Sexta, 20 Junho 2025 16:26
PRÁTICAS ABUSIVAS

Itaú usa programa de linha de cuidados para constranger bancários afastados

GT Saúde denuncia também antiga prática do banco de tentar comprar a estabilidade de funcionários que se encontram adoecidos e em licença médica
O Itaú comete abusos contra funcionários com doenças ocupacionais. Sindicatos cobram providências do banco O Itaú comete abusos contra funcionários com doenças ocupacionais. Sindicatos cobram providências do banco Foto: Divulgação

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio

Com informações da Contraf-CUT 

O Grupo de Trabalho (GT) de Saúde se reuniu com a direção do Itaú na última quarta-feira (18). No encontro, os dirigentes sindicais denunciaram práticas abusivas do banco em relação aos trabalhadores adoecidos. Entre as práticas denunciadas estão a compra de estabilidades e atuação da junta médica até as recentes avaliações médicas realizadas pelo banco.

Em comunicado enviado aos funcionários, o banco afirma que "o não comparecimento à referida avaliação médica pode implicar aplicação de medidas disciplinares, nos termos das políticas internas e legislação vigentes.”

Os sindicatos denunciam que, na prática, a avaliação médica não é uma verdadeira política real de prevenção e eliminação de riscos. Prova disso é o público-alvo dos exames: funcionários na ativa com B91, que já passaram por exame periódico ou de retorno; afastados por B91 (contrato suspenso); trabalhadores com requerimentos em análise e funcionários afastados por decisão judicial.

"As perguntas realizadas durante as avaliações invadem a vida pessoal dos bancários. Há desrespeito aos prazos de validade de exames médicos, com exigência de exames ainda válidos, e até questionamentos sobre o uso de redes sociais", questiona o diretor executivo da Secretaria de Saúde do Sindicato do Rio, Edelson Figueiredo.

Nos casos de LER/DORT, o procedimento exige avaliação ortopédica online, em vez de presencial.

Situação constrangedora

As entidades sindicais recebem também denúncias de situações constrangedoras, como a solicitação para que o bancário deixe a sala sob a justificativa de uma "orientação superior".

Justificativa do banco 

Segundo a medicina ocupacional do Itaú, essas convocações fazem parte do “programa de linha de cuidados” e as perguntas de cunho pessoal visariam melhor compreender o adoecimento psíquico do trabalhador, incentivando cuidados com a saúde física e avaliações psicossociais.

Sindicalistas rebatem

Os representantes do GT de Saúde discordam das alegações do banco.“Entendemos como legalidade os exames do PCMSO previstos na NR-7, que devem abordar os trabalhadores da ativa com foco na prevenção, retorno seguro ao trabalho e no prazo previsto pela legislação. "Questionamos essas medidas disciplinares, já que o trabalhador com contrato suspenso não pode ser avaliado pela empresa. O INSS é o órgão competente para determinar a incapacidade laboral, ficando o contrato suspenso”, afirma Luciana Duarte, coordenadora do GT. 

 “O banco não atua de fato em prevenção: não emite CAT para quem adoece no trabalho; o trabalhador só se afasta com CAT emitida pelos sindicatos. Refutamos ainda a fala dos bancos de que as doenças psíquicas são multifatoriais, pois isso ignora as condições de trabalho a que os bancários são submetidos", disse Valeska Pincovai, cooordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE).  

Para Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT, o programa “linha de cuidados” apenas ignora, contorna e silencia a forma como o trabalho está organizado no Itaú.

O banco informou, após a reunião, que os trabalhadores licenciados foram convocados por erro e que não haverá aplicação de medidas disciplinares. Mesmo assim, o GT alerta que o programa não atua na prevenção real de adoecimentos nem na mudança do modelo de trabalho.

 

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