Sábado, 23 Agosto 2025 15:58
ELEIÇÃO DECISIVA

Eleger senadores progressistas será fundamental para a defesa da democracia

Professor João Cezar Rocha alerta para a estratégia da extrema-direita de garantir maioria absoluta no Senado para promover um 'golpe' dentro da institucionalidade
O professor João Cezar de Castro Rocha (segundo à esquerda) alertou para a importância da classe trabalhadora eleger senadores progressistas em 2026 para a defesa da democracia O professor João Cezar de Castro Rocha (segundo à esquerda) alertou para a importância da classe trabalhadora eleger senadores progressistas em 2026 para a defesa da democracia Foto: Contraf-CUT

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio

A 27ª Conferência Nacional dos Bancários, realizada na manhã deste sábado (23), contou com a presença do historiador e professor de Literatura Comparada, João Cezar de Castro Rocha. Na pauta, o debate sobre os rumos da democracia e da soberania nacional.

O movimento sindical trouxe o tema para a Conferência a fim de a categoria criar estratégias de defesa da soberania e do fortalecimento da democracia. 

João fez uma análise da conjuntura histórica e política, relacionando a formação estrutural de privilégios no Brasil, as novas táticas da extrema direita transnacional e a necessidade de vigilância permanente para evitar retrocessos. Ele acredita que o Senado será um campo estratégico na disputa política nas eleições brasileiras de 2026. “O projeto da extrema direita é concentrar as forças no Senado. Porque se tiver maioria ali, a porta estará aberta para os retrocessos”, alertou. 

Preservação de privilégios

o acadêmico, a democracia brasileira sempre conviveu com contradições profundas, pois o Estado foi moldado para preservar privilégios. “Todo o Estado brasileiro foi montado como uma máquina de permanência de privilégios. Não é apenas a estrutura tributária regressiva, mas também o sistema judicial e o modelo de inflação que multiplica recursos para os mais ricos e nega acesso real à justiça para os pobres", explicou. A exceção, segundo o professor, é a Justiça do Trabalho e a consequente organização sindical

“É a única instância que foi criada em defesa do trabalhador e, por isso mesmo, vem sendo desmontada, tijolo a tijolo, desde o golpe de 2016”, destacou, referindo-se ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff que levou ao poder o seu vice, Michel Temer (MDB). “Desde as reformas do Michel Temer, tudo é feito para que os sindicatos sejam cada vez menos importantes e representativos.”, explicou. 

Segundo ele, essa capacidade de transformar a exceção em rotina alimenta a “cultura do ódio” e conquista corações e mentes, sobretudo das novas gerações, por meio das redes sociais e das fake news, sustentando a narrativa da extrema-direita.   

“Nunca na nossa história houve a normalização do absurdo como ocorre hoje. E a extrema direita depende dessa normalização”, acrescentou

Plano da extrema direita

Ainda nas palavras do professor, a extrema direita transnacional sabe que o Brasil é um país com enorme potencial – é a oitava maior economia do mundo e um dos cinco maiores países em população e dimensão geográfica – e, por isso, tem um plano: “mantê-lo apenas como um país bem-sucedido, mas nunca permitir que se torne, de fato, uma nação soberana, fraterna e solidária”, apontou. E, para isso, o projeto tem um plano, cujo roteiro já é utilizado em outros países para chegar e se manter no poder.

“Esse plano é conquistar o Senado. Porque a extrema direita só se manteve no poder em países em que ela subjugou a Suprema Corte. É somente intervindo no Judiciário que será possível fazer impeachment de ministros como Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Ou seja, se eles conquistarem maioria no Senado, a ditadura principia”, explicou. 

Ele mencionou ainda, o papel de potências estrangeiras em diversas tentativas de golpe, especialmente os EUA. 

“Por isso, o desafio é compreender que nossa luta pela democracia é também pela soberania”, destacou.

Eleição de senadores 

Diante dessa conjuntura, o historiador ressaltou a necessidade de atenção à eleição de senadores em 2026. 

“Precisamos concentrar nossas energias no Senado, para que tenhamos candidatos competitivos e que sejam eleitos em todos os estados. Não basta reeleger o Lula. Se perdermos o Senado, não teremos uma nação”, orientou. “Pois é preciso lembrar que a extrema direita não tem projeto de nação, só tem retórica do ódio. E isso não paga aluguel, não põe comida no prato”, acrescentou.

Por fim, Rocha concluiu dizendo que é preciso aprofundar a democracia brasileira para além da formalidade. 

“A democracia formal é muito importante, mas nós temos que defender que um outro tipo de democracia é preciso: a democracia enquanto acesso a direitos. E esse tipo o povo brasileiro nunca experimentou de fato”, disse. 

“No dia em que o povo brasileiro souber que a democracia é também o acesso fundamental a um conjunto indispensável de direitos, a extrema direita será apenas uma memória triste do passado”, concluiu.

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