Sábado, 04 Julho 2020 19:12
ANÁLISE DO DIEESE

Incompetência do governo agrava o desemprego e a perda de renda das famílias brasileiras

Patrícia Pelatieri, técnica do Dieese, apresenta números da crise e diz que categorias mais organizadas devem ajudar na defesa dos mais vulneráveis
Patrícia Pelatieri: “é preciso exigir que o governo dê conta de proteger a vida e também garantir os empregos e a retomada da economia” Patrícia Pelatieri: “é preciso exigir que o governo dê conta de proteger a vida e também garantir os empregos e a retomada da economia” Arquivo/2019

 

Patrícia Pelatieri, economista e coordenadora de pesquisas e tecnologia do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) foi a segunda palestrante do 22º Encontro Interestadual dos Bancários RJ/ES, realizado neste sábado, dia 4 de julho.

Ela falou das incertezas dos efeitos da crise para a economia e o mercado de trabalho, mas confirmou que as previsões são pessimistas. Segundo a economista, os trabalhadores vão pagar caro pela incompetência do governo federal e em função de medidas erradas tomadas pela equipe econômica comandada pelo Ministro Paulo Guedes. Disse que é preocupante o aumento no número dos desalentados - pessoas que desistiram de procurar emprego - a queda na renda média e a elevação da desigualdade no país.

A Covid-19 e o trabalho

A técnica do Dieese apresentou números que mostram a gravidade da crise e seus efeitos sobre a categoria bancária e os demais trabalhadores, a começar pelos indicadores da ocupação relacionados ao período da pandemia do novo coronavírus. Nos bancos há mais de 544 mil trabalhadores em Home Office ou Teletrabalho em bancos, financeiras e seguradoras, em todo o país. No Rio e Espírito Santo são 66.460.  Do total, mais da metade estaria trabalhando menos horas em função da pandemia. Em nível nacional, 275.484 estariam com uma remuneração inferior ao que ganhavam antes da Covid-19 e no Rio e Espírito Santo, este número totaliza 47.424 empregados.

Média dos reajustes

Mesmo com a pandemia, a maioria das categorias (42,1%) que já fecharam acordo conquistaram reajustes salariais acima da inflação (INPC). Já 28,9% conseguiram apenas a reposição inflacionária, mesmo índice daqueles trabalhadores que tiveram reajuste abaixo da inflação.

A variação média dos aumentos salariais foi baixa: 0,11%. Os números indicam, na média, o que será possível ser conquistado pelos bancários, entretanto, é bom lembrar que o nível de mobilização repercute no resultado das negociações com os bancos e o sistema financeiro é o setor que mais lucra no Brasil há 30 ou 40 anos.

Os lucros dos bancos

O setor bancário continua sendo, de longe, o mais lucrativo do país.  Todas as grandes instituições financeiras tiveram crescimento na lucratividade, mesmo diante da crise econômica que fez as indústrias, o comércio e o setor de serviços amargarem prejuízos e até falências. 

Em 2019 o Bradesco teve o maior crescimento nos lucros entre os privados: 20%, seguido do Santander (17,4%) e Itaú (10,2%).  A Caixa Econômica Federal apresentou uma elevação extraordinária em seu resultado: 103,4% e, no Banco do Brasil o crescimento foi de 41,2% em relação aos lucros de 2018. Os resultados exitosos apresentados pelos dois maiores bancos públicos certamente aumentam o apetite do setor privado e a sanha do Ministro Paulo Guedes de privatizar a Caixa e principalmente o BB.

Maiores juros do planeta

Apesar da manutenção média nos níveis de inadimplência, os juros praticados pelas instituições financeiras no Brasil para pessoa física e jurídica ainda são absurdamente elevados se comparados ao do resto do mundo, especialmente diante da crise da pandemia. Enquanto que na Europa, EUA e Japão as taxas de juros para o cartões e para o crédito chegam a zero e até negativas a fim de atrair o consumo e fazer a economia circular, em nosso país, que já pratica os maiores juros do planeta, há bancos que elevaram os juros em até 70% em plena crise do novo coronavírus.

No cartão de crédito é cobrado em média 178,48% de juros ao ano. Já no cheque especial 119% e no crédito pessoal 86,37%.

A boa vida dos bancos se dá também na cobrança de tarifas e prestação de serviços. O Itaú foi o banco que mais faturou com tarifas no primeiro trimestre de 2020 comparado com o mesmo período do ano passado: 9,8%. Em seguida vem o Bradesco (4,9%) e o Banco do Brasil (4%). A Caixa ganhou 11,4% a menos com serviços e taxas e o Santander também teve 1% a menos.

Patrícia Pelatieri disse ainda que, ao contrário do que o governo tenta fazer crer, não há dicotomia entre proteger a vida e dar conta dos empregos e da retomada do crescimento econômico.

“É preciso exigir que governo dê conta de tudo, de proteger a vida e a economia. O momento é de cobrar o fortalecimento dos investimentos do  Estado e das instituições, como o SUS (Sistema único de Saúde), a rede de proteção social e trabalhista, mas o governo brasileiro está fazendo justamente o contrário”, disse.

A técnica do Dieese destacou a importância da participação da categoria bancária na vanguarda da mobilização contra o processo acelerado de  precariedade do trabalho no Brasil.

“Compete às categorias mais organizadas e empregadas no mercado formal estarem à frente na defesa da população mais vulnerável. É preciso também um debate sobre a reforma tributária e o papel do sistema financeiro nestas questões”, acrescenta. A palestrante encerrou sua participação lembrando que a cesta básica tem subido e custou em média no mês de abril R$ 558,81, ou seja, um valor muito próximo do auxílio emergencial concedido pelo governo. É bom destacar também que Bolsonaro e Guedes queriam pagar o valor de R$ 200, mas foram derrotados pela oposição no Congresso Nacional. Para os próximos dois meses, o governo já anunciou que o valor deverá ser de R$ 300 em cada mês.

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