Sábado, 14 Agosto 2021 16:38
SAÚDE

Pandemia e a reestruturação nos bancos aprofundam a exploração e doenças do trabalho

Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT disse que a situação crítica da pandemia não permite o retorno em massa de bancários ao trabalho presencial Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT disse que a situação crítica da pandemia não permite o retorno em massa de bancários ao trabalho presencial Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

No painel para debater a saúde dos bancários durante a Conferência Estadual dos Bancários do Rio, realizado no sábado (14), o secretário de Saúde da Contraf CUT Mauro Salles, disse que, mais do que nunca, este é um tema central da campanha nacional da categoria.

“Sempre demos atenção especial à saúde e às condições de trabalho, mas com a pandemia mais ainda. A pandemia e a reestruturação nos bancos aprofundaram a exploração, com unidades de negócios, home office, teletrabalho, e todo este processo de mudanças que acontece no contexto de um governo hostil aos trabalhadores, o que nos traz grandes desafios”, disse.

Metas adoecem

Salles criticou as metas que adoecem os trabalhadores e é ainda mais cruel diante da crise sanitária da Covid-19.

“As metas abusivas continuam a todo a vapor durante a pandemia e as LER/Dorts cresceram com o home office improvisado, que foi necessário para proteger as vidas, mas o bancário trabalha, muitas vezes, com o notebook no colo, na mesa de refeições, elevando as doenças ocupacionais físicas e os problemas psíquicos, situação agravada pela pandemia. O ‘mecanismo adoecedor’, que já existia, se aprofundou com metas ainda mais abusivas e cobradas de formas cada vez mais duras”, explica.  

O sindicalista lembra que, além do medo do assédio, das metas e das demissões, o trabalhador convive também com o medo do vírus e da morte, o que agrava os problemas de saúde dos funcionários.

A concorrência dos bancos com as fintechs e plataformas digitais foi apontado como mais um agravante na saúde dos bancários, pois elevou a cobrança por melhores resultados, afetando a saúde física e psíquica da categoria, cada vez mais frágil.

Direitos na doença ocupacional

Mauro criticou também o tratamento dado aos bancários nas clínicas contratadas pelos bancos.

“Pioraram os serviços médicos dos bancos que dificultam o atendimento e muitos profissionais trabalham para negar as doenças ocupacionais e os benefícios do INSS para os empregados”, disse, destacando a importância do retorno do tema saúde nas mesas permanentes de negociação com os bancos.

Importância dos sindicatos

Falou também dos avanços conseguidos pelo movimento sindical desde a decretação da pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em março de 2020. “O movimento sindical se concentrou na proteção à vida e na aplicabilidade dos protocolos de prevenção à Covid-19. Conseguimos garantir que mais da metade da categoria ficasse em home office, um distanciamento necessário, garantimos a redução do horário de atendimento nos bancos , o revezamento nas unidades físicas e o afastamento dos funcionários contaminados”.

Situação é ainda crítica

O dirigente da Contraf-CUT disse ainda que as medidas de prevenção precisam continuar nos bancos, em função da situação complicada da pandemia.

“As condições ainda são críticas e o Rio de Janeiro já é um dos epicentros da variante Delta. Ainda temos no país, mil mortes diárias, a vacinação é lenta e desigual. Segundo especialistas da Fiocruz a lentidão na imunização faz com que tenha de haver pelo menos 80% de imunização completa na população e só temos 23%. E, mesmo com a vacina, que reduz a gravidade e o risco de morte, pode haver o adoecimento. Por isso, é preciso manter os cuidados e as medidas de proteção”, alerta.

Cuidados no retorno

O palestrante criticou os bancos que estão ensaiando e praticando a volta de bancários em home office e funcionários do grupo de risco ao trabalho presencial.

“Na última reunião do Comando Nacional com a Fenaban, cobramos a responsabilidade dos bancos, que estão colocando os bancários em risco, como se tivesse tudo normalizado, o que só acontecerá com as duas doses completas. Mesmo assim, há várias outras questões, como aqueles que têm familiar no grupo de risco, com comorbidade”, acrescentou, citando o caso recente da morte de Tarcísio Meira, mesmo o ator tendo tomado as duas doses da vacina.

“Para voltar às agências, quando houver uma situação mais segura, o bancário tem que passar por exames médicos para o retorno. A Fenaban disse reconhecer que o momento requer prudência, mas não pratica isso. A situação mais grave é no Santander que anunciou o retorno de 80% de seu quadro de funcionários ao trabalho presencial”, denuncia.   

A Conferência defendeu um protocolo único para todos os bancos, com os mesmos parâmetros. “Os bancos fizeram uma proposta e a expectativa é que tenhamos essa unidade nas medidas de prevenção. Nós vamos ter de conviver por um bom tempo com essa situação mesmo com a vacinação completa e até podemos ter a necessidade de uma terceira dose”, disse, citando o que já ocorre na China.

Imunização dos bancários

Salles destacou ainda a importância da inclusão da categoria bancária no Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, após muita pressão dos sindicatos, mas criticou o fato de que, em muitos estados e municípios, a vacinação sequer começou, como é o caso do Rio de Janeiro.

“Esse PNI do governo federal é uma bagunça, mas graças a esta decisão conquistada pelo movimento sindical, se houver a necessidade de uma nova campanha de terceira dose, os bancários já estão incluídos na prioridade”. Lembrou que a inclusão dos bancários no PNI não é um privilégio e nem a categoria está furando fila. “Provamos o alto risco de transmissão dos bancários em relação a outras categorias. Morre mais trabalhadores do que em outros setores, por que os ambientes de trabalho nos bancos são insalubres, sem ventilação natural, em função da necessidade de segurança”, explicou.  

Sequelas preocupam

Outra preocupação apontada pelo dirigente sindical são as sequelas da Covid-19. “Estudos comprovam que mesmo com sintomas leves, o vírus deixa sequelas, especialmente problemas neurológicos, cardíacos e de memória. Muitos bancários estão voltando às agências com sequelas, impactando na saúde e no desempenho da atividade profissional. A situação se agrava em função das metas, com ameaças de descomissionamento e demissões. Os bancos têm de ter responsabilidade, realizar exames para o retorno e verificar se o empregado tem condições de voltar, além de garantir toda a assistência aos funcionários, os direitos previdenciários e trabalhistas e ao tratamento, pois muitas vezes os planos de saúde não cobrem por que são procedimentos caros”.

Os delegados da conferência destacaram a importância da pesquisa realizada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em parceria com a Contraf-CUT, sobre as sequelas da Covid-19 na categoria. Os dados serão fundamentais para os sindicatos apresentarem durante as negociações, como ocorreu na pesquisa sobre teletrabalho.  

A concorrência dos bancos com as fintechs e plataformas digitais foi apontado como mais um agravante na saúde dos bancários, pois elevou a cobrança por melhores resultados, afetando a saúde física e psíquica da categoria, cada vez mais frágil.

Salles elogiou o esforço de dirigentes sindicais que fecharam agências em casos de contágio pela Covid na unidade, fiscalizaram, correndo riscos de vida para defender direitos e a vida da categoria, inclusive com casos de sindicalistas que pagaram com a própria vida no cumprimento de sua missão.

O encontro considerou outro grande desafio, o de o movimento sindical conseguir representar trabalhadores MEIs, PJs, agentes de negócios, que não possuem a cobertura da Convenção Coletiva de Trabalho dos bancários.

“A saúde escancara a exploração e possibilita a criação da consciência crítica no trabalhador’, concluiu Salles.

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