Terça, 15 Setembro 2020 15:48

COE vai cobrar do Bradesco respeito ao acordo de não demissão na pandemia

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

A Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Bradesco está cobrando do banco o agendamento de uma negociação em que vai exigir a suspensão do processo de demissões que acontece em plena pandemia, desrespeitando acordo firmado com a Contraf-CUT e sindicatos de todo o país. A informação é da diretora do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Nanci Furtado. A dirigente classificou a situação como gravíssima porque aumenta a tensão já existente devido ao risco de contaminação e a sobrecarga de trabalho que vinha acontecendo antes mesmo do novo coronavírus, gerando aumento do estresse e de outras doenças de ordem psicológica, como ansiedade, depressão e síndrome do pânico, e físicas, como as lesões por esforço repetitivo (LERD-Dort).

Nanci lembrou que a sobrecarga de trabalho se tornou ainda maior porque o banco, além de não promover admissões para adequar o atendimento à redução de pessoal nas agências – devido aos protocolos de prevenção da contaminação pelo coronavírus – ainda vem promovendo demissões. “O Bradesco está demitindo toda a semana, e a conta-gotas, dois, três, já tendo dispensado durante a pandemia, mais de 20 funcionários. E isso ocorre nacionalmente. Suspeitamos que seja uma preparação para algo pior, que pode vir com o fechamento de agências”, avalia.

Protocolo deve ser respeitado

Repetiu que as demissões ferem o acordo assinado com os bancos de não demissão durante a pandemia. “Por isto mesmo, estamos cobrando esta reunião o mais rápido possível”, disse. Acrescentou ter sido constatado que as dispensas vêm atingindo bancários com mais tempo de trabalho. Já se sabe que não estão sendo por justa causa.

Alertou os funcionários de que não podem, por temer pressões, descumprir o protocolo do coronavírus. “Desde o início da pandemia o banco afirmou que aqueles que descumprissem o protocolo seriam demitidos por justa causa. Recebemos denúncias de que há gestores que ficam ‘pedindo’ que funcionários em teletrabalho vão aos locais mais diversos a fim de pegar objetos, documentos, o que contraria o protocolo, pois são pessoas do grupo de risco que não podem sair de casa”, lembrou. “Os que estão em quarentena não podem ir às agências. Em São Paulo, houve demissão por justa causa por desrespeito ao protocolo”, frisou.

Bradesco exclui população

Nanci disse ainda que os bancos, entre eles o Bradesco, estão restringindo o atendimento à população. “Trata-se de um projeto elitizante de exclusão para transformar as agências em ‘agências de negócios’. É uma mudança de perfil que não se justifica. O Bradesco sempre foi voltado ao varejo. Hoje nos deparamos com agências com apenas um caixa, clientes sendo direcionados a fazer pagamentos e outras operações em correspondentes bancários. O que é, inclusive, ilegal, porque os bancos são concessões públicas e têm que atender à população em geral. Ao fazer isto, o Bradesco deixa a população à deriva, colocando-a, ainda, contra os bancários que estão no atendimento e são erroneamente vistos como não querendo atender, quando, na verdade, esta é uma política do próprio Bradesco”, afirmou a diretora.

Pressão também sobre gestores

Nanci disse ainda que o Sindicato tem recebido denúncias de que também gestores que estão no grupo de risco são sutilmente pressionados para voltarem ao trabalho. “Temos informações de que existe um ‘apelo’ quase que velado para que estas pessoas entrem em contato com o Viva Bem e se disponibilizem a voltar às suas atividades. O Sindicato alerta que a concordância com esta pressão abre brecha para que, lá na frente, o Bradesco demita por justa causa”, argumentou.

Governo junto com os bancos

Nanci denunciou, ainda, uma política do governo Bolsonaro, de expandir as lotéricas, ligadas à Caixa Econômica Federal, usadas pelos bancos, para não atender sua clientela e à população, inclusive da própria CEF. “Temos constatado o crescimento no número de correspondentes bancários, sobretudo lotéricas, o que mostra um movimento conjunto do governo federal e dos bancos, de exclusão dos usuários, como forma de elitizar o atendimento e deixar sem serviço os mais pobres”, acusou.

Classificou a ação conjunta como cruel, num momento em que mais as pessoas precisam dos serviços bancários, considerados essenciais devido à pandemia. “É, sem dúvida, uma prática cruel do governo voltada para garantir ainda mais lucros aos bancos, sem a mínima preocupação com a população, num momento grave como este que vivemos. As pessoas estão, inclusive, correndo riscos enormes, tanto porque as lotéricas e outros correspondentes não têm a segurança necessária, quanto não seguem protocolos de prevenção à covid-19, o que aumenta o risco de contaminação”, disse.

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