Terça, 13 Mai 2025 16:51
REFERÊNCIA SOCIALISTA

O adeus a Pepe Mujica

Ex-presidente do Uruguai era uma das maiores referências da esquerda na América Latina e no mundo e enfrentava um câncer no esôfago
Pepe Mujica levava uma vida simples e jamais se deixou levar pelos privilégios da política e salões do capitalismo Pepe Mujica levava uma vida simples e jamais se deixou levar pelos privilégios da política e salões do capitalismo Foto: José Cruz/Agência Brasil

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Morreu nesta terça-feira (13), o ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica, uma referência da esquerda na América Latina e no mundo. Aos 89 anos, Mujica já havia anunciado em janeiro deste ano que seu câncer no esôfago tinha se espalhado. Na ocasião, ele declarou que “estava morrendo”.

"O câncer no meu esôfago está se espalhando para o meu fígado. Não consigo pará-lo com nada. Por quê? Porque sou um homem velho e porque tenho duas doenças crônicas. Não posso fazer nem um tratamento bioquímico, nem uma cirurgia porque meu o corpo não aguenta", disse na ocasião. O líder uruguaio admitiu que sofria de uma doença imunológica há mais de 20 anos que afetou, entre outras coisas, seus rins, o que gerava complicações no tratamento.

Respeito Internacional

Além de seu governo que sempre priorizou os trabalhadores, especialmente os mais pobres, Mujica obteve respeito e admiração internacional por seu estilo simples de vida. Ele afirmou em janeiro deste ano que sai “tranquilo e grato” depois de viver uma vida “muito boa”, apesar dos anos que passou na prisão após ser capturado enquanto lutava contra a ditadura militar. 

“A vida é uma bela aventura e um milagre. Estamos muito focados na riqueza e não na felicidade. Estamos focados apenas em fazer as coisas e, antes que você perceba, a vida já passou”, refletiu.

Um homem do campo

José Alberto "Pepe" Mujica Cordano nasceu em Paso de La Arena, Montevidéu, Uruguai, em 20 de maio de 1935.

Filho de Demétrio Mujica Terra e Lucy Cordano, nasceu em 20 de maio de 1935, no bairro Paso de la Arena, em Montevidéu, Uruguai. Sua família paterna tem ancestralidade basca, vindo da cidade de Múgica e chegando ao Uruguai em 1840. 

A família de sua mãe era composta por imigrantes italianos. Seu sobrenome materno, Cordano, veio de seu avô Antonio, cujas origens são da província de Gênova, da mesma região de onde veio a família Giorello, de sua avó, Paula. Essa parte da família, de origem piemontesa, era de viticultores muito pobres que compraram em muitas prestações uma terra de cinco hectares, paga com grande esforço. 

Seu pai era um pequeno agricultor que foi à falência pouco antes de sua morte, em 1940, quando sua irmã Maria Eudosia já havia nascido e Mujica tinha apenas seis anos e estava no terceiro ano de escola.

O revolucionário 

Durante seus anos de juventude na década de 1960, Mujica foi membro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, um grupo guerrilheiro de extrema esquerda inspirado na Revolução Cubana. Ele participou do episódio conhecido como Tomada de Pando, ocorrido em 8 de outubro de 1969, quando os tupamaros tomaram a delegacia de polícia, o quartel do corpo de bombeiros, a central telefônica e vários bancos da cidade de Pando, situada a 32 quilômetros de Montevidéu.

Em 1972, foi preso junto a grande parte dos membros do grupo. 

Após a instauração da ditadura civil-militar no ano seguinte (1973), foi um dos "reféns" que foram usados para ameaçar a organização de não retomar as atividades. 

Carreira política 

Alguns anos após a abertura democrática, criou, junto a outras lideranças do MLN e outros partidos de esquerda, o “Movimiento de Participación Popular (MPP)”, dentro da Frente Ampla. Nas eleições de 1994 foi eleito deputado por Montevidéu e, em 1999, senador. Ocupou o cargo de ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca de 2005 e 2008 durante o primeiro governo de Tabaré Vázquez. 

Exerceu o cargo de Presidente Pro tempore do Mercosul até 12 de julho de 2013. 

Mujica era ateu. Vive desde os anos 70 com a também ex-militante Lucía Topolansky, casamento que só foi oficializado em 2005. Enquanto presidente, Mujica recebia 230 mil pesos (cerca de R$ 22 122) mensais, dos quais doava quase 70% para o seu partido, a Frente Ampla, e também a um fundo para construção de moradias. Mora em uma chácara em Rincón del Cerro, zona rural de Montevidéu, onde cultiva flores e hortaliças, e com o restante do seu salário — 30 mil pesos mensais, cerca de R$ 2 800 — ele se mantinha. "Por sorte por enquanto tenho minha esposa que 'banca as despesas'", disse o ex-presidente. 

O descanso do guerreiro 

Em 2021 o ex-presidente fez uma cirurgia de emergência para a retirada de uma espinha de peixe preso no esôfago, tendo na época sido identificada uma úlcera no local. Em abril de 2024 foi diagnosticado com câncer no mesmo órgão. No dia 9 de janeiro de 2025, durante uma entrevista à imprensa, anunciou que, após 32 sessões de radioterapia, o câncer tinha atingido o fígado e estava, por essa razão, morrendo. Informou que tinha encerrado o seu tratamento e pediu para que o deixassem em paz. Aproveitou para anunciar que não iria mais conceder entrevistas e se despediu dos apoiantes com a frase: "E o guerreiro tem direito ao seu descanso”.

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