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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Com informações da Contraf-CUT
Durante o 40º Conecef (Congresso Nacional dos Empregados e Empregadas da Caixa Econômica Federal), realizado na sexta-feira (22), os participantes debateram o impacto da Inteligência Artificial (IA), os bancos digitais e o futuro da Caixa. Empregadas e empregados cobraram da direção do banco que o respeito ao ser humano esteja no centro do uso da IA na empresa.
“Esta mesa é profundamente importante para pensarmos a Caixa que queremos para o futuro do país”, afirmou Luiza Hansen, representante da Fetec-CUT/SP na Comissão Executiva dos Empregados (CEE).
O diretor do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Rogério Campanate, representante da Federa-RJ, destacou que a classe trabalhadora precisa se apropriar da IA e dos seus benefícios, e não apenas lidar com os problemas que ela pode causar.
“Precisamos estudar mais e entender mais sobre IA. Talvez, por conta dos custos, isso tenha ficado restrito aos bancos e à classe empresarial. Mas é fundamental que as entidades sindicais e os trabalhadores também dominem essa tecnologia. A IA pode cuidar das tarefas burocráticas, permitindo que a gente se aproxime mais das pessoas e fortaleça nossas relações humanas”, defendeu Campanate.
O professor livre-docente do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Sávio Machado Cavalcante, traçou um panorama dos avanços tecnológicos e da evolução histórica da automação. Ele lembrou que a ideia de que a tecnologia acabaria com os empregos é antiga.
“Nos anos 1970, já se dizia que os livros iriam desaparecer com a chegada dos computadores. Em 2010, voltou-se a discutir os efeitos da tecnologia, com a polarização entre gerações: de um lado, os que cresceram no mundo digital; de outro, os que precisaram se adaptar. Esse debate precisa ser ampliado no Brasil”, afirmou.
Segundo ele, o avanço tecnológico deve ser acompanhado de uma construção coletiva.
“Não é possível pensar a introdução da IA sem discutir os direitos das pessoas envolvidas. Precisamos encontrar formas de regulamentar essas tecnologias. Não está em jogo apenas o futuro de uma categoria, mas o futuro da humanidade”, alertou o professor.
Os participantes também reforçaram a importância de manter o ser humano no centro das transformações digitais.
“Essa mesa é importante para refletirmos sobre o momento em que nossa empresa se encontra na transformação digital. Essa mudança é necessária e urgente, mas precisa acontecer com a participação das empregadas e empregados”, afirmou Fabiana Uehara, representante eleita no Conselho de Administração da Caixa.
Ela defendeu que a Caixa continue sendo um instrumento de cidadania e desenvolvimento.
“Transformar vidas deve ser o propósito estratégico da Caixa — mas não só para a sociedade externa, e sim também para quem constrói a empresa por dentro. Os avanços tecnológicos devem estar a serviço das pessoas. É preciso reduzir a sobrecarga de trabalho para preservar a saúde mental e garantir mais tempo para a família e o descanso”, concluiu.
Diante da rápida evolução tecnológica, os participantes do Conecef defenderam a necessidade de requalificação contínua dos trabalhadores, imposta pelas novas exigências do modelo de negócios.
“A digitalização pode significar o fechamento de agências físicas, o que desafia a missão social da Caixa. Precisamos equilibrar a eficiência digital com a inclusão e o acesso em regiões vulneráveis”, apontou Fabiana.
Ela alertou também para os impactos no emprego:
“Temos que pensar no que vai acontecer com funções como as de caixas e tesoureiros. Mas também precisamos considerar o atendimento à população que vive em áreas remotas e ainda não tem acesso ao mundo digital. A Caixa existe para servir ao povo brasileiro”, ressaltou.
A última mesa do dia teve como tema a Funcef e foi coordenada por Emanoel Souza de Jesus, diretor da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe. O vice-presidente da Fenae, Clotário Cardoso, abriu os debates lembrando os desafios que a Funcef enfrentará nos próximos meses, especialmente com a incorporação do REB — uma antiga reivindicação dos trabalhadores, aprovada no início deste ano.
João Paulo Pierozan, da Fetec-PR, também participou da mesa e destacou a importância da luta por dignidade no pós-emprego e os desafios relacionados ao plano de saúde.
“Temos que defender uma Caixa 100% pública. Se o banco deixar de ser público, benefícios como a Funcef e o Saúde Caixa correm o risco de desaparecer”, alertou.
Jair Pedro Ferreira, diretor de Benefícios da Funcef, explicou que o fundo de previdência dos empregados da Caixa é o terceiro maior do país.
“A principal missão da Funcef é pagar benefícios. Hoje, pagamos R$ 550 milhões por mês, com um patrimônio de R$ 110 bilhões, que precisa ser bem gerido para garantir os pagamentos futuros”, afirmou.
Ele também destacou a longevidade dos beneficiários:
“Entre os mais de 30 beneficiários com mais de 100 anos, 24 são mulheres. E temos mais de 900 pessoas com mais de 90 anos recebendo benefícios da Funcef”, contou.
Jair falou ainda sobre o acordo do contencioso assinado com a Caixa, que trata de um conjunto de processos judiciais envolvendo a Fundação e o banco, com origem nas relações de trabalho do passado e que impactam diretamente os planos de benefício da Funcef.
Em dezembro de 2024, Caixa e Funcef firmaram um novo acordo operacional para solucionar essas pendências, buscando reduzir os passivos judiciais com responsabilização da Caixa e garantir a sustentabilidade dos planos — um avanço importante após anos de negociação.