Quarta, 13 Janeiro 2021 23:46

Funcionários iniciam mobilização contra desmonte do BB. Sexta é Dia de Luto

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

O pontapé inicial da luta para barrar o plano de reestruturação do Banco do Brasil foi dado nesta quarta-feira (13/1), com a aprovação de um calendário de mobilizações nacionais pela Comissão de Empresa dos Funcionários (CEBB), ratificado pela Contraf-CUT, sindicatos e plenárias em todo o país, como as do Rio de Janeiro e São Paulo, realizadas também nesta quarta-feira. A de Brasília será nesta quinta.

As mobilizações acontecerão em todos os estados. A primeira será nesta sexta-feira (15/1): um Dia Nacional de Luto, com todos vestindo preto e enviando fotos pelas redes sociais aos sindicatos de cada base. O calendário prevê, ainda, uma nova reunião da CEBB, desta vez no dia 19, para organizar as manifestações do dia 21 de janeiro, um Dia Nacional de Lutas Contra o Desmonte e em Defesa do Banco do Brasil e discutir desdobramentos.

A avaliação da plenária do Rio de Janeiro – da qual participaram a atual presidenta do Sindicato, Adriana Nalesso, e dois ex-presidentes da entidade, Ivan Pinheiro e Fernanda Carísio, além da Caref, Débora Fonseca – é de que para impedir a consecução do plano será necessária a participação massiva dos funcionários e de outras categorias que também serão fortemente atingidas com a perda de empregos, como os terceirizados, entre eles os vigilantes e pessoal administrativo. Na avaliação dos participantes, o desmonte é criminoso, pois vai prejudicar toda a população e todo o país num momento de crise sanitária e econômica, provocada pela pandemia, em que mais o Banco do Brasil se faz necessário.

Mobilização crescente

Para os participantes, o plano de reestruturação tem como objetivo preparar a privatização do BB para dar mais lucro ao setor privado e fazer caixa para o ajuste fiscal do governo. Aumenta, ainda, a dependência do Brasil junto aos países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, exigindo, por isto mesmo, além de uma mobilização crescente do funcionalismo, a articulação de uma luta nacional e unitária com trabalhadores das demais estatais que passam por processos de desmonte semelhantes, fechamento e privatização de unidades e demissões. Entre estas, a Caixa Econômica Federal, os Correios e a Petrobras. Esta luta deve buscar a participação, ainda, de toda a sociedade que será atingida pelo ataque ao setor público.

Desmonte desgasta Bolsonaro

Do movimento nacional de pressão para barrar a implantação do desmonte do BB farão parte ainda parlamentares que estão sendo contatados. O PSB já enviou documento cobrando esclarecimentos ao governo sobre os motivos da reestruturação. A bancada do PT da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro divulgou ofício denunciando os prejuízos ao banco e ao país. Líderes destes partidos, do PCdoB, da Rede, do PSOL e de outros no Congresso Nacional farão pronunciamentos contra o desmonte.

O desgaste provocado é muito grande e exigiu de Bolsonaro a iniciativa insólita de demitir o executivo que implantou a medida com a sua autorização, e a do ministro da Economia Paulo Guedes. A notícia da demissão de André Brandão da Presidência do BB, motivada, segundo ‘fontes palacianas’ pelo ‘descontentamento de Bolsonaro’ com a reestruturação, foi avaliada pela plenária, como uma cortina de fumaça, visando protegê-lo de um imenso desgaste, num ano pré-eleitoral.

A armação foi encarada como um termômetro do desgaste gigantesco provocado pelo anúncio do desmonte. Por isto mesmo foi unânime a proposta de ampliar o máximo possível as denúncias sobre as consequências nefastas da reestruturação, que prevê 5 mil demissões, além da redução do número de agências, corte de salários e de funções.

Decisão tomada às escondidas

Rita Mota, diretora do Sindicato e membro da CEBB, avaliou que, de todo o modo Bolsonaro está errado. “Se sabia está tentando fugir da sua responsabilidade, querendo inventar um motivo para não se desgastar. Se não sabia, é incompetência, já que Brandão era seu subordinado e do seu ministro da Economia, Paulo Guedes”, argumentou.

Débora Fonseca, Representante dos Funcionários no Conselho de Administração do banco (Caref), durante a plenária defendeu a denúncia mais ampla possível dos prejuízos que as medidas provocarão ao BB e a toda a sociedade. “Foi uma decisão tomada a portas fechadas, para que apenas um pequeno número de pessoas soubesse. Enviei ofício cobrando explicações sobre as medidas e os motivos que levaram a direção do banco a esconder as informações que tenho o direito legal de saber”, afirmou.

E acrescentou: “A gente tem que fazer um grande movimento nacional de resistência para que este pacote seja revisto. Inclusive com o apoio de parlamentares. O impacto do desmonte é muito grande para o BB e para todo o país. Atingiu o banco de uma forma absurda. Temos que atuar para impedí-lo”, afirmou.

O ataque

O desmonte foi imposto pelo governo Bolsonaro em meio à pandemia; reduz a rede de agências do banco, corta salários, funções gratificadas e prevê a redução de 5 mil postos de trabalho. As medidas previstas para serem impostas neste primeiro semestre de 2021, englobam o fechamento de 361 unidades, sendo 112 agências, 7 escritórios e 242 Postos de Atendimento (PA), além da conversão de 243 agências em postos de atendimento e a ‘transformação’ de 145 unidades de negócios em Lojas BB, estes dois últimos, sem gerentes e guichês de caixa.

Com o fechamento de agências e a sua transformação em PAs, serão cortadas funções gerenciais e de módulo, tendo o banco anunciado, também, a extinção do pagamento contínuo da gratificação de caixa. Os funcionários destas atividades sofrerão uma redução salarial significativa. Os caixas passarão a receber como escriturários. Como parte do plano de desmonte do BB, o governo federal, maior acionista individual do banco, pretende dispensar mais de 5 mil funcionários através do Plano de Adequação de Quadros (PAQ) e do Plano de Desligamento Extraordinário (PDE).

Segundo documento ao mercado, intitulado “Informação Relevante”, assinado por Carlos José da Costa André, vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores, o plano está sendo imposto para ‘adequar’ o BB ao novo perfil dos clientes que se utilizam dos canais digitais, ‘esquecendo’ que no Brasil, 47 milhões de habitantes simplesmente não têm acesso à internet. E para economizar R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhões até 2025, mesmo com lucro líquido de R$ 10,189 bilhões nos primeiros nove meses de 2020, dentro da política de diminuição do Estado e de ajuste fiscal. 

 

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