Quarta, 19 Outubro 2022 12:29

Relatório da Caixa sobre assédio sexual pode agravar situação de Pedro Guimarães

Bolsonaro e Guimarães: amigos Bolsonaro e Guimarães: amigos

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

Estava marcada para esta segunda-feira (17/10), a apresentação ao Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal do relatório da corregedoria do banco sobre as denúncias de assédio sexual contra Pedro Guimarães. A informação é do site da Contraf-CUT.

Até a edição desta matéria não havia confirmação se a entrega do relatório tinha se concretizado. O documento, com centenas de páginas, traz, além dos depoimentos das vítimas, documentos que confirmam as suspeitas e podem agravar ainda mais a situação do ex-presidente do banco e de outras pessoas ligadas a ele.

O resultado da investigação feita pela corregedoria interna da Caixa será compartilhado com o Ministério Público Federal (MPF) e com o Ministério Público do Trabalho (MPT), que também apuram as denúncias. O MPT, inclusive, já entrou com ação contra o ex-presidente da Caixa e pede que a Justiça o condene ao pagamento de R$ 30, 5 milhões pelos danos causados às mulheres que o acusam de assédio moral e sexual. Os recursos devem ser revertidos a um fundo de proteção dos direitos dos trabalhadores.

Guimarães era amigo e braço direito de Jair Bolsonaro, chegando a ter seu nome cogitado para ser candidato a vice-presidente. “A Caixa também contratou um escritório de advocacia para fazer uma apuração paralela, cujos resultados já deveriam ter sido divulgados. Mas, como não houve divulgação até o momento, não sabemos se foi ou será decretado 100 anos de sigilo sobre o mesmo”, ironizou o empregado da Caixa e dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Rafael de Castro.

Saiba mais

Pedro Guimarães foi acusado de assédio sexual por várias empregadas da Caixa. A informação foi divulgada no dia 28 de junho de 2022 pelo site Metrópoles. Em poucos minutos a notícia ganhou repercussão nacional, em especial na Câmara dos Deputados, onde vários parlamentares pediram em plenário a demissão do executivo.

Segundo a reportagem, no fim de 2021, um grupo de empregadas, ligadas ao gabinete da presidência da Caixa, rompeu o silêncio com uma denúncia, ao Ministério Público Federal (MPF), de assédios sexuais que vinham sofrendo. Desde então, o MPF toca as investigações em sigilo. Cinco das vítimas falaram à reportagem citada sob anonimato.

Nos testemunhos, elas contam que foram abusadas com toques em partes íntimas sem consentimento, falas e abordagens inconvenientes e convites desrespeitosos, por parte do então presidente da entidade. A maior parte dos relatos está ligada a atividades do programa Caixa Mais Brasil, realizadas em todo o país. Pelo programa, desde 2019, ocorreram mais de 140 viagens, em que estavam Pedro Guimarães e equipe. Nesses eventos profissionais, todos ficavam no mesmo hotel, onde ocorriam os assédios.

No dia 29 de junho, Pedro Guimarães entregou ao presidente da República, Jair Bolsonaro, seu pedido de demissão da presidência da Caixa.

Interferência

A corregedoria tem autonomia para conduzir a apuração, mas, segundo o portal Metrópoles, investigadores do Ministério Público foram informados de que houve pressão de pessoas ligadas à antiga cúpula do banco para que o relatório não reforçasse as denúncias de assédio.

O mesmo portal também informou que o motorista de confiança de Pedro havia sido colocado como agente de segurança na entrada da sala destinada para receber as mulheres que queriam fazer denúncias de assédio.

“Havia sido garantido o sigilo da identidade das vítimas que fizessem as denúncias. Aí colocam o cara de confiança do denunciado para fazer a ‘segurança’ do local?! É um absurdo!”, disse indignada a empregada e diretora executiva da Contraf-CUT, Eliana Brasil.

Segundo o portal, o caso foi levado ao conhecimento da corregedoria e o ex-motorista de Pedro Guimarães afastado do local.

Assédio sexual é crime

O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, lembra que, no Brasil, assédio sexual é crime, definido no artigo 216-A do Código Penal, que prevê a pena de detenção de um a dois anos.

“Se apurada e comprovada a culpa, não se pode ‘passar a mão na cabeça’ somente porque trata-se de um ex-presidente do banco. Se é culpado, deve responder na Justiça comum pelo que fez, uma vez que o assédio sexual é um crime com pena prevista no Código Penal”, disse o presidente da Fenae. “Além disso, a legislação trabalhista também prevê indenização para reparação do dano causado às vítimas”, completou.

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