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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcelos
Imprensa SeebRio
O professor da UFRGS Cássio Calvete abriu os painel falando dos impactos da Inteligência artificial no mundo do trabalho.
“A IA já é uma realidade na nossa vida, quando chamamos um uber, pedimos algo no .ifood. Tivemos a partir dos anos 90 o advento de fábricas inteligentes, do autoatendimento, reduzindo empregos qualificados e mais bem remunerados com elevação da terceirização, uso de menores aprendizes e trabalho precarizado. Hoje o processo é semelhante. Não é propriamente uma ‘redução dos empregos’. A taxa do desemprego é uma das mais baixas. O que há é a redução de atividades bem remuneradas e a precarização do trabalho”, disse o professor Cássio.
A taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2025 foi de 7%, o menor nível da série histórica em 13 anos.
Valores do neoliberalismo
O palestrante disse que a 4ª revolução tecnológica tem impactado o mundo do trabalho, com as gestões das empresas feitas por IA.
“Por que é tão importante a gente discutir esse tema? A IA está sendo implementada com zero transparência para os trabalhadores.”, destacou.
Cássio explicou que a “gameficação” dissemina valores do neoliberalismo, como meritocracia, capital humano, network, “colaborador “da empresa.
“A gameficação traz a ideia de que ‘’o melhor vai vencer, de que é preciso ‘passar etapas, passar de nível’. Traz o individualismo e valores do neoliberalismo que são fundamentais para o sucesso dos algorítimos e o movimento sindical luta pela luta coletiva e não individual”, explicou.
“Os algorítimos impactam também nos salários e no tempo de trabalho e as duas formas são de apropriação da mais valia”, acrescentou.
Gestão de pessoas da IA
Afirmou ainda que as técnicas de gestão pela IA impõe a “completa conexão do trabalhador,” que é tratado como robô, lembrando da greve dos trabalhadores da Amazon, que utilizaram o lema “não somos robôs”.
“Na questão da jornada de trabalho, a gestão da IA mede a intensidade, ou seja, trabalhar mais no mesmo tempo, extensão e distribuição do trabalho, como trabalhar na madrugada, aos sábados e domingos para aumentar o lucro e a mais valia”, alertou o economista, mostrando que o algorítimo é usado para contratação, promoção, disciplinamento, demissão, acompanhamento de metas e definição da remuneração.
“A falta de transparência é para o trabalhador, ele não sabe o que o leva a poder ter uma remuneração melhor. O motorista do Uber não sabe como foi calculada a sua remuneração no dia e um empregado não compreende o que o leva a ser suspenso ou demitido. Isso dissemina a ideia de que é preciso trabalhar mais para evitar uma suspensão ou demissão”, informa.
“Já a empresa sabe tudo, colhe os dados e sabe como manipular estes dados para lucrar mais, enquanto o trabalhador não sabe nem quais dados são coletados”, disse, explicando que já há softwares que medem o numero de clicadas no mouse, de piscada no olho do empregado, crachás que medem o tempo que o trabalhador conversa com os colegas, que a empresa pode usar para o bem ou mal. Se a conversa for para fazer greve, a empresa vai dar uma suspensão ou demitir o funcionários”, alerta.
Importância da negociação coletiva
Cássio afirmou ainda que a IA serve como instrumento para a empresa discriminar ainda mais. “A sociedade agora tem um agravante. Os movimentos (sociais) conseguiram muitas conquistas da população minoritária, negros, mulheres, homossexuais. A IA mantém a discriminação e até a amplia, na contratação, demissão ou promoção”, destacou.
O acadêmico mostrou em sua apresentação a elevação da vigilância sobre o empregado e a falta de privacidade.
“O trabalhador é vigiado o tempo inteiro, a pessoa perde até a sua naturalidade. Não conversa com o colega porque sabe que está sendo vigiado”, alerta, lembrando que, no teletrabalho ou home office há uma completa conexão, com a atividade profissional invadindo a vida privada e familiar do trabalhador.
“O movimento sindical sempre teve de enfrentar a evolução tecnológica. A cada inovação não é possível demitir todo mundo, mas é preciso qualificar a adaptar o trabalhador à nova tecnologia, através de negociações coletivas”, completou.