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Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
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Imprensa SeebRio
A queda expressiva dos lucros do Banco do Brasil em 2025 resulta da combinação de três fatores principais: os juros altos, a entrada em vigor de uma nova norma contábil que aumentou a exigência de provisões e a inadimplência recorde do agronegócio, setor que concentra uma parte relevante das operações do banco. Essa “tempestade (im)perfeita” ajuda a entender por que o desempenho do BB destoou dos bancos privados, que cresceram no mesmo período.
A avaliação é da economista Rosângela Vieira dos Santos, da Rede Bancários – Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), que apresentou uma análise de conjuntura que traduziu com clareza os dilemas atuais da instituição, durante palestra, nesta sexta-feira (22/8) no 35º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (35º CNFBB). A exposição mostrou como o banco tem enfrentado fortes pressões, mas também reafirmou sua relevância estratégica para o desenvolvimento nacional.
Economia vai bem – Rosângela lembrou que a economia brasileira viveu um ciclo recente de crescimento, geração de empregos e queda da inflação. No entanto, o peso dos juros elevados freia a atividade e tem impacto direto sobre os bancos públicos. No caso do Banco do Brasil, o custo de captar recursos se tornou muito mais caro, o que pressiona seus resultados e reduz a rentabilidade.
Peso do agronegócio impactou no lucro – “O agro derrubou o lucro do BB. Isso mostra como a concentração da carteira nesse setor fragiliza os resultados e, ao mesmo tempo, nos obriga a discutir o papel político e histórico do banco”, destacou Rosângela.
A taxa de inadimplência na carteira de crédito do agronegócio atingiu 3,49%, um recorde histórico para o banco. O banco foi forçado a aumentar as suas provisões, que somaram R$ 17,3 mil milhões no segundo trimestre de 2025, uma alta de 80% em relação ao ano anterior, devido principalmente ao setor agro. Com isto, O Banco do Brasil (BB) sofreu uma queda de 60% no lucro líquido ajustado do segundo trimestre de 2025, atingindo R$ 3,8 mil milhões.
A economista frisou que o Banco do Brasil possui a maior carteira de crédito rural do país, muito superior à soma das principais instituições privadas. Essa característica reforça seu papel como motor do financiamento agrícola, mas também o torna mais vulnerável quando o setor enfrenta dificuldades, como ocorre hoje. A inadimplência no campo aumentou, refletindo diretamente nos resultados do banco.
Juros altos, também reduziu o resultado – Outro aspecto abordado foi o aumento das despesas do banco, desde os custos para captar recursos até os gastos administrativos. Embora as receitas com crédito e serviços sigam relevantes, o crescimento não tem sido suficiente para compensar o peso das provisões e do funding (captação de recursos) mais caro. A digitalização e os investimentos em inteligência artificial também trazem ganhos de eficiência, mas podem gerar maior pressão sobre os trabalhadores, sobretudo em áreas ligadas ao atendimento e renegociação de dívidas.
Mesmo diante desse quadro adverso, Rosângela frisou que o Banco do Brasil continua desempenhando funções essenciais para o país. O apoio à agricultura familiar, o crédito acessível para trabalhadores e a reabertura de agências após anos de fechamento demonstram sua importância como instrumento de inclusão financeira e de fortalecimento da economia real.
Recuperação – A análise apontou que a trajetória futura do banco dependerá de fatores como a evolução da inadimplência no agronegócio, a esperada redução dos juros e a adaptação às novas regras contábeis. Mas ressaltou que o mais importante é garantir que os ajustes não recaiam de forma desproporcional sobre os trabalhadores. Para Rosângela, o Banco do Brasil é estratégico demais para ser pensado apenas em termos de balanço, ele é uma ferramenta de soberania nacional, de desenvolvimento e de justiça social.
*Com informações da Contraf-CUT.