘política de negócios de cada banco’, o que 'não é monitorado’ pela federação. Disse ainda que ‘sete em cada dez transações bancárias dos brasileiros são feitas pelo celular’ e que ‘os bancos estão adequando suas estruturas à nova realidade do mercado, em que a utilização dos canais digitais de atendimento vem ganhando espaço em detrimento dos canais físicos e presenciais’.

“Os banqueiros esquecem que há uma grande população de idosos de baixa renda, aposentados, que ainda têm dificuldade em utilizar essas plataformas digitais. Além disso, apesar de compreender a realidade do uso das novas tecnologias, fato é que o crescimento no uso de meios digitais aumentou exponencialmente também o número de fraudes”, critica Kátia, em depoimento ao Jornal Bancário (confira dados no boxe da matéria).

Responsabilidade dos bancos

Cláudio André Castro, diretor da Sérgio Castro Imóveis, explicou ao Globo que os “altos custos de condomínios, aluguéis e IPTU influenciaram no fechamento, pois os valores só eram suportados por grandes bancos", mostrando que a extinção de agências foi fator fundamental para o aumento de lojas vazias.   

“A afirmação do setor imobiliário se justifica pelo fato de o setor financeiro ser, há décadas, o mais lucrativo do país. 0 sistema financeiro, mais do que qualquer outro setor, pode e deviria manter mais agências abertas, mas preferem lucrar ainda mais sem nenhum compromisso social com a população, as cidades, o país e a categoria bancária”, explica Kátia.  

A matéria relata ainda o depoimento de Carlos Alberto da Silva, de 59 anos, que há 16 trabalha como porteiro numa administradora de condomínios na Praça Pio XI, na Candelária.  Ele “lembra com saudades do tempo em que aquele trecho era um importante centro financeiro e comercial da cidade”, citando o fechamento das agências do Banco do Brasil, do Santander, da Caixa Econômica, Bradesco e Itaú, somente naquele trecho.

 

Aumentam fraudes em contas digitais de bancos e fintechs

Os bancos justificam o fechamento de agências físicas em função do uso cada vez maior da população de plataformas digitais. Mas as novas tecnologias não garantem segurança aos usuários, muito pelo contrário. O número de crimes digitais praticados neste ano, no Brasil, cresceu 45% em relação ao ano anterior, somando cerca de 5 milhões de fraudes praticadas. De acordo com a Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP), que produziu o levantamento, um em cada quatro brasileiros sofreu alguma tentativa de golpe, sendo que cerca de metade desses casos se consumou. Segundo a ADDP, os golpes bancários estão entre as modalidades mais praticadas, além de phishing (fraude online onde criminosos se fazem passar por entidades legítimas, como bancos e empresas de tecnologia) e golpes sociais, gerando prejuízos bilionários aos consumidores e empresas.  

 

 

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