Segunda, 18 Agosto 2025 20:19

Mudança nas regras contábeis e inadimplência fizeram cair o lucro do BB no primeiro semestre

A economista do Dieese, Millena Alves: “A queda no lucro do BB foi impactada sobretudo pelas mudanças nas regras contábeis”. Foto: Nando Neves. A economista do Dieese, Millena Alves: “A queda no lucro do BB foi impactada sobretudo pelas mudanças nas regras contábeis”. Foto: Nando Neves.

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Imprensa SeebRio

O Banco do Brasil, de janeiro a junho, teve lucro líquido de R$ 11,2 bilhões. A queda foi de 40,7% em relação ao segundo semestre do ano passado.

Segundo Millena Alves, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o resultado teve a ver com as mudanças nas regras contábeis, aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e colocadas em prática pelo Banco Central (BC), além do impacto causado pelo crescimento da inadimplência.

O lucro ficou abaixo das expectativas do mercado financeiro. “A queda no lucro foi impactada sobretudo pelas mudanças nas regras contábeis da resolução 4.966/2021, com efeito líquido negativo nas receitas de crédito; além de reclassificações de linhas de títulos privados que passaram a ser contabilizados como receitas de crédito. Tais reclassificações afetaram as receitas de tesouraria”, explicou a especialista.

Voltar a crescer – O lucro do primeiro trimestre (abril a junho) deste ano foi de R$ 3,8 bilhões, mostrando também uma queda, de 60%, em relação ao mesmo período de 2024. Em nota, o BB informou que atravessa um momento de ajuste para expandir-se mais à frente.

“O ano de 2025 é de ajuste para aceleração do crescimento. Projetamos lucro entre R$ 21 e R$ 25 bilhões e seguimos com investimentos estruturantes para geração de riqueza aos nossos acionistas, oferecendo a melhor experiência e soluções mais adequadas aos nossos clientes. Isso passa pelo relacionamento pautado pela proximidade, pelo uso intensivo de tecnologia e capacitação permanente dos nossos funcionários”, destacou em comunicado a presidenta do BB, Tarciana Medeiros.

Caso o lucro de 2025 fique na projeção máxima de R$ 25 bilhões, mesmo assim o valor será inferior ao lucro recorde de R$ 37,9 bilhões, alcançado em 2024.

Entenda melhor – Em janeiro, entrou em vigor uma resolução do CMN que alterou a contabilidade das instituições financeiras e interferiu no resultado. Aprovadas em 2021, as novas regras só entraram em vigor neste ano.

Com a resolução, houve mudança no modelo de provisões (para a cobertura de inadimplências) para ‘perda esperada’, feita com base em estimativas. Isso afetou a maneira como algumas despesas e receitas são reconhecidas.

Calote do agronegócio também puxou lucro para baixo – Segundo a Agência Brasil, pelas novas regras, o reconhecimento das receitas de juros das operações consideradas estágio 3 (com atrasos acima de 90 dias) pelo regime de caixa fez com que o banco deixasse de reconhecer R$ 1 bilhão em receitas de crédito. O regime de caixa só permite o reconhecimento de receitas quando o dinheiro efetivamente entra no caixa da instituição financeira.

Outro fator para o resultado, foi o índice de inadimplência, que considera atrasos de mais de 90 dias, e subiu para 4,21% no segundo trimestre, contra 3,86% no primeiro trimestre de 2024 e 3% no segundo trimestre do ano passado. O resultado é influenciado principalmente pelo agronegócio, segmento onde o banco lidera na concessão de crédito.

Crédito cresceu – A Agência Brasil explica que apesar da queda do lucro, o BB emprestou mais no segundo trimestre. A carteira de crédito ampliada encerrou junho em R$ 1,3 trilhão, alta de 1,3% no trimestre e de 11,2% em 12 meses.

Na distribuição por segmentos de crédito, os resultados foram os seguintes:

Pessoa Física: R$ 342,6 bilhões no fim de junho, alta de 2% no trimestre e 8% em um ano, com destaque para a nova modalidade de crédito consignado para CLT, destinado a trabalhadores da iniciativa privada;

Pessoa Jurídica: R$ 468 bilhões, alta de 1,8% no trimestre e de 14,7% em um ano. Desse total, R$ 271 bilhões são para grandes empresas e R$ 75 bilhões para clientes do governo;

Agronegócios: R$ 404,9 bilhões, alta 8% em um ano, com destaque para as linhas de custeio e investimento. Nos nove meses do Plano Safra 2024/2025, o Banco do Brasil desembolsou R$ 225,8 bilhões em crédito ao segmento e pretende emprestar R$ 230 bilhões para o Plano Safra 2025/2026;

Carteira de Crédito Sustentável: R$ 396,5 bilhões, financiando atividades que geram impactos sociais e ambientais positivos, com alta de 10,6% em 12 meses.

 

 

 

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