Sábado, 09 Agosto 2025 14:35
ENCONTRO REGIONAL CAIXA

Professora de Filosofia fala sobre a importância da ética das pessoas em sociedade

Terezinha Rios destaca a necessidade de refletirmos sobre a realidade para transformá-la, repensando comportamentos e relações sociais
A professora de Filosofia Terezinha Rios mostrou que falta reflexão das pessoas em torno da realidade cotidiana em que ela vive na sociedade A professora de Filosofia Terezinha Rios mostrou que falta reflexão das pessoas em torno da realidade cotidiana em que ela vive na sociedade Foto: Nando Neves

 

Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio

A professora e filósofa Terezinha Rios, mestre em Filosofia da Educação pela PUC-SP, ministrou uma palestra sobre ética durante o Encontro Regional RJ dos Empregados da Caixa Econômica Federal, realizado neste sábado, 8 de agosto, no Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.

Ela iniciou sua fala citando a famosa máxima do filósofo francês René Descartes: “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum), e ressaltou que “pensamos constantemente, mas nem sempre refletimos sobre o que pensamos”.

“Refletir é repensar. Não gosto da expressão ‘parar para pensar’, pois o ato de pensar é dinâmico. Refletir é olhar de maneira diferente o que vemos e até o que deixamos de ver no cotidiano”, explicou. Ela citou ainda o livro O Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, lembrando que o autor começa a obra com uma frase que desafia: “Se podes olhar, vê, e se podes ver, repara”.

“Quantas vezes passamos pelas coisas, vemos, mas não reparamos?” questionou. “Reparar é ver com atenção, olhar com mais clareza, mais profundidade e abrangência”, acrescentou, citando a indiferença das pessoas com relação aos moradores de rua.

Terezinha reforçou que a ética nos leva a olhar para nossos comportamentos e relações, questionando-os. “No tempo em que estamos vivendo, o mundo está de perna para o ar. É hora de pararmos para reparar e refletirmos sobre o tipo de mundo que queremos”, afirmou.

A História e os Personagens

A filósofa fez uma reflexão sobre o papel dos indivíduos na história, afirmando: “A história não é feita apenas pelos grandes personagens. Somos todos personagens da história e precisamos pensar na história que queremos construir”.

Ela criticou a incoerência dos discursos sobre ética e moral no cenário político atual, mencionando episódios envolvendo parlamentares de extrema-direita no Brasil. “Falam muito de ética, denunciam a corrupção, mas são eles mesmos os corruptos", disse, referindo-se ao recentemente episódio em que alguns deputados interromperam a normalidade democrática no Congresso Nacional, protestando contra a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e defendendo ações antidemocráticas, como os ataques de Donald Trump à soberania brasileira.

Ética e Moral

A palestrante também fez uma distinção importante entre ética e moral. “É fundamental distinguir, mas não separar, os conceitos de ética e moral. Ambas as palavras têm raízes no latim e no grego — ‘moral’, de moris, significa costume, e ‘ética’, de ethos, significa caráter. Contudo, elas se aplicam de maneiras diferentes.”

“Moral é o conjunto de regras que orienta a sociedade. Ela ensina o que devemos ou não fazer. A ética, por sua vez, nos questiona: por que fazemos o que fazemos? A moral pode ser boa, mas apenas se for para o bem comum. Se uma ação beneficia a mim, mas prejudica o outro, não pode ser considerada ética”, explicou.

Terezinha continuou, ressaltando a importância do outro em nossa formação: “É a presença do outro que nos dá a possibilidade de construir nossa identidade. Sem o outro, eu não existo. A moral impõe regras, enquanto a ética traz princípios, como o respeito, a justiça e a solidariedade.”

A acadêmica aprofundou a discussão sobre justiça, dizendo: “Justiça é igualdade na diferença. Não significa dividir igualmente, mas dar mais a quem tem mais necessidade. A verdadeira justiça é a equidade, não a igualdade simples. Ainda não temos o país que gostaríamos de ter, mas se quisermos transformá-lo, devemos começar agora, pois o futuro nunca chega. Quando chega, já não é mais futuro”, completou.

 

 

 

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